O problema dos incêndios florestais é umha questom de longo percurso na história ambiental e social da Galiza. Isto obriga a incluir na agenda nacional um programa de planeamento dos riscos de incêndio florestal, um planeamento, a curto prazo, centrado na extinçom e na prevençom a longo prazo.
O protocolo e os recursos para umha extinçom rápida estám codificados no PLADIGA (Plan de defensa de Incendios de Galicia), para determinar quantas brigadas, camions, helicópteros… tem o dispositivo, como estám distribuídos e como devem enfrentar os incêndios.
Porém, há incêndios cuja intensidade os situa fora da capacidade de extinçom. Estes incêndios só podem ser resolvidos através da adoçom de medidas preventivas, para as quais é necessário conhecer em pormenor os vários fatores que favorecem a deflagraçom de incêndios.
O combustível foi alterado devido à mudança de uso do solo de agrícola para florestal e, dentro do florestal, ao avanço do pinheiro e do eucalipto ao mesmo ritmo que a migraçom das zonas rurais para as zonas urbanas
Os blocos que componhem a equaçom dos incêndios florestais som fáceis de deduzir: climatologia, orografia e combustível. A partir daqui, podem ser decompostas e complexificadas nas variáveis, percentagens ou pesos relativos que consideremos.
A orografia (descriçom das montanhas, formas de relevo) é inamovível para nós, mas os outros dous blocos mudárom substancialmente nas últimas décadas.
Combustível: Quantidade, continuidade e tipologia
Em termos de quantidade e de continuidade, Edelmiro López Iglesias refere o despovoamento do espaço rural e, com ele, o fim da utilizaçom multifuncional da floresta (pastoreio, lenha, estrume e madeira) em favor do abandono ou das monoculturas para a produçom de madeira.
Em 1950, 80 % da populaçom galega vivia em povoaçons com menos de 2000 habitantes. Destes, 90 % trabalhavam na agricultura. 70 % da povoaçom ocupada vivia da agricultura, em 2017 o 5,3 %.
Em 2017, 25 % das pessoas vivem em zonas rurais, mas apenas 15 % das pessoas que vivem nessas zonas vivem no campo.
A floresta privada, pertencente a proprietários que nom som agricultores, ocupa 40 % do território e muitos som proprietários urbanos que nom têm qualquer controlo sobre a sua gestom.
É possível visualizar a evoluçom do combustível abrindo o visualizador IGN (Instituto Geográfico Nacional) e comparar as fotografias aéreas do voo americano de 1956 com as atuais.
Em termos de tipologia, refira-se que o combustível foi alterado devido à mudança de uso ou abandono do solo de agrícola para florestal (mato ou floresta) e, dentro do florestal, devido ao avanço do pinheiro e do eucalipto ao mesmo ritmo que a emigraçom das zonas rurais para as zonas urbanas.
A Marinha de Lugo tem umha massa contínua de eucalipto com pouca incidência de incêndios. Aqui a variabilidade climática muda consideravelmente. Viveiro tem 1.000 horas de sol anuais menos que o município com maior número, que é a Mesquita
Sabe-se que todas as plantas som combustíveis, mas também se sabe que nem tudo tem a mesma combustibilidade, a mesma facilidade de combustom. Neste sentido, o Professor Juan Picos M. tem a seguinte reflexom: “no caso das folhosas caducifólias,…, o efeito é muito mais condicionado polo ambiente normalmente associado a este tipo de floresta, que é menos ventoso e mais fresco e húmido” Assim, a floresta autóctone em condiçons meteorológicas adversas nom impede o alastrar do incêndio, mas “reduz a magnitude das suas ariáveis comportamentais (velocidade de propagaçom, intensidade,…) estas condiçon, ao mesmo tempo que dificultam o seu avanço, aumentam a sua previsibilidade e facilitam o seu combate, dam mais segurança aos meios que trabalham na extinçom e permitem o chamado “ataque direto” à frente da lapa.
