A erupçom em setembro de um volcám em La Palma abriu umha emergência social enquanto esta ilha se via convertida no cenário de um espetáculo mediático. Novas da Galiza contactou com coletivos sociais das Ilhas Canárias para procurar umha visom alternativa do que está acontecer em La Palma, onde já antes do estouro vulcânico padeciam-se as consequências de um modelo económico colonial.
A Assembleia Canária polo Reparto da Riqueza (ACRR) leva anos realizando campanhas de denúncia da pobreza e a exclusom social nas Ilhas Canárias, “colocando sempre em relevo o desigual reparto da riqueza e o colonialismo que subjaz nas relaçons com as oligarquias locais, o Reino de Espanha e o capital estrangeiro”, indicam. Desde 2017 parte do seu trabalho pom o foco na indústria turística e as suas consequências na sociedade canária. Em colaboraçom com o coletivo Grupo de Mujeres Palmeras ‑que se conformou como grupo de apoio após a erupçom‑, desde a ACRR respondem várias questons arredor da crise social em La Palma.
O que nom sai nos meios
Destes coletivos apontam várias problemáticas que nom som recolhidas polos meios de comunicaçom, e muitas tenhem a sua origem na situaçom económica da ilha antes da erupçom de setembro. Em primeiro lugar, assinalam “o estado de empobrecimento em que já viviam muitas pessoas em La Palma antes do vulcám, para as quais nom existem os recursos habitacionais e sociais que estám a pôr-se em andamento para as pessoas afetadas pola erupçom mas que sim precisam desses recursos”. Da ACRR denunciam que esse estado de empobrecimento “deriva-se de umha situaçom de pobreza estrutural, de um modelo económico de estilo colonial e umha problemática de vivenda que vém agravando-se a cada vez mais”.
“Também existe umha carência informativa sobre a necessidade urgente ‑já existente antes da crise vulcânica- de ter um recurso insular de proteçom animal”, acrescentam. Assim, um ativista da ACRR expom que as chairas do Val de Alidane afetadas pola lava contavam com umha importante atividade agropecuária, polo que afetou também a cabeças de gado ‑fundamentalmente ovino e caprino‑, cans e animais de companhia que ficárom atrapados nas zonas de lava. Esse recurso de proteçom animal “é algo que leva pelejando-se anos, e fai-se mais evidente com os animais deslocados que estám chegando às zonas habilitadas para o alojamento e o cuidado animal, o que está implicando um desbordamento das protetoras”.
Outra problemática estrutural som as dificuldades para o acesso à água e o poder ainda presente dos ‘aguatenientes’ que controlam a gestom deste recurso e qualquer decisom que tenha a ver com as suas infraestruturas. “Há meios de comunicaçom que sim estám a evidenciar a pobreza hidráulica de La Palma embora esta ser a ilha canária mais rica a este respeito. O meios estám deixando ver propostas que estám acima da mesa mas que nom se mobilizam; mas o que nom se publica é quem ostenta o poder de impedir umha gestom justa da água em La Palma”, denunciam dos coletivos consultados.
Por outra banda, salientam que os meios há tempo que nom se achegam ao hotel de Fuencaliente, a proposta habitacional temporal da administraçom para as pessoas que nom pudérom encontrar umha vivenda alternativa. A ubicaçom deste hotel no sul da ilha fai que se torne mui complicada a comunicaçom e o transporte cara aos lugares onde estas pessoas tenhem que realizar os trâmites administrativos necessários. “Entre estas duas situaçons, e apesar do bom trato que percebem as pessoas deslocadas nestas instalaçons, muitas delas sentem umha espécie de situaçom de abandono, afastadas do seu entorno habitual, e com umha dificuldade acrescentada na questom logística”, reclamam.
