Periódico galego de informaçom crítica

Jovem, urbana e conetada. Quem e para que emprega Internet?

por
adri­ana p. villanueva

As galegas empregam a grande rede para operaçons quotidianas. Existe umha brecha entre o rural e a cidade, mas a partilha de informaçom nas plataformas para a gestom da vida social é bem conhecida no nosso país.

A co­ne­xom ha­bi­tual a Internet por parte da po­pu­la­çom é umha re­a­li­dade. O dia-a-dia das ga­le­gas en­con­tra-se ha­bi­tado polo em­prego da grande rede para ope­ra­çons quo­ti­di­a­nas. Se bem que as es­ta­tís­ti­cas in­di­cam umha bre­cha de co­ne­ti­vi­dade en­tre as zo­nas ru­rais e ur­ba­nas, a par­ti­lha de in­for­ma­çom atra­vés das pla­ta­for­mas para a ges­tom da vida so­cial é bem co­nhe­cida no nosso pais. Alguns es­tu­dos em­pre­sa­ri­ais in­di­cam que a Galiza, após Madrid, é a co­mu­ni­dade au­tó­noma do Reino da Espanha com mais pes­soas usuá­rias da rede so­cial mais po­pu­lar de ‘mi­cro­blog­ging’ (a pu­bli­ca­çom de men­sa­gens com um li­mite de carateres).

As percentagens de conexom som maiores quanto mais jovens som as pessoas. Um 94,7% das crianças entre 10 e 15 anos usam Internet.

Segundo o es­tudo A co­mu­ni­ca­çom na Galiza, edi­tado em 2016 polo Conselho da Cultura Galega (CCG), atu­al­mente um 58,3% da po­pu­la­çom, o cor­res­pon­dente a uns 1,6 mi­lhons de pes­soas, co­neta-se com frequên­cia a Internet. Os seus usos mais ha­bi­tu­ais, em­pre­ga­dos por mais do 80% da po­pu­la­çom com co­ne­xom ha­bi­tual, som a pro­cura de in­for­ma­çom so­bre e bens e ser­vi­ços, a lei­tura e a des­car­rega de no­tí­cias e o en­vio e re­ce­çom de cor­reio ele­tró­nico. Após es­tas, no 65,3%, en­con­tra-se a par­ti­ci­pa­çom em re­des so­ci­ais, e no 56,2% os jo­gos e as des­car­re­gas re­la­ci­o­na­das com o la­zer. Assim, o mundo di­gi­tal é umha ja­nela so­bre a que grande parte da po­pu­la­çom de­bruça para se in­for­mar e co­mu­ni­car. Por ou­tro lado, o uso me­nos es­ten­dido, e que se si­tua no 11,1%, é a cri­a­çom de pá­gi­nas e blo­gues. As per­cen­ta­gens do seu uso para pen­du­rar con­teú­dos pró­prios si­tua-se num 43,8%, por baixo do uso para des­car­re­gas, do que se pode in­fe­rir que Internet é umha fer­ra­menta que está a ser mais apta para o con­sumo do que para a cri­a­çom própria.

Crianças, Internet e telemóveis

Outro traço que as­si­nala o apar­tado de­di­cado à Internet do re­la­tó­rio do CCG é que as per­cen­ta­gens de co­ne­xom som mai­o­res quando mais jo­vens som as pes­soas. Mesmo é as­sim, que en­tre as cri­an­ças de 10 e 15 anos um 94,7% em­pre­gam Internet e, no mesmo tramo de idade, um 69,8% de cri­an­ças con­tam um te­le­mó­vel. Assim mesmo, um inqué­rito re­a­li­zado pola Agência para a Modernizaçom Tecnológica da Galiza (Amtega) so­bre a so­ci­e­dade de in­for­ma­çom nas vi­ven­das ga­le­gas, in­dica que a pre­sença de cri­an­ças na casa au­menta em 20 pon­tos as quo­tas de conetividade.

A maior per­cen­ta­gem de co­ne­xom ha­bi­tual a Internet pro­duz-se en­tre a franja de idade si­tu­ada en­tre os 16 e os 24 anos, atin­gindo o 97,5%, sendo esta a ge­ra­çom que se de­fine como ‘na­ti­vas di­gi­tais’. De jeito pro­gres­sivo, as pes­soas com mais idade co­ne­tam-se me­nos à rede. Na franja de idade que vai de 45 a 54 co­neta-se ha­bi­tu­al­mente um 61,7%.

