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Incêndios florestais: Onde estamos e como chegámos aqui

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Comparativa do ter­reno em Vilarinho de Valdeorras, fo­to­gra­fia aé­rea de 1956 ‑em preto so­bre branco- e atual. | mapa di­gi­tal do IGN

O pro­blema dos in­cên­dios flo­res­tais é umha ques­tom de longo per­curso na his­tó­ria am­bi­en­tal e so­cial da Galiza. Isto obriga a in­cluir na agenda na­ci­o­nal um pro­grama de pla­ne­a­mento dos ris­cos de in­cên­dio flo­res­tal, um pla­ne­a­mento, a curto prazo, cen­trado na ex­tin­çom e na pre­ven­çom a longo prazo. 

O pro­to­colo e os re­cur­sos para umha ex­tin­çom rá­pida es­tám co­di­fi­ca­dos no PLADIGA (Plan de de­fensa de Incendios de Galicia), para de­ter­mi­nar quan­tas bri­ga­das, ca­mi­ons, he­li­cóp­te­ros… tem o dis­po­si­tivo, como es­tám dis­tri­buí­dos e como de­vem en­fren­tar os incêndios. 

Porém, há in­cên­dios cuja in­ten­si­dade os si­tua fora da ca­pa­ci­dade de ex­tin­çom. Estes in­cên­dios só po­dem ser re­sol­vi­dos atra­vés da ado­çom de me­di­das pre­ven­ti­vas, para as quais é ne­ces­sá­rio co­nhe­cer em por­me­nor os vá­rios fa­to­res que fa­vo­re­cem a de­fla­gra­çom de incêndios. 

O com­bus­tí­vel foi al­te­rado de­vido à mu­dança de uso do solo de agrí­cola para flo­res­tal e, den­tro do flo­res­tal, ao avanço do pi­nheiro e do eu­ca­lipto ao mesmo ritmo que a mi­gra­çom das zo­nas ru­rais para as zo­nas urbanas

Os blo­cos que com­po­nhem a equa­çom dos in­cên­dios flo­res­tais som fá­ceis de de­du­zir: cli­ma­to­lo­gia, oro­gra­fia e com­bus­tí­vel. A par­tir da­qui, po­dem ser de­com­pos­tas e com­ple­xi­fi­ca­das nas va­riá­veis, per­cen­ta­gens ou pe­sos re­la­ti­vos que consideremos. 

A oro­gra­fia (des­cri­çom das mon­ta­nhas, for­mas de re­levo) é ina­mo­ví­vel para nós, mas os ou­tros dous blo­cos mu­dá­rom subs­tan­ci­al­mente nas úl­ti­mas décadas. 

Combustível: Quantidade, con­ti­nui­dade e ti­po­lo­gia
Em ter­mos de quan­ti­dade e de con­ti­nui­dade, Edelmiro López Iglesias re­fere o des­po­vo­a­mento do es­paço ru­ral e, com ele, o fim da uti­li­za­çom mul­ti­fun­ci­o­nal da flo­resta (pas­to­reio, le­nha, es­trume e ma­deira) em fa­vor do aban­dono ou das mo­no­cul­tu­ras para a pro­du­çom de madeira. 

Em 1950, 80 % da po­pu­la­çom ga­lega vi­via em po­vo­a­çons com me­nos de 2000 ha­bi­tan­tes. Destes, 90 % tra­ba­lha­vam na agri­cul­tura. 70 % da po­vo­a­çom ocu­pada vi­via da agri­cul­tura, em 2017 o 5,3 %.  

Em 2017, 25 % das pes­soas vi­vem em zo­nas ru­rais, mas ape­nas 15 % das pes­soas que vi­vem nes­sas zo­nas vi­vem no campo. 

A flo­resta pri­vada, per­ten­cente a pro­pri­e­tá­rios que nom som agri­cul­to­res, ocupa 40 % do ter­ri­tó­rio e mui­tos som pro­pri­e­tá­rios ur­ba­nos que nom têm qual­quer con­trolo so­bre a sua gestom. 

É pos­sí­vel vi­su­a­li­zar a evo­lu­çom do com­bus­tí­vel abrindo o vi­su­a­li­za­dor IGN (Instituto Geográfico Nacional) e com­pa­rar as fo­to­gra­fias aé­reas do voo ame­ri­cano de 1956 com as atuais. 

