Iago Vilar (A Arnoia, 1980) cria gado em extensivo em Meire (Allariz) há seis anos. Tem setenta cabeças de gado e cerca de 60 hectares de pastagens, a maior parte em cessom, e aproximadamente metade delas “declaráveis na PAC”. Iago é o único gadeiro da paróquia.
Há quase vinte anos trabalhava como informático em Granada. Foi ali que entrou em contacto com umha cooperativa agrícola de fruticultura, “aquilo era um misto entre agricultura ecológica e movimento social”. Regressou ao país com a ideia de lançar um projeto semelhante. Passou um ano em Vedra a trabalhar como voluntário numha exploraçom de agricultura ecológica sendo que depois montou umha cooperativa em Vilamarín. “Nom correu bem”. Estando ali entrou em contacto com a gadaria e tornou-se sócio de outra cooperativa. Trouxo para Meire duas vitelas que permanecérom na exploraçom de uns amigos enquanto ele procurava terras.
“Aquelas vitela fôrom a nossa semente, pedim umha subvençom de incorporaçom e arrancamos. As cousas nom som fáceis, mas o modelo funciona. Agora estamos a pensar em pedir umha subvençom para incorporar o meu casal”, diz Iago enquanto enrola um cigarro no pátio da casa que recuperárom em Meire. É quinta-feira, o calor assola Ourense. Os animais dormem ao relento. Ameaça tormenta e o Iago anda de olhos postos no gado. A leira é pequena, umha hectare. Há muita seca. As vacas mugem quando o vem chegar. Já quase esgótarom o alimento num terço da leira delimitada polos cabos do pastor. “Pensam que as vou mover, mas lá vam estar por mais um dia”. Um trator com um reboque com água completa a cena. Na aldeia de Fondevila, junto à leira, umha vizinha cumprimenta o Iago. As vacas estám de regresso a Meire. As pessoas já se habituárom à forma de trabalhar do Iago, um outro modelo, a gadaria regenerativa.
É quinta-feira, o calor assola Ourense. Os animais dormem ao relento. Ameaça tormenta e o Iago anda de olhos postos no gado. A leira é pequena, umha hectare. Há muita seca. As vacas mugem quando o vem chegar
Som vacas cachenas, um tipo de vaca que se adapta a solos pobres como os desta parte do país onde o campo está abandonado há décadas. Esta era umha regiom devotada ao coiro, aos sapateiros, havia muita vaca, mas tudo se perdeu há anos, conta o Iago. O modelo dele é a produçom em extensivo, sem galpons, com abate no matadoiro de Ourense e um talhante também em Ourense que trata do corte e da embalagem sendo que é o próprio Iago a fazer a venda ao domicílio. Mata entre 15 e 20 vitelas por ano criados à base de leite e pastagem. Tem clientes fixos e pode controlar o preço. Também vende fêmeas, que som mais pequenas, para criaçom.
Os preços dos insumos ‑o gasóleo e o silo de erva e a erva seca- subírom. O Iago nom tem base territorial avondo e deve comprar forragem, 40 % do alimento anual para o gado. No silo, a suba representou 3 euros por rolo, e na erva seca ‑há pouca, nom choveu- a suba foi maior. Som mais 1 000 euros por ano. Gasóleo consome o necessário para levar água e alimento à svacas sendo que às vezes utiliza algum dos dous tratores, pequenos, para roças.
No silo, a suba representou 3 euros por rolo, e an erva seca a suba foi maior. Som mais 1.000 euros por ano. Gasóleo consome o necessário para levar água e alimento às vacas sendo que às vezes utiliza algum dos dous tratores, pequenos, para roças
A gadaria regenerativa tenta recuperar terras. “A ferramenta mais importante que temos é o gado. Em vez de fechar um sítio grande, o que fazemos é dividir o prado em leiras pequenas. Metemos umha alta carga gadeira em muito pouco espaço. As vacas estám dous dias, ou três como máximo. A partir do terceiro dia a erva ressurge. Queremos que os animais sejam menos seletivos e aproveitem tudo. No mesmo espaço, divididos em parcelas, pastam durante mais dias e fam melhor uso do pasto, e a terra regenera-se melhor porque descansa mais”, explica Iago. “No inverno, mantemo-las no monte e é aí que lhes damos a forragem. O trabalho delas é pisarem o terreno, roçá-lo”. Onde as vacas entram, a erva regressa. O Iago trabalha cerca de 30 hectares de monte.
“Quando começámos as pessoas achavam que estávamos malucos. Avisavam dos partos. Vai-che morrer, diziam. Aqui nom se fazia isso de os ter no monte. Antes as vacas estavam era nas casas e os partos atendiam-se com muitos cuidados, mas nós nunca tivemos de atender um parto nem tivem de chamar a um veterinários. É umha das características que tem esta raça. Tenhem partos singelos. De facto, eu nunca vim nascer um. Chego à manhá e encontro a vitela”, conta Iago.
Futuros
A gadaria regenerativa é um modelo em progressom. O seguinte passo, para o Iago, é reduzir a dependência da forragem, ter pastagens para aguentar no inverno ou no verao mais duro. Tenta ainda reduzir outros insumos. “Para os plásticos nom tenho umha alternativa agora mesmo. Fazer umha nave para armazenamento seria mais caro. Para o gasóleo… veremos o que se passa com os preços e a escasseza do petróleo. Sem combustível, é claro que a exploraçom teria de ser mais pequena”. Eis o futuro, garante.
Iago acha que o modelo de gadaria intensiva, que causa tantos estragos na Límia, na comarca vizinha, “cairá polo seu próprio peso, mas procurarám outros lugares”. E di que este modelo de gadaria intensiva “ruinou o rural, porque onde estám eles, nom hai outra cousa”.
“Muitos fizérom dinheiro com isso, mas agora pagamos todos as consequências. Com umha visom de país, é um suicídio. É um É um modelo para a produçom, para a indústria, e quem controla a indústria, nom som os labregos, os labregos som operários de umha indústria que como tal devia ser instalada em parques industriais, com estaçons de tratamento”.
Mas administraçom e ajuda institucional favorecem esse modelo industrial. Na PAC, por exemplo, explica o gadeiro, tudo vai de acordo com a superfície e os direitos gerados no início. “Nós, pequenos, estamos em desvantagem, é muito difícil aumentar os direitos. Aqui ninguém pode assinar um contrato de arrendamento, nom conseguia certificar que há terras arrendadas e que nom há títulos de propriedade. Trato de 800 leiras e nom consigo fazer ata notarial de cada umha. A PAC foi pensada para favorecer a produçom intensiva e a exportaçom, e depois está aquela parte que nom passa de propagandística que di respeito ao ecológico”.
Para o Iago, a política agrária da Junta da Galiza é “umha política de abandono do território”, para que “caia nas maos das indústrias”. Eles nom querem que haja pessoas no rural a trabalhar o território, avisa. “Se nom há pessoas, ninguém protesta, entóm 30 ou 40 % da área cultivada desapareceu nas últimas décadas. Onde havia prados, há carvalheiras.
O principal problema é o abandono, constata. “A política agrária do país tem de se basear nas pequenas exploraçons. Nom há capacidade de produzir alimentos para o gado em intensivo. Estamos a viver numha irrealidade porque tudo depende da exportaçom de matérias-primas”, sublinha. E argumenta que agora umha família que queira viver da gadaria precisa de mais de 30 cabeças; “antes, nom há nem meio século, com 5 ou 6 vacas qualquer família estudava os filhos”.