
A aldeia de Meiro está situada numha das abas do monte Esculca, no concelho de Bueu, e é um lugar que sempre contou com umha identidade própria na comarca do Morraço. Fijo-se conhecida polo trabalho de recuperaçom do milho corvo que há anos está a desenvolver a Associaçom Cultural Meiro, a qual celebra os encontros-degustaçom anuais de produtos realizados com esta variedade.
Na primeira década do século XXI a aldeia de Meiro era um fervedoiro cultural. Alá celebrava-se cada ano o Rural Rock, um evento que tinha o seu sítio no calendário festivaleiro da comarca, abria-se umha agência de leitura, criava-se um obradoiro de teatro, editava-se a revista anual A Lingua do Corvo e, sobretodo, trabalhava-se intensamente, através da recuperaçom das sementes do milho corvo, na valorizaçom da agricultura tradicional e ecológica. Todo isto fruto do trabalho que a Associaçom Cultural Meiro, nascida em 1997, realizou desde o seu nascimento.
A língua do corvo
A revista ‘A Lingua do Corvo’ editou-se entre os anos 2002 e 2011
Repassar os números de A Lingua do Corvo é dar umha olhada às luitas populares no Morraço, à recuperaçom das tradiçons e à importância da cultura do milho no nosso país. É também um exercício de memória histórica, pois entre as suas páginas tenhem-se recolhido as lembranças de um mítin que Castelao e outros galeguistas realizaram nesta aldeia na década de 30.
A Lingua do Corvo editou-se entre os anos 2002 e 2011. Polas suas páginas aparecem as vozes de protesto contra a construçom da via rápida do Morraço ‑que partiria em dous o monte Liboreiro e que agora é tragicamente conhecida como umha das estradas mais perigosas do país‑, textos sobre a permacultura e a agricultura ecológica, muita memória das tradiçons e muita criatividade da própria vizinhança de Meiro e Bueu.
E também, naqueles tempos em que a internet nom estava tam presente como hoje, havia conteúdos internacionais que colocavam esta aldeia no mundo, como é um comunicado do Conselho Indígena Popular de Oaxaca arredor da cultura do milho, ou umha entrevista ao prémio Nobel da paz Adolfo Pérez Esquivel em 2007, quando este viajara a Combarro para conhecer as suas raízes galegas.
Conflito de águas
Disque o topónimo de Meiro vem de umha raíz pré-indoeuropeia que significa abundância de água. E efetivamente, Meiro é atravessada polo rego do Canudo, o qual encontra vários moinhos no seu caminho antes de desembocar no rio Bispo, que percorre o centro urbano de Bueu para desembocar na ria. Um destes moinhos, o conhecido como Moinho da Presa, foi recuperado pola própria Associaçom Cultural Meiro, e esta leva arredor de vinte anos empregando‑o para moer, nuns dias concretos do ano, o milho corvo que se planta nesta aldeia. A associaçom trabalhou também na reabilitaçom de outros três moinhos, mas é apenas o da Presa o que emprega para realizar as moinhadas.
Porém, este ano recebérom umha visita inesperada: umha parelha da Guardia Civil achegava-se até o Canudo para comunicar-lhes que a concessionária Aqualia denunciava-as por uso indevido das águas, enquanto a associaçom, nos dias prévios ao encotro-degustaçom do milho corvo deste ano, preparava a moinhada. Um encontro posterior a três bandas com a concessionária, o concelho e a associaçom permitiu um acordo para realizar a atividade prevista no encontro deste ano. Mas desde a associaçom ainda nom sabem o que acontecerá com a denúncia apresentada e temem que poda influir na continuidade das suas atividades.

O ciclo do milho
A Associaçom Cultural Meiro tem trabalhado muito na recuperaçom das tradiçons, fazendo da semente do milho corvo a sua bandeira. Através da salvaguarda desta espécie, a associaçom recupera a memória das labores de todo o ciclo do milho, da sementeira até o enfornado. Assim, o encontro anual, que se celebra numha fim de semana de março ou de abril, é o momento prévio a umha nova sementeira e, polo tanto, o início de um novo ciclo de cultivo.
Para esta recuperaçom, a associaçom tem trabalhado com os próprios centros escolares de Bueu, chegando a editar em 2003 umha unidade didática arredor do milho corvo. Porém, após a morte da um dos bois que conformavam a última parelha destas bestas em Meiro, o lavrado da terra deixou de fazer-se com o arado tradicional. E como consequência disto também se rematou abandonando o trabalho didático com as crianças da vila, que visitavam Meiro para as labores de sementeira.
Os centros escolares de Bueu participárom na recuperaçom das tradiçons arredor do milho
A sementeira começa polo mês de abril com os trabalhos de preparaçom de terreno prévios ao lavrado. Quando se passava o arado atirado polos bois, ia-se botando a semente nos regos abertos. Mais adiante, quando a pranta já está algo medrada, venhem as cavas e os rareos. Ao chegarem os meses do verao será preciso atender o correto rego da parcela. Quando as plantas já tenhem botado as espigas de milho corta-se o pendom, a flor masculina que está no alto da planta, para evitar que o vento as tire abaixo.
A colheita começará com a corta dos milheiros, que se realiza polo Sam Miguel. Após a corta, as plantas acumulam-se em palheiros, e quando os milheiros se encontrem secos será o momento da esfolhada e passam a armazenar-se nos hórreos. Logo, segundo as necessidades de cada família, realizará-se no seu momento o debulhado do milho, o qual se costuma fazer empregando umha maçaroca para extrair as sementes.
Depois será preciso moê-lo, pois o consumo tradicional de milho no nosso país e através da farinha. Essa moenda realizava-se nos moinhos de água dos rios Canudo e Frade. Ficaria entom o enfornado para fazer o pam. Na aldeia de Meiro, os fornos costumavam estar nas casas particulares, a carom da lareira. Existiam alguns aproveitamentos específicos para o milho corvo, pois a sua farinha era empregada para elaboraçons tradicionais dos chouriços, das filhoas de sangue ou da bola de Natal.
Neste 2019, o Encontro Degustaçom do Milho Corvo, umha festa declarada de interesse turístico, celebrava a sua vigésimo primeira ediçom. Desta volta, há alguns temas que preocupam à associaçom sobre a continuidade da sua labor. Umha delas é a denuncia apresentada por Aqualia, e outra é a apariçom do javarim polas terras de Meiro. Porém, o milho corvo continuará medrando. Polo de agora, é momento de sementeira.