Dúzias de pessoas congregárom-se no passado dezembro nos contrafortes da serra dos Ancares para recordar Fuco Gómez, o polígrafo e independentista que rompeu tantos moldes na Galiza da primeira metade do século XX. Património dos Ancares e Rente o Couce pretendem inaugurar com esta rota umha série de iniciativas para dar a esta figura o reconhecimento que merece como bezerrense e galego ilustre.
No passado ano de 2020 fijo 125 anos que Francisco Gómez Gómez, popularmente conhecido como ‘Fuco Gómez’ nasceu em Montanha de Agra, umha aldeia da paróquia bezerrense de Ouselhe. A data passou totalmente ignorada em ámbitos académicos, na política institucional e também nos meios maioritários. Ainda em vida, e muitas décadas depois da sua morte, a figura deste escritor autodidata, arredista fervoroso e promotor de múltiplas iniciativas na Galiza de aquém e além mar, carregou com a laje do silêncio. O seu ideário, um independentismo explícito e beligerante, explica em boa parte tal atitude.
Seja como for, certos esforços dispersos estám a ganhar para Fuco um certo espaço na memória galega. Há mais de duas décadas, a Confederaçom Intersindical Galega e moradores de Ouselhe ergueram um monólito na sua homenagem acarom da igreja paroquial. Foi naquela década de 90 que os primeiros trabalhos de investigaçom sobre o bezerrense, obra de Bao Abelleira, vonhérom a lume; com o tempo, historiadores como Xurxo Martínez ou Uxio Breogán Diéguez dedicaram os seus esforços ao fundador do Comité Revolucionário Arredista Galego. Obviamente, também o independentismo contemporáneo pujo o seu foco sobre quem considera um grande precursor: em 2013, a Assembleia da Mocidade Independentista centrara nele o Dia da Galiza Combatente com a legenda ‘arredistas sempre’. Nos meios do movimento, particularmente o portal Galiza Livre, a reproduçom de textos do CRAG ou da revista ‘Pátria galega’ foi umha constante desde os seus inícios.
Associativismo de base chama a vindicar Fuco
Agora, pola vez primeira, é o associativismo de base ancarês que promove um plano mais ambicioso para assentar a memória de Fuco Gómez nos espaços da sua infáncia e juventude. Os coletivos Património dos Ancares e Rente ao Couce somárom as suas forças para desenvolver umha campanha sustentada no tempo que faga presente a sua figura.
O associativismo de base ancarês promove um plano ambicioso para assentar a memória de Fuco Gómez nos espaços da sua infáncia e juventude
A primeira das atividades decorreu a 28 de dezembro. Por volta de 50 pessoas desafiárom a vaga de frio para se achegarem, de diferentes concelhos da zona, a umha caminhada lúdica e formativa que inaugura umha rota pola paisagem natal do militante galego. A pretensom das associaçons organizadoras é que, sem muita demora, esta rota esteja sinalizada como mais um recurso de divulgaçom da herança cultural da comarca. Trata-se de doze quilómetros de marcha, acessíveis para qualquer caminhante, que partem do monólito a Fuco em Ouselhe e dirigem-se cara Montanha de Agra, onde ainda se mantém, em pé e habitada, a casa onde nascera em 1895.
Na primeira hora manhá, foi Xavier Moure, do Património dos Ancares, quem glossou a figura de quem fora mais um moço bezerrense criado nas duras condiçons da Galiza da I Restauraçom borbónica: num quadro social e económico quase feudal e dominado por um poderoso caciquismo, em que a identidade galega era completamente negada. Na altura, fugindo da adversidade, Fuco e um vizinho, apenas saídos da adolescência, marchavam caminhando a Bilbau, onde embarcariam rumo a Cuba. Sem ainda o saber, Fuco Gómez iria encontrar-se na ilha com coletivos de defesa da Galiza e da comunidade emigrante que seriam decisivos na sua determinaçom de ‘independência ou morte.’
Após um pequeno discurso, representantes das organizaçons depositárom no monólito um ramo de flores, e repartírom entre as pessoas assistentes umha pequena brochura que sintetizava as achegas mais salientáveis de Fuco à política, ao associativismo e à cultura galega.
Silêncio institucional
Até agora, e fora desse humilde monólito erguido por vontade popular, Fuco Gómez carece de qualquer lugar da memória, facto especialmente gritante na sua comarca natal. Nem umha rua, nem umha praça, nem umha placa, fam presente umha figura que trabalhou de maneira incansável pola melhoria dos seus coterráneos na ilha de Cuba, e também pola dignificaçom de galegos e galegas através da defesa dos seus direitos políticos.
Além de que o seu ideário, como vimos de expor, fai dele uma figura dificilmente digerível polos partidos espanhóis e mui complicado de maquilhar polos intelectuais do Regime, o certo é que a atitude de Fuco e o CRAG face ao nacionalismo institucional motiva ainda a incomodidade de muitos. Na década de 1930, com a esperança de que o contexto republicano favoreça um salto qualitativo da causa galega, Fuco retorna à nossa Terra, com certos recursos económicos e organizativos, para pôr em andamento um plano insurrecional. Ele enxergava a proclamaçom da República galega em diferentes pontos do país, e para tal projeto contava com a colaboraçom do conjunto do galeguismo. A recusa do PG à mínima colaboraçom, e até a condenaçom ao ostracismo de Fuco, leva‑o a umha funda deceçom. Para complicar mais a situaçom, as autoridades republicanas emitem umha orde de detençom contra bezerrense, por difundir proclamas arredistas e insurrecionais, que o obrigam a fugir a Portugal, segundo ele mesmo narrou nas páginas d’A Fouce.
Novas iniciativas
Do Património dos Ancares e Rente ao Couce recordam que, para além do seu perfil político, Fuco foi ‘um ensaísta, um escritor de contos e poemas, um lexicógrafo, o autor do primeiro manual para a aprendizagem de galego, um dinamizador dos colectivos emigrantes, um jornalista, e um criador dumha nova simbologia da Galiza, incluindo umha bandeira.’ Esta condiçom multifacetada, recordam os coletivos ancareses, basta por si só para o situar num lugar de destaque. ‘E mais, se considerarmos que partiu de ser um analfabeto que tivo que formar-se de adulto e praticamente em solitário.’
É por isso que de ambos os coletivos preparam novas iniciativas, por enquanto ralentizadas devido à pandemia e às muitas limitaçons que esta impom. Pensam na organizaçom dumha pequena exposiçom e umha palestra com materiais bibliográficos e políticos relacionados com Fuco Gómez. Além disso, e graças à colaboraçom desinteressada de dous artistas russos radicados em Návia, Alisa Smirnova e Pavel Yakushev, pretendem a instalaçom dum busto metálico de Fuco num dos edifícios de Bezerreá. Para isso ainda aguardam por licença municipal, pois a lentidom ou passividade institucional continuam a pejar a divulgaçom do fundador do CRAG 49 anos depois da sua morte.