Em novembro o Porrinho vivia um ‘déjà vu’. Durante umhas obras no bairro de Pereira-Contrasto saiu à luz um pó branco que a vizinhança e as pessoas operárias reconhecérom como o produto que produzia a fábrica da Zeltia no polígono de Torneiros: o lindano. Nom era a primeira vez que se ouvia esse termo: em finais da década de 90 a Junta tivo que atuar na zona de Torneiros (inaugurando em 2001 o conhecido como ‘parque do lindano’) e em 2012 um relatório da Confederaçom Hidrográfica alertava que as águas do rio Louro, afluente do Minho, se encontravam poluídas por este componente químico.
Para compreender a presença de resíduos de lindano nos solos e nas águas do Porrinho e localidades vizinhas, há que remontar ao franquismo. Durante os anos 1947 e 1964, a empresa química-farmacêutica Zeltia estivo a fabricar lindano e outros pesticidas numha fábrica situada no parque industrial de Torneiros, no Porrinho. Um relatório sobre a poluiçom por lindano no Estado espanhol realizado pola organizaçom Ecologistas en Acción estima que no Porrinho fôrom vertidos durante estes anos umhas 1.000 toneladas de resíduos produto da fabricaçom de lindano.
Por cada tonelada de pesticida geravam-se entre seis e dez toneladas de resíduos contaminantes
Um problema internacional
Mas o que é o lindano? Trata-se de um produto que foi empregado como pesticida e cujo processo de produçom tem resultado altamente ineficiente: por cada tonelada de pesticida geravam-se entre seis e dez toneladas de resíduos de lindano ou de outras partículas com as mesmas características contaminantes. Desde 2008 é umha substáncia cuja produçom é proibida na Uniom Europeia, sendo vários os Estados em que a indústria química produziu esta substáncia e nos quais aparecérom problemas de poluiçom. Em 2015 a Organizaçom Mundial da Saúde classificou o lindano como “cancerígeno para os seres humanos”. A sua toxicidade afetaria o sistema nervoso central e o sistema endócrino, sendo tóxico também para os organismos aquáticos. Em 2009 o lindano incluía-se na Convençom de Estocolmo para a eliminaçom de poluentes orgánicos persistentes, um tratado que na atualidade já assinárom uns 181 estados.
Torneiros
Os resíduos que naqueles anos gerava a fábrica da Zeltia em Torneiros eram principalmente despejados num terreno próximo, propriedade do concelho, que a empresa explorava em regime de concessom. Após 1964, a fábrica deixa de produzir lindano mas continuará por um tempo a realizar os trabalhos de formulaçom; ou seja, compravam o lindano, formulava-se e acondicionava-se, reduzindo os riscos de poluiçom a umha má manipulaçom ou armazenamento da matéria prima, segundo se explica no relatório sobre os trabalhos de investigaçom feitos em 1999.
Umha vez finalizada a concessom para o ponto de descarga, esse terreno empregou-se como escombreira municipal e em 1975 construírom-se nessa zona habitaçons sociais. Em 1990 abre-se também umha rota cicloturística que passa pola zona em que a Zeltia descarregava o lindano.
Na década de 90 salta a polémica e as prospeçons realizadas em 1999 desvendam a presença deste poluente nos solos e nos aquíferos da zona, que confluem com o rio Louro. Entre as opçons para a descontaminaçom da zona, a Conselharia do Meio Ambiente escolherá a do encapsulamento dos resíduos de lindano numha cela de segurança in situ. Este processo rematará em 2001 com a inauguraçom do popularmente conhecido como ‘parque do lindano’. Mas a história do lindano no Porrinho nom acabará aí.
Lindano de novo
Em 2012 a Confederaçom Hidrográfica do Minho-Sil enviava um relatório à Junta da Galiza a informar das altas concentraçons de lindano no rio Louro na passagem polo Porrinho e Tui. Porém, estas informaçons nom saltárom à palestra pública até finais de 2017, após a apariçom de lindano numhas obras no bairro porrinhês de Pereira-Contrasto. Esta descoberta desvendou que o problema ia além do ‘parque do lindano’ de Torneiros, que o poluente pode estar presente por diversos pontos e que pudérom existir outras áreas de descarga descontroladas.
Em finais do ano passado criou-se a Plataforma Anti Lindano, a qual canalizou a indignaçom e mobilizaçom popular pola despoluiçom dos terrenos afetados. “Quando se fijo o ‘parque do lindano’ em 2001 vendêrom-nos que com isso estava todo solucionado. Mas agora falando com a gente vemos que isto é um auténtico desastre”, expóm Patricia Sío, que participa da plataforma. Assim, recolhendo testemunhos entre a vizinhança encontrárom-se com que os resíduos de lindano fôrom utilizados em diversas obras em caminhos e muros de contençom, polo que nom há um conhecimento preciso de qual é a presença deste poluente nas terras e aquíferos da zona. Para Sío, todo este conflito tem umha componente de classe, pois só afeta pessoas trabalhadoras, e de género, pois quem realizavam os trabalhos de manipulaçom na Zeltia eram essencialmente mulheres.
Em 2012 a Confederaçom Hidrográfica do Minho-Sil alertava para altas concentraçons
no rio Louro
Um rasto que se expande
A organizaçom ecologista Adenco, ativa na comarca do Condado, denunciou publicamente que no aterramento de umha pedreira de Ginzo, no concelho de Ponte Areias, usárom-se restos de lindano procedentes do Contrasto. Umhas analíticas realizadas em janeiro indicam que, ainda que esses verquidos foram finalmente retirados, nos solos foi detectada presença de lindano. Adenco alerta de que nos últimos meses se realizárom diversas obras de aterramento em Ponte Areias e considera necessário verificar que nom acontecesse nelas o mesmo que aconteceu na pedreira de Ginzo. Este coletivo exige saber quais fôrom as pessoas e entidades que estivérom envolvidas nesta descarga e apresentárom denúncia junto da Valedora do Povo. Também tenhem solicitado informaçom ao concelho de Ponte Areais sobre os aterramentos realizados nos últimos meses, sem receber resposta desta entidade.
Assim, a mancha do lindano nom parece que deixe de se expandir e pode aumentar a sua presença para além das zonas sobre as quais já alerta a Plataforma Anti Lindano. Atualmente, este coletivo aguarda a conhecer os resultados das zonas do Porrinho e Mós em que a Junta realizou sondagens e quais serám as atuaçons que as administraçons desenvolverám para a despoluiçom da zona.