Ademais da bre­cha ge­ra­ci­o­nal que acom­pa­nha a in­tro­du­çom des­tas tec­no­lo­gias, per­cebe-se nas es­ta­tís­ti­cas ou­tra bre­cha: a exis­tente en­tra a ci­dade e o ru­ral. Neste sen­tido, som as ci­da­des de A Corunha, Compostela e Vigo as que con­tam com mais al­tos ín­di­ces de co­ne­xom em banda larga. Aliás, os ín­di­ces so­bre os lu­ga­res de co­ne­xom sa­li­en­tam como o em­prego de Internet cada vez é mais quo­ti­di­ano e ín­timo, pois o 89,4% das pes­soas que se co­ne­tam fam-no da sua casa e o 84,2% dum dis­po­si­tivo mó­bil, in­ver­tendo-se os da­dos que se da­vam na dé­cada de 90, quando era usual co­ne­tar-se em lo­cu­tó­rios ou do cen­tro de trabalho.

Estudo Geral de Meios

Por ou­tra banda, as es­ta­tís­ti­cas que achega o Estudo Geral de Meios so­bre o em­prego de Internet no con­junto da po­pu­la­çom no Reino da Espanha po­dem acres­cen­tar al­guns da­dos. No EGM cor­res­pon­dente à se­gunda jor­nada de 2016 pode-se apre­ciar como foi evo­luindo nos úl­ti­mos anos o uso de Internet por ho­mens e mu­lhe­res. Nos anos 90 e co­me­ços de 2000, o acesso à rede era mai­o­ri­ta­ri­a­mente mas­cu­lino, mas na atual dé­cada as ci­fras in­di­cam que a re­la­çom está no 50%.

Também se­gundo o EGM, no con­junto do Reino o dis­po­si­tivo do que mais se co­neta a po­pu­la­çom a Internet é o te­le­mó­vel, o que per­mite es­tar li­gado per­ma­nen­te­mente ao longo do dia, ache­gando o con­texto idó­neo em que o ser­viço mais em­pre­gado seja o das men­sa­gens ins­tan­tâ­neas. Outro dis­po­si­tivo que está a cres­cer nos úl­ti­mos tem­pos, que per­mite tam­bém a co­ne­xom da vi­venda e que pode che­gar a des­lo­car a ta­blet, é a ‘smart tv’.

Qual per­fil ge­ral de usuá­ria de Internet de­se­nham es­tes da­dos? Umha pes­soa jo­vem, com um dis­po­si­tivo mó­vel com co­ne­xom, ha­bi­tante da urbe, que em­prega cor­reio ele­tró­nico, ser­vi­ços de men­sa­gens ins­tan­tâ­neas para se co­mu­ni­car e cuja prin­ci­pal fonte de in­for­ma­çom é a rede.

adri­ana p. villanueva

Brecha digital de género

As es­ta­tís­ti­cas do EGM apon­ta­vam um acesso mais ou me­nos equi­pa­rá­vel de mu­lhe­res e ho­mens, mas isto nom se tra­duz como que a web seja um es­paço igua­li­tá­rio. Em 2013, Ianire Estébanez, cri­a­dora da web minoviomecontrola.com, in­di­cava que esta igual­dade de acesso dá-se ape­nas nas pes­soas de en­tre 16 e 24 anos e que cum­pre fa­lar dumha “ter­ceira bre­cha di­gi­tal de gé­nero” atra­vés da qual se re­pro­du­zem os ro­les di­fe­ren­ci­ais de gé­nero no em­prego das apli­ca­çons tec­no­ló­gi­cas para a ges­tom de re­la­çons so­ci­ais. Assim, Estébanez cita es­tu­dos que apon­tam que as mo­ças te­nhem maior in­te­resse por con­teú­dos cul­tu­rais, de la­zer ou de so­ci­e­dade e fa­mo­sas, en­quanto os mo­ços es­tám mais in­te­res­sa­dos em des­por­tos e jo­gos. Noutro senso, in­dica tam­bém que elas em­pre­gam mais as re­des so­ci­ais como ele­men­tos de so­ci­a­li­za­çom e re­la­çom en­quanto eles se man­te­nhem mais longe e re­a­li­zam um maior con­trole so­bre a sua intimidade.

