Perante o medo, o controlo social e a desesperança empenhamo-nos em buscar as oportunidades que traz consigo a enésima crise do capitalismo patriarcal colonial. Nom nos referimos ao mantra do “há que reinventar-se” e demais promessas individualistas de salvaçom frente ao colapso. Falamos de afinar o olhar e de identificar onde se estám a abrir brechas para seguir impugnando este sistema biocida.
Esta crise estremeceu os cimentos dalguns consensos neoliberais que até agora contavam com nula ou insuficiente contestaçom social. O impacto devastador de anos de desmantelamento da saúde pública. O escandaloso negócio da externalizaçom de serviços públicos para as grandes empresas. Que as atividades essenciais tenham as piores condiçons laborais e sejam feminizadas. As dificuldades que grande parte da populaçom temos para satisfazer as necessidades de alimentaçom, habitaçom e abastecimentos. E, claro, a falência das atuais políticas públicas para responder à precariedade e ao empobrecimento.
O debate sobre as necessidades básicas e sobre quais som os elementos imprescindíveis para umha vida vivível passou de estar nas assembleias feministas para filtrar-se nas agendas de setores sociais mais amplos. Nas conversas da vizinhança. É bem provável que muitas dessas reflexons arrefeçam com as medidas de retorno à “nova normalidade”. Tudo dependerá de em que medida sejamos ‑quem trabalhamos na construçom de horizontes de transformaçom social- capazes de pôr o foco em questons que nom podem esperar até a próxima crise sistémica.
Levamos tempo construindo umha leitura crítica da realidade, tratando de intuir as mudanças profundas nas formas de organizar vidas, trabalhos, empregos e cuidados que estamos a viver agora. Nesta altura, já nom valem as mesmas receitas de sempre, que nos levam ao mesmo lugar. É tempo de questionar de forma clara o núcleo das políticas sociais atuais e a sua a lógica de funcionamento.
Os rendimentos mínimos som umha espora de angústia, estigma e mal-estar, condenam a umha nom vida, à pura sobrevivência a meio dumha selva de trâmites, entrevistas e informes
Os rendimentos mínimos nom som outra cousa que gestom e controlo das pessoas empobrecidas. Gestom de mao de obra precarizada e submissa para o mercado mediante os itinerários de inserçom e da eterna capacitaçom para o emprego. Controlo polo exame a que som submetidas as chamadas “usuárias” dos serviços sociais. Além disso, os rendimentos mínimos som umha espora de angústia, estigma e mal-estar para quem se enfrenta ao labirinto da burocracia. Condenam a umha nom vida, à pura sobrevivência ao meio dumha selva de trâmites, entrevistas e relatórios. Tudo isso para aceder a quantias irrisórias, que estám longe de garantir umha vida digna. Ou alguém crê que se pode viver com 400 euros?
Esse é o esqueleto do rendimento mínimo vital aprovado polo governo central. Um rendimento condicionado, dirigido a coletivos específicos, outorgado a famílias ou unidades de convivência, com importes por debaixo do limiar da pobreza e ao qual se acederia logo de esgotar outros subsídios e prestaçons. Conhecemos muito bem como levam funcionando essas políticas em diferentes territórios, também na Galiza com a Risga.
Por isso é tempo de reivindicar umha vida digna como um direito irrenunciável. De avançar nun modelo que garanta a autonomia e a dignidade das pessoas. Que aposte pola defesa do público e polo resgate do comunitário e do comum. Nom se trata de marcas nem de sobrenomes. Trata-se dos valores que permeiam e que orientam o sentido das propostas. Defendemos a Renda Básica das Iguais porque trabalhamos para criar riqueza comunal. Para gerar práticas e experiências de auto-organizaçom locais destinadas a satisfazer necessidades básicas. E também para ajudar-nos a decidir quê, como e para quê produzimos e reproduzimos a vida.