Em ter­mos de ti­po­lo­gia, re­fira-se que o com­bus­tí­vel foi al­te­rado de­vido à mu­dança de uso ou aban­dono do solo de agrí­cola para flo­res­tal (mato ou flo­resta) e, den­tro do flo­res­tal, de­vido ao avanço do pi­nheiro e do eu­ca­lipto ao mesmo ritmo que a emi­gra­çom das zo­nas ru­rais para as zo­nas urbanas.

A Marinha de Lugo tem umha massa con­tí­nua de eu­ca­lipto com pouca in­ci­dên­cia de in­cên­dios. Aqui a va­ri­a­bi­li­dade cli­má­tica muda con­si­de­ra­vel­mente. Viveiro tem 1.000 ho­ras de sol anu­ais me­nos que o mu­ni­cí­pio com maior nú­mero, que é a Mesquita

Sabe-se que to­das as plan­tas som com­bus­tí­veis, mas tam­bém se sabe que nem tudo tem a mesma com­bus­ti­bi­li­dade, a mesma fa­ci­li­dade de com­bus­tom. Neste sen­tido, o Professor Juan Picos M. tem a se­guinte re­fle­xom: “no caso das fo­lho­sas ca­du­ci­fó­lias,…, o efeito é muito mais con­di­ci­o­nado polo am­bi­ente nor­mal­mente as­so­ci­ado a este tipo de flo­resta, que é me­nos ven­toso e mais fresco e hú­mido” Assim, a flo­resta au­tóc­tone em con­di­çons me­te­o­ro­ló­gi­cas ad­ver­sas nom im­pede o alas­trar do in­cên­dio, mas “re­duz a mag­ni­tude das suas ariá­veis com­por­ta­men­tais (ve­lo­ci­dade de pro­pa­ga­çom, in­ten­si­dade,…) es­tas con­di­çon, ao mesmo tempo que di­fi­cul­tam o seu avanço, au­men­tam a sua pre­vi­si­bi­li­dade e fa­ci­li­tam o seu com­bate, dam mais se­gu­rança aos meios que tra­ba­lham na ex­tin­çom e per­mi­tem o cha­mado “ata­que di­reto” à frente da lapa. 

A res­peito do com­bus­tí­vel é ine­vi­tá­vel fa­lar do eu­ca­lip­tal. A maior in­so­la­çom da ve­ge­ta­çom ras­teira, a di­fi­cul­dade de de­com­po­si­çom das suas fo­lhas e ra­mos, por nom exis­ti­rem in­ver­te­bra­dos au­tóc­to­nes ca­pa­zes de os con­su­mir, leva a umha acu­mu­la­çom à su­per­fí­cie de com­bus­tí­vel fino morto, prin­ci­pal causa da rá­pida pro­pa­ga­çom do fogo. A isto acresce a ca­pa­ci­dade das suas fo­lhas e cau­les de se trans­for­ma­rem em mo­xe­nas que, em de­cli­ves pro­vo­ca­dos pelo vento ou com umha po­tente cha­miné (co­luna de con­vec­çom do fogo), ge­ram no­vos fo­gos a cen­te­nas de me­tros de dis­tân­cia, com­pli­cando ex­po­nen­ci­al­mente a luta pela extinçom. 

Se é ver­dade que na Marinha de Lugo, sendo umha massa con­tí­nua de eu­ca­lipto, há pouca in­ci­dên­cia, de mo­mento, de in­cên­dios, tam­bém é ver­dade que a va­ri­a­bi­li­dade cli­má­tica muda con­si­de­ra­vel­mente.  Por exem­plo, o lo­cal na Galiza que re­gista o maior nú­mero de ho­ras de sol é o mu­ni­cí­pio da Mezquita (2.571 h), o me­nor, Viveiro, tem umha mé­dia anual de 1.580 h, me­nos 1000 horas! 

O re­sumo da forma como isto afeta a evo­lu­çom do com­bus­tí­vel é o se­guinte: Mais quan­ti­dade e con­ti­nui­dade e mais pirófita. 

Climatologia
Os anos som cada vez mais se­cos e quen­tes e som acom­pa­nha­dos por fe­nó­me­nos me­te­o­ro­ló­gi­cos mais ex­tre­mos que fa­zem acen­der as lu­zes de alarme da Meteogalicia com cada vez mais frequência. 

