Uns 33.000 hectares calcinados, 250.000 animais mortos, parques naturais de floresta primigénia como o Invernadoiro, Encinha da Lastra e o Maciço Central fôrom reduzidos à metade. Ademais, 1500 vizinhos fôrom despejados numha semana e mais de vinte aldeias reduzidas a cinza. Os incêndios do Courel e Valdeorras passam à história como os incêndios com mais hectares queimadas desde que existem registos. Este é o balanço da primeira semana de incêndios do verao na Galiza que demonstra o fracasso do PLADIGA, o plano de prevençom e defesa contra os incêndios florestais da Galiza, revisado neste ano e com umha dotaçom de 180 milhons de euros dedicados à prevençom e extinçom dos incêndios que cada verao assaltam o país. Meio rural tinha previsto como tope no plano que ardessem em todo o ano 16.200 hectares. Só em dez dias ardeu o duplo.
Os vizinhos da Associaçom da Volta Grande do Courel assinalam o sós que estivérom com a chegada do lume. “Quando começou, éramos dez voluntários e só um agente, a moto-bomba e o bulldozer chegárom muitas horas depois”, lembra Pilar, que explica como entre os vizinhos se organizárom para atalhar a entrada do lume em aldeias como Frojám. Séchu Sende, também da Associaçom da Volta Grande, explica a descoordenaçom da que fôrom testemunhas o centro de operaçons onde se organizava o operativo para atalhar os incêndios do Courel: “os técnicos nom tinham mapas do terreo nem GPS operativos. Vivemos situaçons surrealistas: os vizinhos debuxavam no chao mapas da zona e explicavam por onde passavam as pistas e onde havia corta-lumes. Sabemos de um condutor de bulldozer que estivo três dias na montanha sem dormir e brigadas que estavam apagando o lume e que levavam mais de 9 horas seguidas sem comer nem beber”.
Em 50 anos queimou-se o 50% de superfície florestal da Galiza
Evaristo Méndez, também vizinho do Courel estivo quatro dias sem dormir ajudando as brigadas na extinçom e explica indignado o rápido que ardeu a aldeia do Vilar: “em duas ocasions tínhamos controlado o lume mas acabou-se-nos a água a três metros”. Méndez, que fora presidente da comunidade de montes, conta que nunca viu um incêndio dessas características: “a velocidade que levavam as lapas era impressionante. Em cinco minutos atravessaram o rio e umha pista, era imparável”. Indica que muitas aldeias salvárom-se graças ao esforço das vizinhas: “a mim o que me indigna é ir ao posto de mando e ver a falta de coordenaçom que vim. Os engenheiros nom tinham nem ideia dos caminhos nem de onde estavam os corta-lumes. E como havia tantos focos as moto-bombas iam e vinham. Durante muito tempo estivemos os vizinhos sós apagando o lume, que em teoria nom tínhamos que estar ali porque fôramos despejados”.
Nos últimos anos a Conselharia de Meio Rural vem destinando 180 milhons de euros à luita contra os incêndios. É a comunidade do Estado que mais dinheiro destina à extinçom. Desta partida só 20% é de prevençom. A proporçom inversa, 20% extinçom e 80 % prevençom, é a que recomendam os expertos para levar a cabo umha boa gestom florestal. Davide Rodríguez ex-parlamentário da Marea e e ex-alcalde de Manzaneda, leva quase vinte anos trabalhando de bombeiro florestal e estivo estes dias apagando incêndios: “Estamos diante de umha mudança climática, os incêndios comportam-se de umha maneira totalmente diferente aos de há dous ou três anos e tenhem umha virulência tremenda. Vam mais rápido que as pessoas. Se tés um monte cheio de maleza e replantas com pinheiros, tés umha caixa de mistos”. A Junta é plenamente consciente mas prefere seguir atuando assim: “quando eu era parlamentário, alertei varias vezes da chegada dos incêndios como os de agora, de sexta geraçom onde o único que podes fazer é salvar vidas e casas. Os parlamentários do PP brincavam dizendo se cria que a Galiza era Califórnia. Agora som eles quem aplicam esta terminologia para escusar-se da ineficácia das equipas de extinçom perante deste tipo de casos”, sentencia Rodríguez.