A respeito do combustível é inevitável falar do eucaliptal. A maior insolaçom da vegetaçom rasteira, a dificuldade de decomposiçom das suas folhas e ramos, por nom existirem invertebrados autóctones capazes de os consumir, leva a umha acumulaçom à superfície de combustível fino morto, principal causa da rápida propagaçom do fogo. A isto acresce a capacidade das suas folhas e caules de se transformarem em moxenas que, em declives provocados pelo vento ou com umha potente chaminé (coluna de convecçom do fogo), geram novos fogos a centenas de metros de distância, complicando exponencialmente a luta pela extinçom.
Se é verdade que na Marinha de Lugo, sendo umha massa contínua de eucalipto, há pouca incidência, de momento, de incêndios, também é verdade que a variabilidade climática muda consideravelmente. Por exemplo, o local na Galiza que regista o maior número de horas de sol é o município da Mezquita (2.571 h), o menor, Viveiro, tem umha média anual de 1.580 h, menos 1000 horas!
O resumo da forma como isto afeta a evoluçom do combustível é o seguinte: Mais quantidade e continuidade e mais pirófita.
Climatologia
Os anos som cada vez mais secos e quentes e som acompanhados por fenómenos meteorológicos mais extremos que fazem acender as luzes de alarme da Meteogalicia com cada vez mais frequência.
Do livro Os tempos de Galicia (Xerais, 2019) podemos extrair alguns dados interessantes:
-Os 10 registos dos anos com mais “dias de verao”, quando a temperatura atinge ou ultrapassa os 25 ºC, som todos a partir de 2016.
-Os 10 registos de noites onde a temperatura mínima nom baixa de 20ºC , “noites tropicais” som todos a partir de 2006.
-Das 20 temperaturas máximas registadas até 2019, 15 som a partir de 2000.
-A partir do ano 2000 aumentam as vagas de calor em frequência e duraçom.
As massas florestais estám a tentar adaptar-se a estas mudanças. O stress hídrico torna as plantas mais vulneráveis, pois perdem menos folhas, o que, por sua vez, facilita a penetraçom do sol. Nas próximas décadas, as espécies que componhem a “floresta autóctone” irám mudar lentamente.
Onde é que estamos?
Cada ano temos menos incêndios, mas muitos deles som cada vez mais grandes e mais perigosos devido à camada de base que criam os dous blocos anteriormente expostos, mais a sobreposiçom de umha ou mais camadas; orografia, distribuiçom da povoaçom, etc. Se adicionarmos à equaçom elementos como: tempestades com muitas descargas elétricas e, ocasionalmente, tempo seco (em 14/6/2022 caíram 6.000 relâmpagos em 4 horas) ou períodos de calor acompanhados de ventos fortes, temos como resultado um maior número de grandes incêndios (>500 ha) e um maior número de incêndios de “situaçom 2” (em que há pessoas em risco).
Os anos som mais secos e venhem com fenómenos meteorológicos mais extremos que acendem os alarmes da Meteogalicia com cada vez mais frequência
Dos três blocos só podemos atuar sobre a vegetaçom. A Lei de Montes e a de incêndios (prestes a ser substituída por outra nova) recolhem distáncias de plantaçom ou faixas de gestom de biomassa; a estradas (10m), rios e regos (15m)… o assentamento nessas faixas de bosque autóctone maduro, criaria umha rede de descontinuidade no combustível, barreira para o vento e infraestrutura de apoio para os meios de extinçom.
Limitar a superfície de plantaços monoespecíficas, educar as empresas madeireiras numha cultura de aproveitamentos florestais que supere o corte em talhadia e aos particulares numha visom da floresta além de um cultivo se nom como algo mais complexo e rico, por baixo aviso as povoaçons em zonas de incêndios recorrentes para que adaptem as suas vivendas perante a eventual “chuva” de moxenas e sobre todo compensar as pessoas que mantenhem o rural, que mantenhem pastos e animais, que transitam os caminhos, seria um grande avanço na luta contra os incêndios e na minimizaçom de riscos.