Reproduzem-se roles diferenciais no uso dos aplicativos para gestom das relaçons sociais

Apoiando-se no tra­ba­lho feito polo Observatório Basco da Juventude, Estébanez con­clui que “as mo­ças ma­ni­fes­tam ser acos­sa­das se­xu­al­mente por parte de des­co­nhe­ci­dos e co­nhe­ci­dos atra­vés das re­des, mas à vez to­le­ram e con­fun­dem ma­ni­fes­ta­çons de con­trole por parte das suas pa­re­lhas (ou ex pa­re­lhas) com mos­tras de amor”. Através de um inqué­rito re­a­li­zado em dous mu­ni­cí­pios bas­cos, Estébanez ad­verte so­bre as di­fe­ren­ças na per­ce­çom de um com­por­ta­mento de acosso. Essa ex­pe­ri­ên­cia ex­traiu que re­ce­ber mais de dez cha­ma­das ao dia era con­si­de­rado um com­por­ta­mento vi­o­lento no 37,3% das mo­ças, com um grau de im­por­tân­cia de 0,95, numha es­cala de 0 a 5. Perante a mesma per­gunta o 76,3% dos mo­ços o con­si­de­ra­vam vi­o­lento, com um grado de im­por­tân­cia de 2,64.

As re­da­to­ras da re­vista fe­mi­nista Revirada, que par­ti­lha­ram com Novas da Galiza os tra­ba­lhos de Estébanez para esta re­por­ta­gem, sa­li­en­tam que nas no­vas tec­no­lo­gias “se re­pro­du­zem os mes­mos es­que­mas de dis­cri­mi­na­çom e opres­som que en­con­tra­mos nas re­la­çons nom vir­tu­ais”. Ademais de de­nun­ciar a in­vi­si­bi­li­za­çom dos dis­cur­sos dis­tan­ci­a­dos do he­tero-pa­tri­ar­cado, a cri­a­çom de ci­ber-re­la­çons pa­tri­ar­cais ou o as­sé­dio con­tra mu­lhe­res e se­xu­a­li­da­des nom bi­ná­rias, Revirada in­siste tam­bém na “ne­ces­si­dade de ‘es­pa­ços se­gu­ros’ na web – como fo­ros fe­cha­dos, re­vis­tas fe­mi­nis­tas, blo­gues – onde seja pos­sí­vel ou­vir vo­zes dis­si­den­tes e tra­tar de te­mas que fi­cam ainda com­ple­ta­mente in­vi­si­bi­li­za­dos nos meios convencionais”.

Ninguém perto, ninguém longe

adri­ana p. villanueva

Os te­le­mó­veis com co­ne­xom web ad­qui­rí­rom umha am­pla pre­sença nas ati­vi­da­des mais quo­ti­di­a­nas. Encontramo-los pró­xi­mos à taça de café do al­moço, pen­du­rando do braço quando a gente está a cor­rer ou aga­cha­dos por baixo das me­sas nas au­las, sem­pre re­ce­bendo os im­pul­sos do dedo po­le­gar e a aten­çom dos olhos. E o que a gente vê nele? Talvez umha posta de sol com um fil­tro de co­res, a úl­tima men­sa­gem numha longa e in­ter­mi­tente con­versa atra­vés dum ser­viço de men­sa­gens ins­tan­tâ­neas ou as úl­ti­mas no­tí­cias na atu­a­li­dade do dia. Mas, so­bre­todo, o que per­mite um dis­po­si­tivo des­tas ca­ra­te­rís­ti­cas é co­mu­ni­car-se e re­la­ci­o­nar-se em qual­quer mo­mento com gente que se en­con­tra a qual­quer distância.

O so­ció­logo po­lo­nês Zygmut Bauman, numha das suas 44 car­tas do mundo lí­quido mo­derno, afirma que “nesse mundo on­line nin­guém está longe nunca, to­dos se­me­lham es­tar cons­tan­te­mente à nossa dis­po­si­çom”. Efetivamente, a grande mai­o­ria de re­des so­ci­ais po­pu­lar­mente em­pre­ga­das con­tam com a opor­tu­ni­dade de tro­car men­sa­gens pri­va­das com qual­quer das pes­soas usuá­rias, o que per­mite ter a sen­sa­çom de ter as pes­soas ao al­cance da mau. Bauman, na mesma carta, re­co­nhece ou­tro as­peto que fa­ci­lita a co­ne­xom per­ma­nente atra­vés do te­le­mó­vel: o “es­tar es­pi­ri­tu­al­mente ausentes”.

