Periódico galego de informaçom crítica

Lembrança da gente da mina

por
Vistas dos ter­re­nos em que ins­ta­lará a mina | olaia tubío

A mina de co­bre de San Rafael, si­tu­ada en­tre os con­ce­lhos de Touro e O Pino con­tri­buiu, sem dú­vida, no cres­ci­mento de am­bos. Lembra Antonio González “Pacholo”, ex-tra­ba­lha­dor e vi­zi­nho de Arinteiro, que aos mais de 400 tra­ba­lha­do­res em nó­mina so­ma­vam-se mui­tos mais sub­con­tra­ta­dos a ou­tras em­pre­sas. Ele per­ten­cia a este se­gundo grupo: “E ainda me de­vem três me­ses!”. O seu pai tam­bém tra­ba­lhou para Río Tinto, como mui­tos ho­mens da con­torna. Quando a Pacholo lhe pre­gun­tam pola re­a­ber­tura da mina re­mexe-se no as­sento do tra­tor. “Eu nom quero mina nen­gumha”, re­plica, “o co­bre que o dei­xem es­tar aí mil anos mais, que nom marcha”.

Enquanto San Rafael os sol­dos fi­gé­rom-se no­tar, mo­de­lando a mor­fo­lo­gia da zona. Um dos com­pa­nhei­ros de Pacholo, lem­bra, ga­nhava “180.000 pe­se­tas ao mês”. Roberto lem­bra os pro­tes­tos que se­gui­ram o anun­cio do fe­che. A sua fa­mí­lia vive numha das pa­ró­quias que con­vive perto da mina. O seu pai, primo de Pacholo, foi tra­ba­lha­dor nela du­rante vá­rios anos. Daquela o co­mité de em­presa mo­bi­li­zara a po­pu­la­çom da zona, “le­vá­rom-nos de au­to­carro até Madrid para manifestar-nos”.

Os terrenos assentam-se sobre umha veta de cobre que se encontra a uns 800 metros de profundidade

Com a bai­xada do co­bre aquilo nom era ren­tá­vel”, ex­plica Ramón Míguez, “Moncho”. Por esse mo­tivo San Rafael aban­do­nou-se, já que o co­bre se­gue aí. Moncho ex­plica que os ter­re­nos as­sen­tam-se so­bre umha veta de co­bre que se en­con­tra a uns 800 me­tros de pro­fun­di­dade, “umha das más gran­des de Europa”. Quando fe­chou, conta que “mui­tos dos que ti­nham mais de cin­quenta anos pre­ju­bi­la­vam-se”. “Outros mar­chá­rom para a mina de ca­o­lim de Vimianço”, re­lata, “al­guns fô­rom para a fun­di­çom que ti­nha Minas de Río Tinto em Huelva”. Ele es­tivo ape­nas no cargo du­rante anos da se­gu­rança da mina. “Nom se fijo bem”, ad­mite, “sa­bía­mos como ti­nha que fun­ci­o­nar, mas nom era possível”.

O fe­che tivo um forte im­pacto na eco­no­mia dum mu­ni­cí­pio emi­nen­te­mente ru­ral. Anos des­pois, no ano 92, che­ga­ria o Luar. Durante 14 anos o seu platô, a sala de fes­tas Dona Dana, fijo-lhe com­pe­tên­cia a Santa Comba, Melide, Arçua ou Compostela. Para esse mo­mento fa­zia já sete anos que a mina dei­xara de pro­du­zir cobre.

Antonio González, ‘Pacholo’, ex-tra­ba­lha­dor e vi­zi­nho de Arinteiro | olaia tubío

O Prestige tam­bém re­ca­lou em Touro
Maria abre as por­tas da sua casa um do­mingo de tarde. É vi­zi­nha de Loxo, pa­ró­quia onde du­rante vá­rios anos con­vi­ví­rom di­a­ri­a­mente com o ritmo das vo­a­du­ras da mina. As pa­re­des dal­gumha casa fô­rom ce­dendo de­vido às pe­que­nas sa­cu­di­das diá­rias. Lembra bem as gre­tas, da casa pró­pria e dal­gumha vi­zi­nha. Algumha ja­nela aca­bou ra­chando por com­pleto. Hoje con­vive com o cheiro que chega da an­tiga mina, onde hoje opera umha em­presa de ges­tom de re­sí­duos, quando so­pra o vento do nor­dês. Ao quente, no sa­lom, serve ca­fés e ofe­rece bom­bons por quarta vez.

