Ano 2019. Qual é o lugar das masculinidades na ressaca das ondas feministas? Que é ser um homem no século XXI? Muitos homens passam com alegria a auto-denominar-se a si próprios Feministas. Podemos ser Feministas? De ser assim, qual é o nosso espaço, a nossa funçom e, sobretudo, a nossa atitude frente à transformaçom feminista?
Dum modo simples podemos definir o feminismo como um movimento social historicamente protagonizado polas mulheres. Desta perspetiva o papel dos homens é de simples apoio, espetador passivou ou diretamente de agente reacionário na sua vertente mais individualista e violenta. Som múltiplos os espaços partilhados mistos onde o desejo de protagonismo dos homens limita e mesmo afoga a participaçom das mulheres. Entom, que sentido teria a participaçom dos homens no feminismo? Pois, claramente, nengum. Elas som as protagonistas, acadando independência, autonomia, e conquistando o direito de estarem no espaço público.
Tamém podemos definir o feminismo como movimento social que procura a equidade entre mulheres e homens. Esta definiçom inclui-nos de facto na corresponsabilidade, palavra esta dimensionada além do trabalho reprodutivo da vida. A corresponsabilidade é a atitude que promove o justo equilíbrio nos níveis social, doméstico e pessoal. O nosso trabalho, que poderíamos resumir como umha desconstruçom da masculinidade hegemónica, por palavras do sociólogo Raúl Martínez Ibars “dirige-nos para atrás e para dentro pois a única conquista do homem feminista parece ser a dumha viragem para o interior que nom costuma estar entre os desejos e as tendências predominantes da construçom cultural masculina”. Para atrás implica pôr em valor o espaço privado para sustentar a vida, aprendendo a cuidar-nos e a cuidar as relaçons que mantemos com as outras pessoas. Para atrás no espaço público e produtivo, para atrás no nosso ativismo compulsivo.
Para dentro aprendendo a viver estabelecendo um contacto com as partes mais íntimas e profundas da nossa personalidade. Aprendendo a compreender-nos e a compreender o ser humano em todo o seu abano afetivo. Para dentro vivendo e sentindo todo, abandonando o papel exclusivo no congelador emocional. Para dentro aprendendo a rehabitar os nossos corpos além da hipertonia rígida do herói protetor. Para dentro na procura dumha espiritualidade que nos transcende. Para dentro deixando de subordinar o feminino em nós próprios para poder dar-lhe valor e livre expressom.
O resultado desta viagem implica umha transformaçom da masculinidade heteropatriarcal numha diversidade de formas de vida que integram masculino e feminino, social e pessoalmente. Umha viagem que aprende a conter, a sustentar, a enroupar e a aceder aos corpos das outras pessoas sem dominância nem predominância, senom desde a permissom e a empatia. Desfrutando da sexualidade desde todo o nosso corpo. Depois desta viagem nom seremos tam homens. Talvez micromachinhos. Uns felizes de-generados.