A re­fle­xom de Bauman sus­cita a ima­gem dal­gumhas ce­nas quo­ti­di­a­nas. Estamos nal­gum lo­cal de la­zer e en­con­tra­mos ao re­dor pes­soas que pres­tam mais aten­çom ao seu te­le­mó­vel do que às pos­si­bi­li­da­des de con­versa que se po­dem abrir com as pes­soas fi­si­ca­mente pre­sen­tes. Disponibilidade on­line e alhe­a­mento do en­torno som, se­guindo com o ex­posto por Bauman, al­gumhas das con­sequên­cias no nosso com­por­ta­mento so­cial polo em­prego que as pes­soas fa­ze­mos des­tas tec­no­lo­gias e que po­de­mos pal­par na vida quotidiana.

Conetividade e ausência

Algumhas usuárias utilizam as novas tecnologias cuidando a privacidade e evitando dinâmicas de controlo próprias das redes

A psi­có­loga e te­ra­peuta se­xual Mai Ínsua iden­ti­fica tam­bém, en­tre ou­tros, es­tes com­por­ta­men­tos. Assim, Ínsua vê nessa co­ne­ti­vi­dade e dis­po­ni­bi­li­dade per­ma­nente um me­ca­nismo pró­prio do so­ci­e­dade pa­tri­ar­cal, pois “as re­des so­ci­ais re­ben­tam a rei­vin­di­ca­çom fe­mi­nista de cons­tru­çom de tem­pos e es­pa­ços pró­prios. Aportam in­for­ma­çom so­bre quem está on­line num mo­mento con­creto, so­bre re­la­ci­o­na­men­tos en­tre ou­tras pes­soas ou a úl­tima hora em que ou­tra pes­soa teve co­ne­xom”. Estes da­dos, se­gundo aponta Ínsua, fam sal­tar me­ca­nis­mos de con­trole e de­pen­dên­cia, e fa­ci­li­tam a cri­a­çom de su­po­si­çons. Por exem­plo: nom res­pon­dem umha men­sa­gem en­vi­ada e, atra­vés da in­for­ma­çom so­bre a úl­tima co­ne­xom re­gis­tada, a pes­soa emis­sora tende a ima­gi­nar as cau­sas dessa demora.

É por isto que al­gumhas pes­soas usuá­rias de­ci­dem apa­gar o acesso a essa in­for­ma­çom com a in­ten­çom de sal­va­guar­dar a pri­va­ci­dade e ra­char com as di­nâ­mi­cas de es­pera e con­trole que po­ten­ciam es­tas re­des. Os ser­vi­ços de men­sa­gens ins­tan­tâ­neas mais em­pre­ga­dos te­nhem a op­çom de nom mos­trar as tuas in­for­ma­çons so­bre a hora de co­ne­xom ou so­bre a lei­tura das men­sa­gens en­vi­a­das. Umha vez se marca esta op­çom, o apli­ca­tivo in­forma-te de que isto im­plica que nom ve­rás as ho­ras de úl­tima co­ne­xom dos teus contactos.

Mai Ínsua sa­li­enta as dis­tor­çons que se criam à hora de per­ce­ber a vida das ou­tras pes­soas. Pom o exem­plo dumha rede so­cial de pu­bli­ca­çom de fo­tos e ví­deos: “tu vês a foto ‘per­feita’, mas nom sa­bes se an­tes dessa houve ou­tras, ou por que es­co­lheu essa e des­bo­tou ou­tras, ou mesmo sim­ples­mente quais fô­rom os mo­ti­vos que le­va­ram a ti­rar umha foto”. Ínsua as­si­nala que há ten­dên­cia a en­cher men­tal­mente es­ses ocos que fi­cam va­zios, cri­ando umha ideia que nom tem a ver com a re­a­li­dade nem serve para com­pre­en­der a si­tu­a­çom vi­tal em que se en­con­tra a ou­tra pessoa.