Menciona a um pro­fes­sor de ga­lego que pas­sou polo ins­ti­tuto de Fonte Diaz, mes­tre do seu fi­lho. Da sua mao re­da­tá­rom umha re­por­ta­gem, am­bi­en­tada nos ter­re­nos da mina, acom­pa­nhada dumha sé­rie de fo­to­gra­fias. Maria ainda as con­serva, e mos­tra-nos ins­tan­tâ­neas dos con­ten­to­res que che­gá­rom aos ter­re­nos da an­tiga mina, cheios do cha­pa­pote do Prestige. O seu branco ini­cial quase nom se per­cebe, co­ber­tos como es­tám dos res­tos da maré ne­gra. “Limpárom-nos aqui”, co­menta, “e isso que di­ziam que eram uns fios de nada”.

O tu­rismo, o ru­ral e a mina
Atualmente tanto Touro como O Pino sus­ten­tam a sua eco­no­mia no sec­tor ser­vi­ços e no pri­má­rio. O ca­mi­nho fran­cês fai pa­rada em Pedrouzo (O Pino), ca­pi­tal mu­ni­ci­pal onde abrí­rom nu­me­ro­sos al­ber­gues e em­pre­sas li­ga­das à ex­plo­ra­çom da via ja­co­beia. Touro tam­bém apro­veita a sua pro­xi­mi­dade à rota, ofe­re­cendo ca­sas de tu­rismo ru­ral ou al­ber­gues. Recebe ade­mais os ci­clis­tas que to­mam “o ca­mi­nho do ho­lan­dês”, um des­vio que atra­vessa a sua ca­pi­tal, Fonte Diaz.

A nova mina projeta umha balsa de resíduos estéreis com capacidade para 50 milhons de metros cúbicos

Como an­tes da mina parte da po­pu­la­çom de­dica-se à agri­cul­tura, à gan­de­a­ria ou à ex­plo­ra­çom flo­res­tal. O pró­prio Pacholo cuida agora dumha pe­quena granja. Como ele, vá­rios vi­zi­nhos da pa­ró­quia de Arinteiro. Eduardo Quintás é um exem­plo. Umha pes­soa nova que de­ci­diu apos­tar no ru­ral e atuar de re­levo ge­ra­ci­o­nal da granja da sua fa­mí­lia. A nova mina pro­jeta a ins­ta­la­çom dumha balsa de re­sí­duos es­té­reis ao ca­rom da sua al­deia, com umha al­tura má­xima de 55 me­tros e umha ca­pa­ci­dade de 50 mi­lhons de me­tros cú­bi­cos. Eles e ou­tros ga­na­dei­ros da zona vem pe­ri­gar as suas empresas.

Contaminaçom e im­pacto am­bi­en­tal da exploraçom
Roberto e Pacholo con­tam que com a an­tiga mina nom só véu o ruído das vo­a­du­ras, se­nom tam­bém o pô que che­gava da ex­plo­ra­çom quando so­prava o vento. “Nom está isso como para plan­tar lei­tu­gas”, in­cide Moncho. Ao fe­che da mina e a com­pra dos ter­re­nos se­guiu um pro­jeto para a sua res­tau­ra­çom. Mas a água dos re­gos se­gue a es­tar aci­di­fi­cada. Os mais afe­ta­dos som o Pucheiras e o Portapego, que per­ten­cem à conca flu­vial do Ulha. A as­so­ci­a­çom eco­lo­gista Adega mos­trava que os ní­veis de PH deste úl­timo som dez mil ve­zes mais áci­dos do normal.

Enquanto o co­bre está aí nom se passa nada”, ex­plica Moncho, “o pro­blema está quando o ex­trais a céu aberto e fica aí”. A chuva ar­ras­tra es­ses re­sí­duos, que aca­bam nos re­gos da con­torna da ex­plo­ra­çom. Um in­forme, pu­bli­cado por umha equipa do Instituto de Investigaçons Marinhas de Vigo-CSIC, USC, UVigo e a uni­ver­si­dade ga­lesa de Swansea, re­la­ci­o­nou a po­vo­a­çom de sal­mom do Ulha com a sua ex­po­si­çom aos re­sí­duos de co­bre. Durante a época em que a mina es­tivo aberta a abun­dân­cia de sal­mom no rio di­mi­nuiu sig­ni­fi­ca­ti­va­mente, re­cu­pe­rando-se após o feche.

