Maio de 2022. Um grupo de pessoas procedentes das luitas sociais apresenta um projeto de residência de maiores para umha velhez digna e, sobretodo, feliz. Menos de um ano depois já som 65 as pessoas associadas. Falamos com Nieves R. Brisaboa, presidenta da associaçom LarLilás, sobre o projeto e a sua filosofia.
Que é e como nasce LarLilás?
LarLilás nasce como umha soluçom para organizar a velhez dum modo menos triste. Surge quando um grupo de pessoas ‑maioritariamente mulheres sem descendência e do movimento feminista- a cuidar das nossas mães e pais, vimos o que significa ser idoso e a dependência. A quantidade de cousas que nom faziam nem umha residência nem um centro de dia. Entrou-nos a preocupaçom de quem ia fazer isso por nós e decidimos, em vez de escapar do problema, confrontá-lo e buscar umha alternativa. Decidimos buscar umha soluçom nom como sobrevivência, mas para ter umha vida feliz também na velhez. A motivaçom foi essa: envelhecer de forma feliz na medida do possível e subministrar-nos os cuidados que podamos precisar.
Quem conforma a associaçom?
LarLilás vem de pessoas que passamos por todo tipo de luitas –desde as luitas feministas às luitas pela democracia na época do franquismo– que ainda seguimos tendo, em muitos casos, militâncias políticas. Por isso insistimos em que temos muito que achegar à sociedade. Seguimos sendo pessoas com sentido critico, com profissons destacadas. Nom queremos criar um centro em que estejamos isoladas, queremos seguir sendo gente ativa da comunidade, porque o compromisso social fai parte dos nossos valores.
Quais som esses valores?
Queremos que LarLilás seja um centro onde todo mundo esteja integrado. Procuramos criar um entorno de gente progressista, com umha ideologia de esquerdas e um ideário que passe pelo respeito ao coletivo LGBT, a morte digna ou as ideias ecologistas. Nestes momentos tentamos achegar-nos a coletivos que estám com maiores dificuldades para pensar num envelhecimento feliz, como a comunidade LGBT. Por isso funcionamos muito polo boca a boca.
“Decidimos buscar umha soluçom nom como sobrevivência, mas para ter umha vida feliz também na velhice”
Em que se diferencia das residências de terceira idade? Por que consideram importante que exista um espaço assim?
O nosso é um espaço autogerido, a modo de associaçom sem ânimo de lucro. Nem vai haver acionistas nem um proprietário que tire mais-valias desta atividade. Nós somos as proprietárias da instituiçom que nos vai cuidar. Portanto, todo o dinheiro que ponhamos será orientado ao nosso bem-estar, nom a gerar benefícios, e todas as pessoas sócias imos organizar a vida na residência de forma democrática, pensando nas nossas necessidades e interesses.
Numa residência convencional, há certos cuidados que som assumidos polas filhas, como repor a roupa ou acompanhar os residentes às visitas médicas fora do centro. O que queremos é que dentro de LarLilás esses serviços estejam dados por completo. Que alguém supervisione como esta cada umha das pessoas residentes e se alguém começa a ter algum tipo de deficiência cognitiva receba ajuda.
Que autonomia teria cada pessoa usaria?
O problema ao falar de autonomia é que se pensa nesse conceito em confronto com a dependência. Percebe-se a autonomia como ser capaz de vestir-se ou lavar-se sem ajuda. Assim, a gente vai à residência quando nom lhe fica outro remédio, porque todo mundo assume que se esta melhor na casa. A nossa ideia nom é essa: é poder viver em LarLilás estando perfeitamente bem. Queremos criar um centro onde podamos desfrutar esses anos de velhez. A vontade de se divertir é a mesma aos 60 que aos 20. Por isso, o que queremos é nom tanto que nos cuidem quando sejamos dependentes, senom termos um ambiente social rico que emende as dificuldades para nos mover ou nos relacionar segundo perdamos capacidades, umha comunidade para conviver partilhando valores ideológicos e políticos, de colaboraçom e cuidado mútuo, onde haja gente para conhecer e com a qual estabelecer novas relaçons, de amizade e românticas, face à alternativa de estar cada quem na sua casa. Essa é a filosofia que queremos alcançar.
Que serviços pretende oferecer?
A ideia é criar umha comunidade grande, dumhas 200 pessoas, onde cada quem tenha a sua casa, de onde poder entrar e sair livremente. Queremos poder escapar da soidade associada ao envelhecimento, com um entorno social afetivo e interessante onde haja muita atividade. Por isso som precisos espaços comuns para satisfazer diferentes tipos de afeiçons como o desporto ou a agricultura.
Evidentemente, chegará um momento em que os níveis de dependência associados à velhez minguem a capacidade das pessoas. No momento em que seja razoável que essa pessoa nom poda viver de forma autónoma, teremos dentro das nossas instalaçons um espaço onde conte com umha supervisom 24 horas, sem tirá-la desse contexto social em que viveu os últimos anos. Queremos poder abordar qualquer grau de dependência, desde alguém que mentalmente esteja bem mas tenha que ir em cadeira de rodas até alguém que necessite supervisom completa.
Numas instalaçons tam grandes imos precisar umha gerência profissionalizada, pessoal administrativo, de cozinha, limpeza, jardinagem, auxiliares para a higiene e os cuidados, e, naturalmente, pessoal de enfermaria.
“Queremos umha comunidade para conviver partilhando valores ideológicos e políticos, de colaboraçom e de cuidado mútuo”
Em que fase estám agora e que fases ficam por vir?
Começamos a difundir o projeto aproximadamente em maio do ano passado, 2022, e agora mesmo estamos na ordem das 65 pessoas associadas. Isto dá umha ideia da necessidade dum projeto deste tipo. Curiosamente, estám-se a apontar muitos matrimónios com filhas, porque querem liberar as suas famílias do que supom cuidar umha pessoa dependente. Agora mesmo estamos buscando terrenos, com a ideia de fechar a compra para, como mui tarde, junho e começar com a requalificaçom.
Tenhem já pensada alguma localizaçom? Preferem um entorno mais rural ou mais urbano?
Sempre dixemos que teria que ser na contorna dumha cidade e, na medida do possível, próximo dum pequeno núcleo populacional para os serviços da vida diária. Nom queremos estar demasiado longe dumha cidade porque a maioria das sócias temos afeiçons como o cinema, o teatro, a filarmónica… às quais nom queremos renunciar. Por outra parte, nas aforas nom nos sairia tam caro construir, e estamos a falar dum terreno grande, para dar capacidade a umhas 200 pessoas. Como a maior parte das pessoas que se estám a associar som da contorna da Corunha ‑ainda que temos gente mesmo de Valencia- mui provavelmente seja nalgum concelho da contorna dessa cidade.