Pese a ser a comunidade que mais gasta em extinçom, os últimos incêndios demonstram que nom existe gestom florestal na Galiza
Quando no 15 de julho começavam os incêndios, após umha tormenta conhecida como mesoescala, iniciavam 52 focos após as altas temperaturas dos dias anteriores e as brigadas de muitos concelhos ainda estavam em formaçom, e nas brigadas da Junta havia muita gente de baixa. “Na minha brigada somos sete, quando começárom os lumes éramos só 4. A Conselharia nom cobriu as baixas. Quando fala de efetivos a apagar os incêndios conta como se os operativos estivessem completos, mas nom é certo. Se as brigadas funcionamos assim nom só nom som operativas se nom que som perigosas”, conclui Davide.
A precariedade das brigadas e a temporalidade também levam sendo denunciadas durante anos pelos sindicatos mas Meio Rural segue sem atalhar o problema. Uxía Afonso, engenheira florestal lembra as fendas salariais entre brigadas: “estám as brigadas da Junta com salários decentes e convénios bons, mas que os contratos som ou de 6 meses ou de 9. Depois estám as brigadas de concelhos com condiçons muito piores. Normalmente trabalham três meses ao ano dependendo do concelho e os salários som mui baixos em comparaçom com as da Junta. É a política de favores do PP. Se se acabasse com a temporalidade das brigadas podias ter efetivos trabalhando 8–9 meses em prevençom e 3- 4 em extinçom”.
Incêndios de Valdeorras e o Courel som os de mais hectares queimadas da história do país
Para Yasmina García, educadora ambiental o problema de fundo é o abandono do rural: “esta vaga de incêndios nom é um desastre ambiental. Há que falar claro: a Junta promove terrorismo ambiental. Falo de potenciar o abandono do rural reduzindo os serviços de saude e em ensino a 0. Falo de 500.000 hectares da nossa massa florestal dedicadas ao mono-cultivo só de eucaliptos. Como é possível que em meados de julho e com as previsons climatológicas as brigadas nom estejam todas conformadas?” e alerta sobre o futuro dos montes nos próximos anos se a Junta segue com esta política: “morrerá umha forma de vida, perderám-se habitats e biodiversidade. Virám novas pagas e desenvolverá-se umha agricultura intensiva a grande escala. O que perdemos agora é irrecuperável e ao morrer os animais, o monte nom pode regenerar de maneira natural”.
Desde Adega alertam que nos últimos anos perdeu-se a metade de massa florestal do país exigem à Junta medidas urgentes para impulsar umha “mudança radical” nas suas políticas ambientais agrogadeiras e florestais.
Associaçons ecologistas e vizinhais assinalam o despovoamento do rural e a falta de coordenaçom da Junta como causas estruturais desta nova vaga de incêndios
Rubem Vidal, de Adega, insiste na importância da aplicaçom imediata de um verdadeiro plano florestal. “Galiza necessita urgentemente umha ordenaçom florestal do território. Para isto é imprescindível substituir as plantaçons de pinheiro e eucalipto, ainda que seja umha medida impopular no rural, que vê nestas plantaçons umha saída económica rápida. Tem-se que apostar, como estám fazendo noutros territórios, nos mosaicos onde se combinam bosque autóctone e agricultura e introduzir o pastoreio nos montes”.
Os expertos coincidem nas causas estruturais dos incêndios e nas soluçons a longo prazo para um território que asseguram necessita umha mudança de rumo urgente na gestom florestal mas desde a Junta insiste-se que diante destes novos incêndios Meio Rural dispujo de todos os meios com os que contava e mostram-se satisfeitos da coordenaçom do operativo desenvolvido.