Também per­cebe Ínsua o feito da nom pre­sença. Assim, es­tas re­des de pu­bli­ca­çom de fo­tos pro­mo­vem que as suas usuá­rias es­te­jam ha­bi­tu­al­mente pro­cu­rando a cap­tura de ima­gens da sua vida. “Tiras fo­tos dumha posta de sol e es­tás mais con­cen­trada em como a sa­cas do que em vi­ver a pró­pria posta de sol. Estás todo o tempo fora”, re­fle­xi­ona Ínsua.

adri­ana p. villanueva

Cuidados e encontro

O uso es­ten­dido dos ser­vi­ços de re­des so­ci­ais, atra­vés dos quais boa parte da po­pu­la­çom gere a sua re­a­li­dade re­la­ci­o­nal, lança o in­ter­ro­gante de se es­tám a in­fluir na qua­li­dade e na quan­ti­dade dos en­con­tros fí­si­cos en­tre pes­soas. Iago Varela, co­or­de­na­dor da pá­gina Mallando no Android, ad­mite que está es­ten­dida a ideia de que a tec­no­lo­gia está a nos afas­tar dos en­con­tros pes­so­ais, mas “eu som das que pensa que é umha crença er­rada”. Para Varela con­ver­sar por men­sa­gens ins­tan­tâ­neas nom fai que com­bine me­nos em pes­soa e acha que in­te­ra­gir po­las re­des “pode fa­zer que des­cu­bra­mos gente afim na rede que de­pois desvirtualizaremos”.

Alberto (nome fic­tí­cio), de­se­nha­dor grá­fico e usuá­rio das re­des so­ci­ais, fala das suas ex­pe­ri­ên­cias e afirma que “gra­ças à Internet te­nho re­la­çons am­plas ao longo de toda a pe­nín­sula, te­cim re­des de ami­zade com pes­soas que vejo fi­si­ca­mente pouco mas com a que com­parto a mi­nha vida”. Alén disto, acres­centa que es­tas re­la­çons on­line “nom me im­pe­dem ver as mi­nhas ami­za­des que es­tám fi­si­ca­mente mais pró­xi­mas, na mi­nha ci­dade. Tenho um amigo com o qual ceio e vejo sé­ries dous ou três dias por se­mana. Outras ami­za­des tento vê-las to­das as se­ma­nas ou cada duas semanas”.

Continuando com a in­tui­çom de que as re­des so­ci­ais es­ta­vam a de­gra­dar as re­la­çons de pro­xi­mi­dade en­tre as pes­soas, o so­ció­logo César Rendueles apon­tava no seu li­vro Sociofobia a in­com­pa­ti­bi­li­dade en­tre as no­vas tec­no­lo­gias e as di­nâ­mi­cas de cui­dado e apoio mú­tuo. Num de­bate so­bre as tec­no­lo­gias ce­le­brado em Madrid, do pú­blico res­pon­dia-se-lhe a Rendueles que o 70% das men­sa­gens em Internet som pri­va­das, quo­ti­di­a­nas, polo que pode con­fi­gu­rar um novo ca­nal para os cuidados.

Reflexionando so­bre este as­sunto, Alberto ad­mite que as re­la­çons fí­si­cas con­tam com mais po­ten­ci­a­li­dade à hora de sa­tis­fa­zer as ne­ces­si­da­des de afeto, “mas isto nom quer di­zer que nas re­la­çons vir­tu­ais nom po­dam es­tar pre­sen­tes os cui­da­dos e acom­pa­nha­men­tos”. Assim, Alberto acres­centa que “vivo cons­tan­te­mente si­tu­a­çons em que re­a­lizo ví­deo-con­fe­rên­cias ou en­vio áu­dios, ima­gens ou ligo com al­guém que pre­cise do meu acom­pa­nha­mento ou es­cuita ativa”.

O bi­nó­mio tec­no­lo­gia e cui­da­dos tem ainda um re­sul­tado in­certo. A psi­có­loga Mai Ínsua pom o foco na cri­a­çom de es­pa­ços pró­prios de se­gu­rança e no auto-cui­dado, e par­ti­lha al­gumhas pro­pos­tas que se fi­gé­rom à hora de em­pre­gar as re­des so­ci­ais. Assim, as re­des com umha maior uti­li­dade para ace­der à in­for­ma­çom e co­mu­ni­car-se em­prega-as com umhas pers­pe­tiva mais pro­fis­si­o­nal. Também es­ta­be­le­ceu me­di­das para cui­dar os seus vín­cu­los afe­ti­vos. Assim, aque­las pes­soas com as que es­ta­be­lece umha re­la­çom eró­tica nom as tem nas re­des so­ci­ais, “pois acho que isto per­mite umha co­mu­ni­ca­çom mais clara”, ex­pom Ínsua. Deste jeito, o cui­dado dumha pró­pria re­dunda tam­bém no cui­dado das pes­soas próximas.