Do li­vro Os tem­pos de Galicia (Xerais, 2019) po­de­mos ex­trair al­guns da­dos interessantes: 

-Os 10 re­gis­tos dos anos com mais “dias de ve­rao”, quando a tem­pe­ra­tura atinge ou ul­tra­passa os 25 ºC, som to­dos a par­tir de 2016. 

-Os 10 re­gis­tos de noi­tes onde a tem­pe­ra­tura mí­nima nom baixa de 20ºC , “noi­tes tro­pi­cais” som to­dos a par­tir de 2006. 

-Das 20 tem­pe­ra­tu­ras má­xi­mas re­gis­ta­das até 2019, 15 som a par­tir de 2000. 

-A par­tir do ano 2000 au­men­tam as va­gas de ca­lor em frequên­cia e duraçom. 

As mas­sas flo­res­tais es­tám a ten­tar adap­tar-se a es­tas mu­dan­ças. O stress hí­drico torna as plan­tas mais vul­ne­rá­veis, pois per­dem me­nos fo­lhas, o que, por sua vez, fa­ci­lita a pe­ne­tra­çom do sol. Nas pró­xi­mas dé­ca­das, as es­pé­cies que com­po­nhem a “flo­resta au­tóc­tone” irám mu­dar lentamente. 

Onde é que es­ta­mos?
Cada ano te­mos me­nos in­cên­dios, mas mui­tos de­les som cada vez mais gran­des e mais pe­ri­go­sos de­vido à ca­mada de base que criam os dous blo­cos an­te­ri­or­mente ex­pos­tos, mais a so­bre­po­si­çom de umha ou mais ca­ma­das; oro­gra­fia, dis­tri­bui­çom da po­vo­a­çom, etc. Se adi­ci­o­nar­mos à equa­çom ele­men­tos como: tem­pes­ta­des com mui­tas des­car­gas elé­tri­cas e, oca­si­o­nal­mente, tempo seco (em 14/6/2022 caí­ram 6.000 re­lâm­pa­gos em 4 ho­ras) ou pe­río­dos de ca­lor acom­pa­nha­dos de ven­tos for­tes, te­mos como re­sul­tado um maior nú­mero de gran­des in­cên­dios (>500 ha) e um maior nú­mero de in­cên­dios de “si­tu­a­çom 2” (em que há pes­soas em risco). 

Os anos som mais se­cos e ve­nhem com fe­nó­me­nos me­te­o­ro­ló­gi­cos mais ex­tre­mos que acen­dem os alar­mes da Meteogalicia com cada vez mais frequência

Dos três blo­cos só po­de­mos atuar so­bre a ve­ge­ta­çom. A Lei de Montes e a de in­cên­dios (pres­tes a ser subs­ti­tuída por ou­tra nova) re­co­lhem dis­tán­cias de plan­ta­çom ou fai­xas de ges­tom de bi­o­massa; a es­tra­das (10m), rios e re­gos (15m)… o as­sen­ta­mento nes­sas fai­xas de bos­que au­tóc­tone ma­duro, cri­a­ria umha rede de des­con­ti­nui­dade no com­bus­tí­vel, bar­reira para o vento e in­fra­es­tru­tura de apoio para os meios de extinçom. 

Limitar a su­per­fí­cie de plan­ta­ços mo­no­es­pe­cí­fi­cas, edu­car as em­pre­sas ma­dei­rei­ras numha cul­tura de apro­vei­ta­men­tos flo­res­tais que su­pere o corte em ta­lha­dia e aos par­ti­cu­la­res numha vi­som da flo­resta além de um cul­tivo se nom como algo mais com­plexo e rico, por baixo aviso as po­vo­a­çons em zo­nas de in­cên­dios re­cor­ren­tes para que adap­tem as suas vi­ven­das pe­rante a even­tual “chuva” de mo­xe­nas e so­bre todo com­pen­sar as pes­soas que man­te­nhem o ru­ral, que man­te­nhem pas­tos e ani­mais, que tran­si­tam os ca­mi­nhos, se­ria um grande avanço na luta con­tra os in­cên­dios e na mi­ni­mi­za­çom de riscos. 

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