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Helena Salgueiro: “A Performance é um meio de criar um discurso feminista”

por
mar­cos montiel

Performer, poetisa, cenógrafa … para Helena Salgueiro é impossível limitar-se a umha única faceta. E isso acaba por se refletir no seu trabalho. Conversamos com ela sobre Ferro Federici, peça híbrida em que mistura poesia, performance e dança para falar sobre a opressom das mulheres através do trabalho de reproduçom.

De que é que nos fala Ferro Federici?
Fala so­bre a mu­lher e o seu tra­ba­lho re­pro­du­tivo nom re­mu­ne­rado. Apoiei-me nas ideias que Silvia Federici ex­pom em vá­rios de seus tex­tos, e prin­ci­pal­mente no seu li­vro Calibã e a bruxa.

Como foi fa­zer umha peça te­a­tral a par­tir de en­saios teó­ri­cos?
Foi com­pli­cado por­que ela usa con­cei­tos mar­xis­tas, de eco­no­mia, de per­for­ma­ti­vi­dade do sexo …  usa todo um ima­gi­ná­rio de con­cei­tos que é di­fí­cil de tra­zer para umha obra ar­tís­tica. O que fi­gem foi mo­ver esse ima­gi­ná­rio para o sim­bo­lismo, para um campo mais metafórico.

Em Ferro Federici in­ter­ve­nhem a dança, a in­ter­pre­ta­çom, a po­e­sia… qual foi o pro­cesso cri­a­tivo?
Algumhas pes­soas par­tem de umha ideia ou de um texto. Eu pre­firo é tra­ba­lhar a par­tir de umha ima­gem. Aquilo que eu sa­bia era que que­ria fa­lar so­bre mu­lhe­res, a sua de­mo­ni­za­çom, tra­ba­lho e bru­xas de umha pers­pe­tiva pós-mo­derna. Mas o ponto de par­tida foi umha ima­gem, um flash . A par­tir daí, de­sen­volve-se tudo. 

Em que con­siste a tri­lo­gia da qual Ferro Federici fai parte?
Eu chamo‑a de tri­lo­gia, mas para mim está já a per­der essa ca­rac­te­rís­tica. O ponto em co­mum en­tre as pe­ças é que fa­lam so­bre mu­lher e tra­ba­lho. As duas pri­mei­ras ti­nham umha me­to­do­lo­gia de tra­ba­lho di­fe­rente da úl­tima. Umha ver­sava so­bre o tra­ba­lho ru­ral e a ou­tra, so­bre o tra­ba­lho re­la­ci­o­nado com o mar. Chamei-as de per­for­man­ces et­no­grá­fi­cas, por­que fi­gem um tra­ba­lho de campo: con­ver­sei com mu­lhe­res re­ais e ins­pi­rei-me no tra­ba­lho de­las do ponto de vista fí­sico para fa­zer as mi­nhas coreografias.

Artistas fe­mi­nis­tas de di­fe­ren­tes dis­ci­pli­nas en­con­trá­rom na per­for­mance um modo de ex­pres­som. De acordo com a tua ex­pe­ri­ên­cia, achas que existe umha re­la­çom par­ti­cu­lar en­tre per­for­mance e fe­mi­nismo?
Claro. As pi­o­nei­ras da per­for­mance som mu­lhe­res. Pode ha­ver di­fe­ren­tes ver­ten­tes, mas a chave é usar o corpo como fer­ra­menta prin­ci­pal, como ins­tru­mento per­cor­rido po­los dis­cur­sos po­lí­ti­cos. Eu sinto que, como mu­lher, é umha forma de me for­ta­le­cer, de criar um dis­curso fe­mi­nista. A arte per­for­má­tica presta-se a isso, tem umha lin­gua­gem e umha forma de se apro­xi­mar muito crua, muito corpórea. 

Nessa li­nha, como a per­for­mance com­ple­menta o tra­ba­lho de Federici?
Acho que é sem­pre in­te­res­sante tra­du­zir a te­o­ria em prá­tica de umha forma ar­tís­tica, é umha forma de en­ten­der que o co­nhe­ci­mento às ve­zes tem de pas­sar polo corpo. E quero di­zer tanto o corpo do ar­tista quanto o do re­ce­tor. Esse corpo está a re­ce­ber a men­sa­gem de umha ma­neira di­fe­rente da forma como a pode re­ce­ber a ler um li­vro, som ti­pos di­fe­ren­tes de conhecimento.

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