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Iago Vilar, gadeiro: “A política agrária do país deve ser baseada em pequenas propriedades”

por
erik do­baño

Iago Vilar (A Arnoia, 1980) cria gado em extensivo em Meire (Allariz) há seis anos. Tem setenta cabeças de gado e cerca de 60 hectares de pastagens, a maior parte em cessom, e aproximadamente metade delas “declaráveis na PAC”. Iago é o único gadeiro da paróquia.

Há quase vinte anos tra­ba­lhava como in­for­má­tico em Granada. Foi ali que en­trou em con­tacto com umha co­o­pe­ra­tiva agrí­cola de fru­ti­cul­tura, “aquilo era um misto en­tre agri­cul­tura eco­ló­gica e mo­vi­mento so­cial”. Regressou ao país com a ideia de lan­çar um pro­jeto se­me­lhante. Passou um ano em Vedra a tra­ba­lhar como vo­lun­tá­rio numha ex­plo­ra­çom de agri­cul­tura eco­ló­gica sendo que de­pois mon­tou umha co­o­pe­ra­tiva em Vilamarín. “Nom cor­reu bem”. Estando ali en­trou em con­tacto com a ga­da­ria e tor­nou-se só­cio de ou­tra co­o­pe­ra­tiva. Trouxo para Meire duas vi­te­las que per­ma­ne­cé­rom na ex­plo­ra­çom de uns ami­gos en­quanto ele pro­cu­rava terras.

Aquelas vi­tela fô­rom a nossa se­mente, pe­dim umha sub­ven­çom de in­cor­po­ra­çom e ar­ran­ca­mos. As cou­sas nom som fá­ceis, mas o mo­delo fun­ci­ona. Agora es­ta­mos a pen­sar em pe­dir umha sub­ven­çom para in­cor­po­rar o meu ca­sal”, diz Iago en­quanto en­rola um ci­garro no pá­tio da casa que re­cu­pe­rá­rom em Meire. É quinta-feira, o ca­lor as­sola Ourense. Os ani­mais dor­mem ao re­lento. Ameaça tor­menta e o Iago anda de olhos pos­tos no gado. A leira é pe­quena, umha hec­tare. Há muita seca. As va­cas mu­gem quando o vem che­gar. Já quase es­gó­ta­rom o ali­mento num terço da leira de­li­mi­tada po­los ca­bos do pas­tor. “Pensam que as vou mo­ver, mas lá vam es­tar por mais um dia”. Um tra­tor com um re­bo­que com água com­pleta a cena. Na al­deia de Fondevila, junto à leira, umha vi­zi­nha cum­pri­menta o Iago. As va­cas es­tám de re­gresso a Meire. As pes­soas já se ha­bi­tuá­rom à forma de tra­ba­lhar do Iago, um ou­tro mo­delo, a ga­da­ria regenerativa.

É quinta-feira, o ca­lor as­sola Ourense. Os ani­mais dor­mem ao re­lento. Ameaça tor­menta e o Iago anda de olhos pos­tos no gado. A leira é pe­quena, umha hec­tare. Há muita seca. As va­cas mu­gem quando o vem chegar

Som va­cas ca­che­nas, um tipo de vaca que se adapta a so­los po­bres como os desta parte do país onde o campo está aban­do­nado há dé­ca­das. Esta era umha re­giom de­vo­tada ao coiro, aos sa­pa­tei­ros, ha­via muita vaca, mas tudo se per­deu há anos, conta  o Iago. O mo­delo dele é a pro­du­çom em ex­ten­sivo, sem gal­pons, com abate no ma­ta­doiro de Ourense e um ta­lhante tam­bém em Ourense que trata do corte e da em­ba­la­gem sendo que é o pró­prio Iago a fa­zer a venda ao do­mi­cí­lio. Mata en­tre 15 e 20 vi­te­las por ano cri­a­dos à base de leite e pas­ta­gem. Tem cli­en­tes fi­xos e pode con­tro­lar o preço. Também vende fê­meas, que som mais pe­que­nas, para criaçom. 

Os pre­ços dos in­su­mos ‑o ga­só­leo e o silo de erva e a erva seca- su­bí­rom. O Iago nom tem base ter­ri­to­rial avondo e deve com­prar for­ra­gem, 40 % do ali­mento anual para o gado. No silo, a suba re­pre­sen­tou 3 eu­ros por rolo, e na erva seca ‑há pouca, nom cho­veu- a suba foi maior. Som mais 1 000 eu­ros por ano. Gasóleo con­some o ne­ces­sá­rio para le­var água e ali­mento à sva­cas sendo que às ve­zes uti­liza al­gum dos dous tra­to­res, pe­que­nos, para roças.

No silo, a suba re­pre­sen­tou 3 eu­ros por rolo, e an erva seca a suba foi maior. Som mais 1.000 eu­ros por ano. Gasóleo con­some o ne­ces­sá­rio para le­var água e ali­mento às va­cas sendo que às ve­zes uti­liza al­gum dos dous tra­to­res, pe­que­nos, para roças

A ga­da­ria re­ge­ne­ra­tiva tenta re­cu­pe­rar ter­ras. “A fer­ra­menta mais im­por­tante que te­mos é o gado. Em vez de fe­char um sí­tio grande, o que fa­ze­mos é di­vi­dir o prado em lei­ras pe­que­nas. Metemos umha alta carga ga­deira em muito pouco es­paço. As va­cas es­tám dous dias, ou três como má­ximo. A par­tir do ter­ceiro dia a erva res­surge. Queremos que os ani­mais se­jam me­nos se­le­ti­vos e apro­vei­tem tudo. No mesmo es­paço, di­vi­di­dos em par­ce­las, pas­tam du­rante mais dias e fam me­lhor uso do pasto, e a terra re­ge­nera-se me­lhor por­que des­cansa mais”, ex­plica Iago. “No in­verno, man­temo-las no monte e é aí que lhes da­mos a for­ra­gem. O tra­ba­lho de­las é pi­sa­rem o ter­reno, roçá-lo”. Onde as va­cas en­tram, a erva re­gressa. O Iago tra­ba­lha cerca de 30 hec­ta­res de monte.

