“O primeiro ‘nom’ das mulheres é o primeiro ‘sim’ a si próprias”, Marcela Lagarde tem a certeza de que as mulheres temos que “dizer ao mundo ‘nom’ antes de que o mundo nos deixe de lado, completamente”. Esta e outras grandes liçons sobre feminismo som as que esta mexicana deu numha sala Capitol lotada de espetadoras que querian escuitar esta gram luitadora polos direitos das mulheres o passado 19 de novembro.
Nada em Cidade de México, Marcela converteu-se, pola súa labor, num dos maiores referentes do feminismo latino-americano. Esta académica e antropóloga passou polo espaço Conversas Feministas de Compostela, organizado polo Concelho através do projeto Territorio das Mulleres, que forma parte da campanha #CompostelaEnNegro, com motivo do Dia Internacional contra a Violência de Género. E estas fôrom, efetivamente, umhas conversas onde Marcela continuou a deixar claro que queda muito por fazer, com a professora de filosofia moral e política, María Xosé Agra, como interlocutora.
A sua trajetória de luita polos direitos das mulheres e a cunhagem do termo feminicídio.
Marcela leva muitos anos a fazer deste o seu tema central. Desde os seus inícios como investigadora, que culminariam com a publicaçom da sua tese, transformada num livro intitulado Os cativerios das mulleres. Nais, esposas, monxas, putas, presas e loucas — umha das suas obras mais relevantes- até a sua eleiçom como deputada independente do Partido da Revoluçom Democrática (PRD) no Congresso Federal Mexicano, momento em que introduziu o termo feminicídio na agenda política mexicana, um momento chave para a luita contra os assassinatos de mulheres na América Latina. Em todo momento, Marcela recordou a importância do empoderamento das mulheres em todos os âmbitos, no político também, pois, nas suas próprias palavras, “eu som deputada graças às quotas”.
Marcela Lagarde foi umha das primeiras políticas de México em preocupar-se pola terrível situaçom de Ciudad Juárez, assassinatos e estupros de mulheres diariamente, que deixavam e, infelizmente, continuam a deixar as famílias das vítimas com milhares de perguntas e nengumha resposta. Porém, enquanto a maior parte dos deputados ignoravam as súplicas destas maes destroçadas, Lagarde respondeu com umha frase que passaria à história e que repetiu nestas conversas feministas: “Nom sei quem mata as vossas filhas ou porque, mas juro que o vou averiguar”, e assim o fixo. Quem mata as mulheres de Ciudad Juárez, assim como as muitas outras em todo o mundo é o patriarcado.
Contodo, esta revelaçom nom chegou sem a ajuda dum livro que cambiaria a sua perspetiva sobre as cousas e a achegaria a outra luitadora do feminismo, a estadounidense Diana Russell ‑a própria Russell agradecerá-lhe tempo depois o interesse no seu trabalho, pois ninguém na altura reparava nos seus estudos nos EUA. Lagarde estava de visita na livraria dumhas amigas quando um livro chamou a sua atençom. Era um livro de ediçom simples, em duas cores, com umha palavra grande na portada: Femicídio; a autora era Russell. Marcela colheu-no e descobriu dentro um estudo sobre os assassinatos e violaçons de mulheres, que assinalava o patriarcado e os seus filhos como foco central dentro desta realidade mundial, este livro era Femicide, the politics of women killing.
Para além disto, Marcela deu-lhe umha outra volta, para ela nom se tratava de assassinatos de mulheres, mas assassinatos de mulheres precisamente polo facto de sê-lo e isto dava-lhe uma nova perspetiva a um conceito como este. Assim foi como decidiu que nom se tratava de femicídios, mas de feminicídios. Conseguiu que fosse criada umha Comissom Especial de Feminicídio no Congresso para investigar os assassinatos de mulheres em Ciudad Juárez (que depois iria por outras zonas, trás concluir que esta nom é umha realidade exclusiva desta cidade) e promoveu o delito de Feminicídio no Código Penal Federal, assim como a Lei Geral de Acesso das Mulheres a umha Vida Livre de Violência no parlamento mexicano.
“As mulheres tardamos muitos anos suportando umha total aceitaçom da violência até que foi feito algo ao respeito, mas agora estamos a luitar juntas e o feminismo chega a todas partes”, acrescentou.
Esta questom nom é gratuita, pois as cousas que se nomeiam som mais visíveis, e por isso a criaçom dumha palavra como feminicídio foi importante nom só para México, mas também para as mulheres de todo o mundo. E nom só isso, a própria Marcela afirma que “ao nomear o feminicídio e convertê-lo em delito, é punido e isto é umha diferença fundamental”. Ademais, Marcela lembra que o Estado joga um papel mui importante como estado patriarcal. Por isso as mulheres tenhem que juntar-se em organizaçons feministas desde onde luitar polo câmbio e empoderar-se. “A sororidade é fulcral, as próprias mulheres transformando o mundo”.
O feminismo está e deve estar em todos os âmbitos da vida porque o patriarcado também o está.
Marcela também recordou que nom é só nos assassinatos onde o patriarcado subjuga as mulheres. Há muitos outros jeitos de controlo, por exemplo, por parte das instituiçons, quer sejam oficiais ou sociais, como o matrimónio.
“O matrimónio é umha instituiçom histórica de controlo das mulheres, e por isso é dentro dela onde há mais estupros”, assinalou Marcela. E falou, assim mesmo, da importância de reverter a forma em que é entendido o matrimónio e a família. “Nom há trabalho em equipa, nom há igualdade. Ensinamos às nenas e nenos nas escolas que som iguais e que tenhem que colaborar e ajudar-se mutuamente. Porém, na casa vem que nos seus próprios pais nom se aplica aquilo que lhes digérom nas aulas, entom a mensagem nom chega realmente”.
E junto com o estado ou o matrimónio, Marcela advertiu que o patriarcado e o machismo tenhem muitas outras faces e aparece de qualquer forma: violaçons, letras das cançons, jogos infantis… e a soluçom é complexa e tem que vir da mam do feminismo, do empoderamento, da educación e da sororidade: “A violência contra as mulheres está em toda parte e aparece de diversas formas, e por isso o feminismo deveria entender-se como uma filosofia política e artística de convivência no mundo”, acrescentou.
Para finalizar, Marcela lembrou que os movimentos como #metoo som importantes porque mostram que a violência e o assédio som algo que lhes acontece a todo tipo de mulheres em todo o mundo, e, ademais, indicou que, se os homens querem participar do feminismo, tenhem que ser eles quem indiquem como querem participar: “Sigo esperando que os homens digam como se vam incorporar ao movimento e, se o fam, que seja escuitando e sem dar ordens”, conclúe.
Mas Marcela é otimista e vê as metas atingidas. “O importante é que agora temos uns direitos humanos específicos das mulheres, que antes eram só umha cópia dos dos homens. As mulheres convertérom-se em “humanas” e humana é a palavra mais formosa da nossa língua, renovada polo feminismo”.