Corpos sem pestanejar

adri­ana p. villanueva

Qual é teu nome de usuá­ria? Escolhe umha pa­la­vra-passe, umha foto, in­dica onde nas­ceste, onde vi­ves, qual é o teu cur­rí­culo. Define-te. Apresenta-te. Expom as tuas pre­fe­rên­cias. Dá o teu nú­mero de te­le­mó­vel para umha maior se­gu­rança. Em que es­tás a pen­sar? O que está acon­te­cendo? Talvez co­nhe­ças es­tas pes­soas. Recebeste um ‘like’. Cresce o teu nú­mero de ‘fol­lowers’. Ativa o GPS para en­con­trar pes­soas que tes perto. Tes umha cor­res­pon­dên­cia. Para mais uti­li­da­des fai-te cli­ente Premium.

Qualquer pes­soa que es­teja pre­sente nas re­des so­ci­ais en­con­tra-se nal­gum mo­mento com cada umha des­tas per­gun­tas e avi­sos. Formam parte in­di­vi­sí­vel do por­tal a atra­ves­sar para en­trar no mundo das re­des so­ci­ais. Umha vez cri­ado o nosso per­fil abrem-se as pos­si­bi­li­da­des de in­te­ra­çom, nas quais a ima­gem que es­co­lhe­mos trans­mi­tir de nós tem umha es­pe­cial re­le­vân­cia. Vêm-me, logo existo.

Na construçom da imagem e a identidade virtual jogam um papel importante os olhos das outras e a receçom de reforços positivos

Também o olho que nos vê par­ti­cipa na cons­tru­çom da nossa iden­ti­dade vir­tual. A dou­tora em Arte e pro­fes­sora na uni­ver­si­dade de Sevilha, Remedios Zafra, tem re­fle­xi­o­nado so­bre como se trans­mite a iden­ti­dade e a ima­gem do corpo nos ser­vi­ços on­line de ges­tom de re­la­ci­o­na­men­tos so­ci­ais. “Os cor­pos, em tanto que ma­te­ri­ais, nom som trans­la­da­dos fí­sica e li­te­ral­mente à rede, sim o som as suas ima­gens”, in­dica Zafra no seu ar­tigo ti­tu­lado Un cu­arto pro­pio co­nec­tado. Feminismo y cre­a­ción desde la es­fera pú­blico-pri­vada on­line. “A nin­guém lhe passa inad­ver­tida a po­tên­cia e a falta de ino­cên­cia dos ima­gi­ná­rios vi­su­ais que nos ro­deiam, o seu va­lor na cri­a­çom, as­sen­ta­mento e rei­te­ra­çom de li­mi­ta­çons iden­ti­tá­rias nas nos­sas vi­das”, afirma a doutora.

Na rede so­mos vis­tas, mas tam­bém for­ma­mos parte das pes­soas que vem. No mesmo ar­tigo Zafra re­fle­xi­ona so­bre como evi­tar a rei­te­ra­çom de mo­de­los he­ge­mó­ni­cos na cri­a­çom on­line, ex­pom a ne­ces­si­dade de, por um lado, a von­tade de trans­gre­dir um mo­delo e, por ou­tro, a ca­pa­ci­dade para a cons­tru­çom dumha olhada co­le­tiva: “a ide­a­çom de no­vas fi­gu­ra­çons ca­pa­zes de ins­pi­rar e con­ta­giar os nos­sos ima­gi­ná­rios pos­sí­veis ou re­vi­sar os clássicos”.

O modelo do ‘like’