Em 2015 a  Valedora do Povo abriu umha investigaçom sobre o mal estado da velha mina

Em 2015 a pró­pria Valedora do Povo, Soledad Becerril, abriu umha in­ves­ti­ga­çom so­bre o mal es­tado em que se en­con­trava a ve­lha mina, de­pois do to­que de alarma da pla­ta­forma Salvemos Cabana. A em­presa en­car­gada da sua res­tau­ra­çom, Tratamientos Ecológicos del Noroeste SL (TEN) de­sen­vol­vera um pro­jeto ex­pe­ri­men­tal im­pul­sado polo ca­te­drá­tico de Edafoloxia e Química Agrícola da USC, Felipe Macias. A re­ge­ne­ra­çom do ter­reno nom che­gou a ser in­te­gral polo seu ele­vado custo. A pró­pria TEN fora ex­pe­di­en­tada por Medio Ambiente polo em­prego de ma­te­rial nom au­to­ri­zado numha das suas investigaçons.

Ramón Míguez, ‘Moncho’, tra­ba­lhou a cargo da se­gu­ri­dade na mina | ra­quel ce­ci­lia pérez

A ju­ven­tude e a falta de oportunidades
Há quem vê, nom obs­tante, a nova ex­plo­ra­çom como a pos­si­bi­li­dade de re­cu­pe­rar umha opor­tu­ni­dade per­dida. Para Moncho, um dos gran­des fra­cas­sos das ad­mi­nis­tra­çons lo­cais foi nom tei­mar em rein­ves­tir a ri­queza da an­tiga ex­plo­ra­çom nos mu­ni­cí­pios. Na atu­a­li­dade o po­lí­gono in­dus­trial que se apro­vara na pri­meira dé­cada dos 2000 ape­nas tem em­pre­sas. Apenas seis ope­ram nuns ter­re­nos si­tu­a­dos ao ca­rom da mina de San Rafael.

Brais Oliveira tem vinte anos e vive em Loxo. “A mina nom é o pro­jeto que me pro­duz maior emo­çom”, ex­plica. Mas apoia‑a, sem­pre quando o im­pacto am­bi­en­tal se mi­ni­mize todo o pos­sí­vel. Escreve-me umha pre­gunta e umha re­fle­xiom. “De onde sae o co­bre que de­manda o mer­cado? De zo­nas sub­de­sen­vol­vi­das de África ou América do Sul. Como isto nom nos afeta o mais sin­gelo é nom pen­sar de onde saem os ma­te­ri­ais com os que está feito o nosso te­le­mó­vel, te­le­vi­sor e ou­tros cen­tos de produtos”.

Para Iván Ares, em troca, os be­ne­fí­cios eco­nó­mi­cos nom som ra­zom su­fi­ci­ente para apoiar a aper­tura da mina. Apesar de que la­menta “a falta de opor­tu­ni­da­des la­bo­rais” no con­ce­lho, nom acha a ex­plo­ra­çom seja a so­lu­çom. Para Iván o dano eco­ló­gico fi­cará aí, “quando a mina mar­che”, o que pre­ju­di­ca­ria um con­ce­lho cuja fonte de in­gres­sos “de­pende dos re­cur­sos na­tu­rais”. O mesmo ra­zo­a­mento fai Lucas Souto, vi­zi­nho de Bama. Yolanda Montero, em troca, con­fessa que nom crê con­tar com su­fi­ci­ente in­for­ma­çom como para de­can­tar-se polo sim ou polo nom.

Brais, Iván, Lucas e Yolanda per­ten­cem á mesma quinta. Conhecem, de perto ou de longe, a his­tó­ria da mina, que já fe­chara quando nas­ce­ram. Medrárom num Touro onde os sa­lá­rios da mi­ne­ra­çom já nom exis­tiam, e eram ca­ti­vos nos anos em que Luar, Dona Dana e ou­tros lo­cais no­tur­nos atraiam a mo­ci­dade da con­torna cada fim de se­mana. Nom des­car­tam re­si­dir num con­ce­lho com umha “boa qua­li­dade de vida”, mas som muito ci­en­tes das di­fi­cul­da­des de ar­ran­jar em­prego, mesmo em­pre­en­der, se de­ci­dem fi­car a vi­ver no seu lu­gar de nascimento.

O último de Arquivo

Ir Acima