Quando era nena, minha avoa berrava-me cada vez que intervinha nas discussons dos mais velhos sobre política. Os mais velhos eram homens. Com o tempo, reparei em que esse berro se ia convertendo num silêncio que tinha o mesmo significado. Agora ninguém di que tenho que calar, mas muitas vezes acho-me em situaçons nas quais só falam os homens e nas quais quase é impossível intervir.
Lakoff definiu na década dos setenta que falamos com metáforas e que estas determinam o nosso pensamento. A hipótese Sapir-Whorf assinala o mesmo doutra perspetiva, a forma em que nos comunicamos, a nossa língua, configura a nossa maneira de pensar. Nesta linha, as vagas do feminismo dos anos oitenta vinhérom remarcar o feito de que a nossa língua reflete o nosso pensamento, e non só o reflete senom que também o reproduz. Deste modo, quando falamos, dumha forma totalmente inconsciente estamos a contribuir para que a sociedade que criticamos continue na mesma dinámica. Se calhar, se mudamos de língua, mudamos de pensamento e mudamos o estado do mundo.
a forma em que nos comunicamos, a nossa língua, configura a nossa maneira de pensar
A língua que utilizamos reflete as relaçons de poder que se inserem na sociedade patriarcal. Exemplo disto é o emprego de termos femininos marcados negativamente e de termos masculinos de jeito positivo. Fazer-nos conscientes das implicaçons que tem poderia trazer consequências.
Eis entra o feminino inclusivo, umha das ferramentas das quais se serve a linguagem nom discriminatória. O feito de utilizarmos umha forma de expressom tam marcada funciona como revulsivo para umha sociedade que poderia responder perguntando por que nos expressamos assim ou se nom estamos a reproduzir a mesma dinámica discriminatória ao invês.
Na linha de expressom em feminino, a academia espanhola pronunciou-se a partir dalguns dos seus académicos assinalando a forma como antinatural. Os que se pronunciam costumam ser homens. Na Galiza, o debate sobre o uso do feminino inclusivo nom está tam avivado em termos institucionais. Se olhamos a composiçom das academias, as mulheres parecem nom ter a presença que caberia esperar numha sociedade equitativa. Na RAE, apenas um 17% das pessoas académicas som mulheres, na RAG perto do 21% . Nas direçons nunca ocupam os cargos visíbeis (atualmente na RAE as mulheres na direçom som primeira e segunda vogal adjuntas, na RAG tesoureira e arquivám-bibliotecária). Por que?
Se nom temos pessoas feministas nas academias está claro que o reclamo dum uso nom discriminatório da linguagem nom vai surgir
Se nom temos pessoas feministas nas academias está claro que o reclamo dum uso nom discriminatório da linguagem nom vai surgir. Som as pessoas de base as que tenhem que protestar para que o panorama mude. O feito de que apenas haja mulheres nas academias e que estejam relegadas a posiçons de invisibilidade dá mostra da situaçom de desigualdade da qual partimos. O uso da linguagem inclusiva está aí para mudar de base estas situaçons, para que a gente repare em que o fazemos a modo de protesta. A suposta dinámica discriminatória ao invés (eles usam o masculino que é o nom marcado, nós o feminino inclusivo) nom é tal quando nos decatamos de que nesse ‑a incluímos aquelas pessoas que fôrom excluídas do binómio homem-mulher que apresentam as academias. Nesse ‑a, todas fazemos visível o invisível.
A sociedade galega tem como emblema Rosalia, mulher. Mas como assinala Miguelez-Carballeira a imagem que se deu dessa mulher é muito concreta, deturpando‑a. Fruto da situaçom de opressom na que se encontra a nossa terra, a tendência seria pensar que, como as diferentes causas de reclamo se abraçam, tendo em conta o reclamo nacionalista também apareça o feminista (e o obreiro e o ecologista e o reintegracionista…). Mas nem sempre é assim. Inclusive na AGAL, no conselho só aparece umha mulher, mais umha vez, de vogal.
Fazer que a linguagem seja inclusiva, poderia fazer que esse silêncio que nos imponhem, desapareça de vez. Ou quiçais nom, mas nom há nada de mau em tentá-lo.