Nas re­des so­ci­ais mui­tas pu­bli­ca­çons vem-se mo­de­la­das pola sua re­a­çom po­si­tiva. Parte do su­cesso e do re­clamo des­tes apli­ca­ti­vos é a ca­pa­ci­dade de fa­ci­li­tar re­forço po­si­tivo às pu­bli­ca­çons. A psi­có­loga Mai Ínsua acha que existe nas re­des so­ci­ais “umha de­pen­dên­cia da re­a­çom po­si­tiva, como o nú­mero de ‘li­kes’ que se re­ce­bem ou as ve­zes que se par­ti­lha umha in­for­ma­çom. Isto mo­dela as cou­sas que se so­bem e se exi­bem, pois to­das que­re­mos ter re­co­nhe­ci­mento”. Nesse com­por­ta­mento tam­bém se re­co­nhece Alberto (nome fic­tí­cio), de­se­nha­dor grá­fico usuá­rio des­tas re­des so­ci­ais, quem afirma que “a mai­o­ria das usuá­rias fa­ze­mos por ter umha ima­gem den­tro do câ­none nor­ma­tivo e con­tar com acei­ta­çom, su­bindo fo­tos em que sai­a­mos be­las e ale­gres”. Ainda as­sim, Alberto in­dica que na sua con­torna há gente que se sai do câ­none nor­ma­tivo de beleza.

Mai Ínsua as­si­nala que nas re­des de pu­bli­ca­çom e par­ti­lha de fo­tos “há tam­bém per­fis com cor­po­ra­li­da­des dis­si­den­tes. Mas per­ce­bim que es­ca­pando das ima­gens de cor­po­ra­li­da­des nor­ma­ti­vas, es­tava a re­ce­ber muita in­for­ma­çom dum tipo de cor­pos con­cre­tos: trans e lés­bi­cas com bas­tante mus­cu­la­tura. Com es­tas tec­no­lo­gias é fá­cil criar umha norma ainda que seja al­ter­na­tiva”. Por ou­tro lado, Ínsua sa­li­enta que o re­forço po­si­tivo pró­prio des­tas re­des so­ci­ais é im­por­tante para par­ti­lhar e re­for­çar pro­ces­sos de pes­soas com cor­po­ra­li­da­des nom nor­ma­ti­vas, como pode ser a tran­si­çom dumha pes­soa trans.

adri­ana p. villanueva

Na procura do encontro físico

A co­ne­xom per­ma­nente à Internet atra­vés dos te­le­mó­veis tam­bém pro­pi­ciou a apa­ri­çom de re­des e apli­ca­ti­vos para a in­ter­co­ne­xom fí­sica das in­di­vi­du­a­li­da­des usuá­rias e nos quais é fun­da­men­tal o em­prego do GPS in­cor­po­rado nos te­le­mó­veis para en­con­trar pes­soas re­gis­ta­das que se en­con­tram na contorna.

Como é em­pre­gada a ima­gem nes­tas apli­ca­çons? Pedro (nome fic­tí­cio), pro­fes­sor de se­cun­dá­ria e usuá­rio do apli­ca­tivo mais po­pu­lar para este tipo de en­con­tros, in­dica que “vai fo­cada a gos­tar às ou­tras pes­soas para que gos­tem do nosso per­fil e que seja pos­sí­vel ter umha ci­ta­çom com ela. Entom, pro­je­ta­mos umha ima­gem bas­tante es­te­re­o­ti­pada dos nos­sos cor­pos, da re­pre­sen­ta­çom da nossa ima­gem ou dos nos­sos gostos”.

Assim, é ha­bi­tual en­con­trar per­fis de pes­soas sem­pre sor­ri­den­tes, em lu­ga­res dis­tan­tes e exó­ti­cos ou em con­tex­tos de la­zer, o qual in­dica al­gumhas ca­ra­te­rís­ti­cas de que se pensa que a ou­tra, a pes­soa que vê, gosta. Nesse apli­ca­tivo há que emi­tir um juízo so­bre to­dos os per­fis que re­ce­bes no ecrám. Até que nom di­gas ‘gosto’ ou ‘nom gosto’ nom se acede a ou­tro per­fil. Quando dous per­fis dis­se­ram ‘gosto’ a umha da ou­tra abre-se a pos­si­bi­li­dade de fa­lar pessoalmente.

As co­mu­ni­da­des com se­xu­a­li­da­des nom nor­ma­ti­vas, no­me­a­da­mente mu­lhe­res e ho­mens ho­mos­se­xu­ais, em­pre­gam tam­bém apli­ca­ti­vos para te­cer re­la­çons ín­ti­mas e se­xu­ais. Estes apli­ca­ti­vos te­nhem um fun­ci­o­na­mento di­fe­rente ao an­te­ri­or­mente des­crito. Nestes cria-se um per­fil, ex­pom-se umha ima­gem, in­for­ma­çons pes­so­ais e no ecrám apa­re­cem, a jeito de mo­saico, as ima­gens do resto de pes­soas usuárias.

