Para os galegos, a pedra é algo mais que o mineral sólido que se encontra de jeito natural na superfície ou no interior da terra. Polo contrário, nas nossas penas lateja o mistério. Nas lajes graníticas os nossos devanceiros esculpírom os ininteligíveis petróglifos; gigantescas penas abaladoiras desafiam todas as leis do equilíbrio; nas inúmeras penas do altar que inçam a nossa geografia oficiavam-se práticas religiosas; muitas penas sandavam doenças físicas e mentais…
Na comarca dos Ancares há poucas penas sem batizar, que careçam de nome. E também poucas que nom tenham associada umha história ou umha lenda. Aí vai umha pequena amostra.
Na Pena da Cruz, situada no cume do monte Reboredo, na paróquia de Sam Miguel de Neira de Rei (Baralha), colocárom umha cruz de ferro em finais dos anos setenta do passado século. Diz-se que substituiu outra mais antiga. Na pena onde a chantárom havia umhas covinhas artificiais (petróglifos) onde, ao parecer, a auga da chuva que se depositava no interior era utilizada para curar enfermidades relacionadas com os olhos.
Em Vilouta (Becerreá) está a conhecida como Pena de Páscoa, situada nom mui longe do dólmen da Pedra Cobertoira. Aqui comiam os pegureiros que cuidavam das ovelhas. Na pena há umha espécie de banzo onde se juntavam os Mouros.
As Penas Mulheres acham-se por riba da aldeia das Casas do Rio (Cervantes). Em tempos que ninguém lembra, umhas mulheres que vinham do Folgoso por um antigo caminho virom-se, de súpeto, rodeadas por umha manada de lobos. Desesperadas, e quando os lobos já se iam botar sobre elas, gatunhárom polas verticais penas, decisom que lhes salvou a vida.
Em Chandeiro (Cervantes) ergue-se a Pena do Vinho. Recebe o nome porque junto delas se punham os vizinhos com garrafons de vinho para os vender aos que passavam polo lugar.
Nom mui longe da anterior temos a Pena da Noiva. Foi assim batizada porque junto dela casou umha moura que custodiava um tesouro.
O castro da Pena Talhada situa-se no Faval (Cervantes). O nome dá-lho umha grande rocha cunha fenda de mais de quinze metros. Diz-se que desde aqui existe um túnel que vai dar ao rio e que era utilizado polos mouros para ir a beber, tanto eles coma os cavalos.
A 1.403 metros de altitude sobre o nível do mar ergue-se a Pena do Santo (Cervantes). Conta-se que os vizinhos das aldeias dos arredores costumavam levar um santo até o cume cada vez que precisavam da sua ajuda. Umha vez na parte mais alta do monte, colocavam-no sobre a pena (destruída ao construir um vértice geodésico), punham-se em círculo arredor da imagem e faziam as petiçons. Finalizado o ritual, baixavam-no de novo para a igreja de Dorna. No verao de 2014 localizamos no sítio várias lousas com cruzes gravadas.
As Penas do Relógio do Sol atopam-se na ladeira do Pico de Súrcio, a 1.456 metros de altitude, no limite entre o concelho de Návia de Suarna e Leom. Trata-se de duas enormes pedras de xisto, paralelas entre si, que eram utilizadas polos vizinhos para saber a hora, que se calculava dependendo de onde o Sol pousara os seus raios. Quando a sombra se apoderava do sítio sabiam que nom tardaria em “botar-se a noite”, polo que procediam a recolher o gado para metê-lo nas cortes e eles nas casas.
A aldeia de Penamil (Návia de Suarna) acha-se a 470 metros de altitude. Sobre um pequeno curuto há um castro mui humanizado por construçons e usos posteriores. Do primitivo assentamento ainda se podem ver as pedras graníticas que faziam parte da muralha. Mais essas pedras, segundo a lenda, nom fôrom levadas ali polos construtores, senom que chegárom por causas naturais. Diz-se que há milheiros de anos o lugar foi assulagado por um terrível dilúvio, foi tanta a chuva que caiu que o rio Návia, que decorre cem metros mais abaixo, subiu tanto o seu caudal que arrastou até Penamil as pedras que se podem ver hoje em dia.
Num furado da Pena do Corvo (Návia de Suarna) havia agochada umha cozinha de ouro. Ao chegar havia que batê-la com umha pucha ou com um pano e dizer: “Toma a minha pobreza e dá-me a tua riqueza”. Entom, abria-se o chao que levava a outro furado onde estava o ouro ao que só tinham acesso os vizinhos de Várzea. Gentes doutras aldeias próximas, ciumentas, armárom-se um dia com chapos e fouços para colher a cozinha. Sabedores os de Várzea, agochárom-se no lugar e quando os assaltantes começárom a cavar, berrárom: “Covardes, baixai, que há carne fresca”. Os outros assustárom-se, tirárom as ferramentas e fugírom.
Acaroada à estrada que vai de Folgueiras a Rao (Návia de Suarna) temos a conhecida como Pena Castelo. Contam que num momento nom precisado da Idade Média, o castelo foi assaltado e destruído, disque o lugar onde os atacantes situárom os canons quedou ermo para sempre pola grande quantidade de pólvora utilizada que por queimar, queimou até as pedras.
Nom mui longe de Múrias (Návia de Suarna) há um colossal penedo de paredes verticais de lousa com covas na base. Conta-se que quando umha partida carlista fugia das forças liberais, e por medo a que estas se apoderassem do tesouro que levavam, decidírom agochá-lo na Pena de Múrias. Apesar de que fôrom muitos os que desde aquelas o procurárom, jamais lográrom dar com ele. Diz-se que está agochado no único ponto da pena de onde se divisa o campanário da igreja de Rao.
Entre Embernalhas e Munhis (Návia de Suarna) topa-se a Pena da Mulher. Em tempos das Cruzadas, duas mulheres de Embernalhas, mai e filha, iam à missa a Munhis. Ao passarem por Rigueiro decatárom-se de que esqueceram na casa um bolo que ofereceram ao santo. Entom, a mai pediu à filha que voltasse a buscá-lo, mais esta recusou-se. A mai, encabujada, largou-lhe: “Oxalá te convertas em pedra”. Quando a mai regressou com o bolo, no lugar onde tinha que estar aguardando a rapariga havia umha pena com a forma do seu corpo.
No monte da Choulinha, na paróquia da Alence (As Nogais) está a Pena do Peido. É de forma circular, a modo de mesa camilha. Quando havia rabanhos de cabras e ovelhas, os pegureiros subiam a ela para vigiar o gado e espaventar o lobo.