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Ler ou nom ler

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Confesso que nunca fum “boa lei­tora”. De nena, en­quanto al­gumhas ami­gas de­vo­ra­vam Harry Potter, eu pre­fe­ria ver a te­le­vi­som ou jo­gar pa­chan­gas. De to­dos os en­re­dos que me ro­de­a­vam, sen­tar com um li­vro es­tava mais ou me­nos no pe­núl­timo lu­gar de pre­fe­rên­cia. Ora bem: quando me per­gun­ta­vam polo meu tempo de lei­tura, res­pon­dia “so­bre meia hora ao dia”, pois apren­dim cedo o que é a apro­va­çom so­cial. E tam­pouco di­zia nen­gumha men­tira, pois bo­tava conta de todo o que lia di­a­ri­a­mente de jeito in­vo­lun­tá­rio: os le­trei­ros, o te­le­texto, os cro­mos… A soma de todo ha­via an­dar po­los trinta minutos.

No se­cun­dá­rio, Os ou­tros fei­ran­tes fijo-me re­pro­var Língua Galega e Literatura. Rara vez lia um li­vro OBRIGATÓRIO in­teiro e da­quela volta nom sa­fara com re­su­mos. Aquele feito amo­lara-me bem e co­me­çava a ter medo de ser umha in­culta ou de nom “ad­qui­rir vo­ca­bu­lá­rio” – que era a ra­zom de peso que nos dava o pro­fes­so­rado para obri­gar-nos a ler. Mas, por ou­tro lado, com ca­torze anos nom es­tava de­ma­si­ado pre­o­cu­pada polo meu vo­ca­bu­lá­rio, e a po­pu­la­ri­dade nom re­que­ria li­vros, as­sim que con­ti­nuei polo ca­mi­nho da incultura.

Rara vez lia um li­vro obri­ga­tó­rio in­teiro e co­me­çava a ter medo de ser umha in­culta ou de nom “ad­qui­rir vo­ca­bu­lá­rio”, que era a ra­zom de peso que nos dava o pro­fes­so­rado para obri­gar-nos a ler

Quando ti­nha de­zas­seis, em plena ado­les­cên­cia re­vo­lu­ci­o­ná­ria, des­co­brim o Sempre em Galiza. E fas­ci­nou-me. Mesmo ano­tava num ca­derno to­dos aque­les frag­men­tos que po­de­ria ta­tuar na mi­nha pele. Certo é que da­quela nom che­guei a re­matá-lo, mas o que lim fige-no à cons­ci­ên­cia e com gosto (nom sei se as­sim se con­serva o mé­rito da lei­tura). Decatei-me de que me po­dia pres­tar a li­te­ra­tura quando caim na conta de que ha­via mais gé­ne­ros que o nar­ra­tivo e mais au­to­ras que as que apa­re­ciam nos ma­nu­ais es­co­la­res. Porque ta­mém lem­bro que com de­zas­sete anos lim a an­to­lo­gia Poetízate e fli­pei com María Lado ou com Lupe Gómez. E, olha, no der­ra­deiro ano do se­cun­dá­rio che­guei a me­mo­ri­zar po­e­mas in­tei­ros de La voz a ti de­bida sem que nin­guém me mandasse.

Muito se in­siste no “fo­mento da lei­tura” no cur­rí­culo edu­ca­tivo. E ha­bi­tu­al­mente en­tende-se por ler qual­quer cousa como co­me­çar e aca­bar umha obra nar­ra­tiva cada três me­ses. Com frequên­cia, um único tí­tulo – es­co­lhido por umha adulta – será o que deva ler toda a di­ver­si­dade de per­soas dumha turma. E se as­sim nom é es­per­tado o gosto pola lei­tura, com­pensa-se pondo car­ta­zes su­ges­ti­vos nos cor­re­do­res ou pro­gra­mando ati­vi­da­des “di­na­mi­za­do­ras” na bi­bli­o­teca – es­paço onde no meu cen­tro as per­soas aco­dem em grande me­dida a co­piar os tra­ba­lhos para casa ou a apro­vei­tar a zona wi-fi.

Decatei-me de que me po­dia pres­tar a li­te­ra­tura quando caim na conta de que ha­via mais gé­ne­ros que o nar­ra­tivo e mais au­to­ras que as dos ma­nu­ais escolares

Som tem­pos em que pa­rece que fa­la­mos muito de edu­ca­çom, mas cuido que o sis­tema está mais longe que nunca de ser re­for­mu­lado. Nom se tenta re­du­zir os gru­pos por­que esta seja umha das cha­ves dumha edu­ca­çom pú­blica de qua­li­dade, se­nom por­que cum­pre dis­tan­ciar (ainda mais) o alu­nado. Tamém desde que nos con­fi­ná­rom sur­giu um te­mor co­le­tivo a que a ra­pa­zada nom aprenda. Umha cousa pa­re­cida ao pá­nico de ver em­pre­sas a dei­xa­rem de ren­der. Teme-se mais umha ge­ra­çom im­pro­du­tiva do que in­fe­liz. Por isso, como do­cente, ti­nha gana de fa­zer esta con­fis­som. Por ver se dei­xa­mos de pôr o foco no mé­rito, no para quê, e da­mos o passo a ou­tras per­gun­tas: Que é ler? E apren­der, que é?

Olalla Liñares é docente de língua e literatura

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