Apoio mútuo
No contexto da catástrofe social provocada polo estouro vulcânico aparecérom algumhas experiências de grupos de apoio mútuo, como é o caso do Grupo de Mujeres Palmeras que responde junto com a ACRR as perguntas enviadas por Novas da Galiza. Para elas, as expressons de solidariedade, de cobertura de necessidades e de antecipaçom à necessidade “já nos semelha umha gestom anti-capitalista da crise vulcânica, nom só pola cobertura material e económica que está dando de maneira elástica por parte do povo palmeiro, senom polo apoio e a rede de cuidados que se intensifica e cresce nom só entre núcleos de ligaçom muito próxima”.
A listagem de tarefas que se enquadra dentro dessa atividade solidária é bem ampla: “Desde abrir as portas das casas; passando por trabalhar horas nos pavilhons habilitados para os serviços destinados a cobrir necessidades básicas ou para a proteçom e o cuidado animal; pôr a disposiçom de pessoas desconhecidas bens próprios; por exemplo, deixar um camiom com as chaves postas para quem o poda necessitar; transformar casas, fincas ou espaços exteriores de lares para acolher animais e atender as suas necessidades; quadrilhas para limpar cinza; e o apoio emocional, os cuidados que estám a transcender todos os espaços do vale, o sentir comum que tem intensidades e dores distintos, mas que está em todas as pessoas palmeiras”.
Turistificaçom e espetáculo
A indústria turística, porém, procurou manter os seus negócios apesar da catástrofe social em curso. Desde a ACRR e o Grupo de Mujeres Palmeras acham que após a erupçom está-se a assistir a “umha exotizaçom do fenómeno vulcânico, mensagens tranquilizadoras desde as administraçons cara ao turismo potencial, traduzidos num algo semelhante a ‘venham e desfrutem’ enquanto o povo palmeiro sofre as consequências do vulcám”. Colocam um exemplo a salientar: “as ‘guaguas’ grátis para as turistas e os transporte público de pagamento para as danificadas ‑umha semana depois de pôr em andamento as famosas lançadeiras habilitárom a bonificaçom do transporte para as pessoas afetadas polo vulcám-”. ACRR e Grupo de Mujeres Palmeras ponhem no centro do problema o colonialismo “que modifica o preço do solo, onde pessoas com salários de alguns países europeus competem por ele e pagam preços que pessoas com salários canários som incapazes de assumir”.
“Fazer conviver umha indústria de lazer e desfrute em base a um espetáculo com a dor humana da populaçom local é umha aberraçom”
Sobre o turismo chegado a La Palma desde a erupçom estes coletivos denunciam “a falta de consciência a respeito da ocupaçom do espaço e o papel das instituiçons no tocante ao turismo, gerando e vendendo realidades paralelas que nom podem coexistir. Fazer conviver umha indústria de lazer e desfrute em base a um espetáculo com a dor humana da populaçom local é umha aberraçom”. No contexto dessa criaçom de espetáculo “assistimos ao circo dos grandes meios de comunicaçom que enviárom as suas ‘estrelas’ televisivas na procura da maior acumulaçom de dor, com um sensacionalismo sem precedentes e saltando todas as normas éticas e morais jornalísticas com o único fim de competir em audiência”, acrescentam.
Entre as novidades do turismo após a erupçom do vulcám, ACRR e o Grupo de Mujeres Palmeras exponhem que se incrementou umha espécie de turismo científico ou vulcanológico — “há quem já o vê como um novo nicho de mercado”, assinalam – e também um turismo que tem a finalidade de imortalizar um ‘selfie’ com o vulcám de fundo. “O feito de que desde muitos meios de comunicaçom, a patronal turística e as próprias instituiçons se lhe desse um caráter de espetáculo à catástrofe, por cima da problema que está a acontecer, implica que La Palma se converta num parque temático mais dentro da oferta turística global das Ilhas”, salientam. Também acrescentam que há impactos do turismo que nom se explicam sem o feito colonial; e colocam os exemplos de linhas de cruzeiros que incluem na sua oferta ver o vulcám desde o mar ‑sem deixar nenhum lucro na ilha- ou mesmo a apariçom de um turismo esotérico, “apropriando-se de supostos ritos das antigas populaçons das Ilhas”.