Quando co­me­çá­mos as pes­soas acha­vam que es­tá­va­mos ma­lu­cos. Avisavam dos par­tos. Vai-che mor­rer, di­ziam. Aqui nom se fa­zia isso de os ter no monte. Antes as va­cas es­ta­vam era nas ca­sas e os par­tos aten­diam-se com mui­tos cui­da­dos, mas nós nunca ti­ve­mos de aten­der um parto nem ti­vem de cha­mar a um ve­te­ri­ná­rios. É umha das ca­rac­te­rís­ti­cas que tem esta raça. Tenhem par­tos sin­ge­los. De facto, eu nunca vim nas­cer um. Chego à ma­nhá e en­con­tro a vi­tela”, conta Iago.

Futuros

A ga­da­ria re­ge­ne­ra­tiva é um mo­delo em pro­gres­som. O se­guinte passo, para o Iago, é re­du­zir a de­pen­dên­cia da for­ra­gem, ter pas­ta­gens para aguen­tar no in­verno ou no ve­rao mais duro. Tenta ainda re­du­zir ou­tros in­su­mos. “Para os plás­ti­cos nom te­nho umha al­ter­na­tiva agora mesmo. Fazer umha nave para ar­ma­ze­na­mento se­ria mais caro. Para o ga­só­leo… ve­re­mos o que se passa com os pre­ços e a es­cas­seza do pe­tró­leo. Sem com­bus­tí­vel, é claro que a ex­plo­ra­çom te­ria de ser mais pe­quena”. Eis o fu­turo, garante.

Iago acha que o mo­delo de ga­da­ria in­ten­siva, que causa tan­tos es­tra­gos na Límia, na co­marca vi­zi­nha, “cairá polo seu pró­prio peso, mas pro­cu­ra­rám ou­tros lu­ga­res”. E di que este mo­delo de ga­da­ria in­ten­siva “rui­nou o ru­ral, por­que onde es­tám eles, nom hai ou­tra cousa”.

Muitos fi­zé­rom di­nheiro com isso, mas agora pa­ga­mos to­dos as con­sequên­cias. Com umha vi­som de país, é um sui­cí­dio. É um É um mo­delo para a pro­du­çom, para a in­dús­tria, e quem con­trola a in­dús­tria, nom som os la­bre­gos, os la­bre­gos som ope­rá­rios de umha in­dús­tria que como tal de­via ser ins­ta­lada em par­ques in­dus­tri­ais, com es­ta­çons de tratamento”.

erik do­baño

Mas ad­mi­nis­tra­çom e ajuda ins­ti­tu­ci­o­nal fa­vo­re­cem esse mo­delo in­dus­trial. Na PAC, por exem­plo, ex­plica o ga­deiro, tudo vai de acordo com a su­per­fí­cie e os di­rei­tos ge­ra­dos no iní­cio. “Nós, pe­que­nos, es­ta­mos em des­van­ta­gem, é muito di­fí­cil au­men­tar os di­rei­tos. Aqui nin­guém pode as­si­nar um con­trato de ar­ren­da­mento, nom con­se­guia cer­ti­fi­car que há ter­ras ar­ren­da­das e que nom há tí­tu­los de pro­pri­e­dade. Trato de 800 lei­ras e nom con­sigo fa­zer ata no­ta­rial de cada umha. A PAC foi pen­sada para fa­vo­re­cer a pro­du­çom in­ten­siva e a ex­por­ta­çom, e de­pois está aquela parte que nom passa de pro­pa­gan­dís­tica que di res­peito ao ecológico”.

Para o Iago, a po­lí­tica agrá­ria da Junta da Galiza é “umha po­lí­tica de aban­dono do ter­ri­tó­rio”, para que “caia nas maos das in­dús­trias”. Eles nom que­rem que haja pes­soas no ru­ral a tra­ba­lhar o ter­ri­tó­rio, avisa. “Se nom há pes­soas, nin­guém pro­testa, en­tóm 30 ou 40 % da área cul­ti­vada de­sa­pa­re­ceu nas úl­ti­mas dé­ca­das. Onde ha­via pra­dos, há carvalheiras.

O prin­ci­pal pro­blema é o aban­dono, cons­tata. “A po­lí­tica agrá­ria do país tem de se ba­sear nas pe­que­nas ex­plo­ra­çons. Nom há ca­pa­ci­dade de pro­du­zir ali­men­tos para o gado em in­ten­sivo. Estamos a vi­ver numha ir­re­a­li­dade por­que tudo de­pende da ex­por­ta­çom de ma­té­rias-pri­mas”, su­bli­nha. E ar­gu­menta que agora umha fa­mí­lia que queira vi­ver da ga­da­ria pre­cisa de mais de 30 ca­be­ças; “an­tes, nom há nem meio sé­culo, com 5 ou 6 va­cas qual­quer fa­mí­lia es­tu­dava os filhos”.

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