A psi­có­loga Mai Ínsua ex­plica que tam­bém nes­tes apli­ca­ti­vos só para mu­lhe­res se re­pro­du­zem nas ima­gens do corpo al­guns có­di­gos pró­prios do câ­none de be­leza nor­ma­tivo: “re­pre­sen­tam-se de­co­tes, po­si­çons sen­su­a­li­za­das para o mas­cu­lino…”. Um feito que per­ce­beu que acon­tece neste apli­ca­tivo foi que “se a idade da usuá­ria é de mais de 30 anos nom se cos­tuma pôr umha foto do pró­prio corpo e em­prega-se ou­tras ima­gens, como pai­sa­gens ou ani­mais do­més­ti­cos”. Tem de­te­tado tam­bém com­por­ta­men­tos “plu­mo­fó­bi­cos”, pois en­con­tram-se men­sa­gens nos per­fis em que se in­dica “só fe­mi­ni­nas”. Mas Ínsua tam­bém quer dei­xar claro que es­tes nom som os com­por­ta­men­tos da mai­o­ria e que atra­vés deste apli­ca­tivo se en­con­tra gente interessante.

Multidons no ecrám

A utilizaçom de dispositivos móveis e a conexom permanente propriciou a apariçom de redes a aplicativos para o encontro físico das individualidades usuárias

Miguel (nome fic­tí­cio), tra­ba­lha­dor pre­cá­rio, uti­liza os apli­ca­ti­vos de­sen­vol­vi­dos para fa­ci­li­tar o re­la­ci­o­na­mento en­tre ho­mens da co­mu­ni­dade gay. Para ele es­tes apli­ca­ti­vos “te­nhem umha parte li­ber­ta­dora, pois per­mite ace­der ao sexo a pes­soas que an­te­ri­or­mente ti­nham di­fi­cul­da­des. A fi­gura de ho­mem ho­mos­se­xual he­ge­mó­nico (branco, sol­teiro, de classe me­dia…) é res­pon­dida nes­tas apli­ca­çons, pois en­con­tra-se umha mul­ti­dom in­clas­si­fi­cá­vel (mi­gran­tes, tra­ba­lha­do­res se­xu­ais, clas­ses po­pu­la­res, gente que cuida o corpo, gente que nom o cuida…)”. Mas Miguel cita tam­bém al­guns es­te­reó­ti­pos que se re­pro­du­zem nes­tas re­des: “o câ­none es­té­tico, a plu­mo­fo­bia (apa­re­cem men­sa­gens em per­fis que dim ‘abs­ter-se pes­soas com pluma’), o es­tigma do VIH (men­sa­gens de ‘só gente sam’) e es­te­reó­ti­pos con­tra os tra­ba­lha­do­res se­xu­ais”. Porém, ex­pom que “há umha gama de pre­fe­rên­cias se­xu­ais muito mais am­pla. Encontram-se gen­tes plu­mó­fo­bas mas tam­bém ou­tra muita que nom o é. Isto move-se numha eterna per­gunta: quando se trata dumha pre­fe­rên­cia e quando dumha fo­bia?”. A hora de ana­li­sar a ima­gem do corpo que se es­co­lhe ex­por nes­tes apli­ca­ti­vos, Miguel in­dica que “há umha parte muito im­por­tante de tor­sos, de gente que oculta a cara”.

O sexo nom é me­nos puro por es­tar me­di­ado por es­tas tec­no­lo­gias”, e neste ponto Miguel as­si­nala que com es­tes apli­ca­ti­vos “a ne­go­ci­a­çom e a ex­po­si­çom de pre­fe­rên­cias é ex­plí­cita desde o prin­cí­pio, polo que se re­du­zem as am­bi­gui­da­des”. Neste senso, re­fle­xi­ona que “trans­for­mamo-nos um pouco em tra­ba­lha­do­res se­xu­ais, no sen­tido de que as re­la­çons som mais con­tra­tu­a­li­za­das”, e aponta que essa con­tra­tu­a­li­za­çom ra­cha com o mito do sexo como co­ne­xom es­pon­tâ­nea na qual nom fam falta pa­la­vras. Assim, ex­pom que “numha so­ci­e­dade em que as re­la­çons in­ter­pes­so­ais som di­fí­ceis e es­tám su­jei­tas a vi­o­lên­cias, isto fa­ci­lita a negociaçom”.

O último de Corpos

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