Txerra Rodríguez é um bom conhecedor da realidade linguística da Galiza. Dedicado ao campo da sociolinguística e a traduçom, trabalha como técnico de êuskaro na cooperativa EMUN. Tem traduzido livros como o “Made in Galiza” ou “Caçador de bruxas”, de Séchu Sende, para o êuskaro e gere o seu blogue pessoal sobre sociolinguística: “Garaigoikoa”. Atualmente prepara a sua tese de doutoramento em que investiga os logros dos movimentos sociais ligados ao ativismo linguístico no País Basco.
Tés comentado que uma língua nom sobrevive apenas com escolas de imersom lingüística, é necessária a combinaçom com os movimentos sociais de base. O que achas das Escolas Semente?
Acho é um dos maiores logros do ativismo galego. Contudo, temos que ter em conta que hoje som ainda muito minoritárias e, para além disso, chegam para um intervalo de idade também reduzida. Semente tem que se desenvolver muitíssimo mais, expandir-se territorial e socialmente e atingir maior franja de idade. Ainda com isto nom será suficiente. Há que ter em conta que uma criança passa na escola o 16% do tempo que está desperta, sem termos em conta doenças pontuais. O que acontece com o outro 84%?
Quais os campos de atuaçom reais da escola?
A escola tem que ensinar, por um lado, destrezas lingüísticas básicas, com todos os limites que já esbocei na resposta anterior. Por outro lado, a escola deve transmitir afetividade de cara à língua, isto é: que o galego é útil, necessário e que falar galego aqui e agora é o mais moderno que se pode fazer neste mundo.
Há que ter em conta que uma criança passa na escola o 16% do tempo que está desperta, sem termos em conta doenças pontuais. O que acontece com o outro 84%?
Por último, a escola deve transmitir conteúdos socioculturais específicos, relacionados com a cultura galega como pode ser o Apalpador e outros muitos saberes e tradiçons hoje modernizadas como a regueifa.
Projetos como Tribo, em que nais e pais preocupadas pola transmissom do galego organizam-se para juntarem as suas crianças em parques e ruas, som fundamentais para completar esse espaço de socializaçom que nom preenche a escola. Como se tenhem socializado este tipo de práticas no País Basco?
Existem muitas práticas nas vilas bascas em relaçom com a socializaçom das mais novas em êuscaro. Em Gasteiz e em Bilbo houvo há vários anos experiências tipo Tribo, que atualmente nom está em marcha. Som experiências militantes e se a pessoa fundamental que gere os grupos nom consegue seguir, é fácil os grupos caírem.
Agora bem, surgírom diferentes iniciativas mais formalizadas que tratam o tema: por um lado, uma rede de associaçons dos tempos livres que estám a desenvolver, aqui e ali, iniciativas para a participaçom das crianças, no sentido mais amplo, em processos de socializaçom; por outro lado, há em muitas vilas grupos de nais e pais que se juntam todos os dias para falar em êuscaro entre elas, enquanto as suas filhas estám nas atividades extraescolares. Existem iniciativas, mas muito locais.
Diferentes sociolingüistas tenhem focado a atençom na figura das neofalantes como agentes fundamentais para a revitalizaçom do galego. Qual o papel que tenhem nesse processo em situaçons de conflito lingüístico como pode ser o caso do País Basco ou da Galiza?
Acho haveria primeiro que fazer uma crítica ao conceito de neofalante. Demasiadas vezes é considerada como a pessoa que aprende ou começa a falar êuscaro ou galego na idade adulta. Esquecemos que praticamente todas as pessoas alfabetizadas somos neofalantes dum modo ou outro.
Feita esta pequena crítica, as neofalantes som absolutamente necessárias na Galiza e em Euskal Herria. Nestes momentos, está-se a preparar um programa no qual vam participar todas as organizaçons do movimento social em favor do êuscaro e todas as instituiçons públicas deste país, para durante 11 dias ativas todas as euscaldunas. Mas, nom apenas isso, também se criou uma figura chamada belarriprest (ouvido pronto), que som pessoas que entendem o êuscaro mas tenhem dificuldade para falá-lo. Nesta dinâmica as pessoas neofalantes som as protagonistas e som a única forma que temos para aumentarmos o uso dos nossos idiomas.
A sociolingüística basca está muito influenciada pola teoria da aprendizagem da língua de Sánchez Carrión, Txepetx, que baseia na motivaçom, a percepçom e o uso. Caso aplicarmos isto, as neofalantes de galego, com umha aprendizagem secundária, chegariam da motivaçom para o uso. A pergunta é: como se cria a motivaçom, “interesse e razons por aprender”, na língua menorizada nesta situaçom de conflito lingüístico?
Caso ter a resposta, iria às carreiras para a oficina de patentes forrar-me (depois arrependeria-me e poria baixo licença livre). Brincadeiras à parte, é essa a grande pergunta à que coletivamente devemos dar resposta praticamente todas as comunidades de falantes de línguas menorizadas.
em muitas vilas grupos de nais e pais que juntam-se todos os dias para falar em êuscaro entre elas, enquanto as suas filhas estám nas atividades extraescolares.
Podo esboçar algumha resposta referente ao caso basco, nom sei se podem ser extrapoláveis à Galiza. Até agora, o motor da motivaçom no caso basco foi o que podemos chamar a etnicidade. Isto é, o motor da motivaçom no caso basco foi fundamentalmente o giro copérnico do nacionalismo basco na década de 60. Até esse momento a religiosidade e o sangue (o apelido, se se quer) eram os traços que o nacionalismo colocou no centro do ‘ser basco’. Nos anos 60, esses conceitos fôrom totalmente aniquilados. Assim, umha nova geraçom di que nom, que o centro diferencial do basco é a língua. Dentro dum contexto de enorme emigraçom, colocar a língua no centro é um ato de inclusão e a persecuçom do êuscaro por parte do franquismo conferiu ao idioma uma aura de resistência que chegou praticamente até hoje (é pouco habitual que entre unionistas haja pessoas que falem êuscaro).
Essa motivaçom foi de grande ajuda e trouxo-nos até aqui, mas acho está acabada e nom pode ser a motivaçom que enganche a mocidade basca. Devemos procurar outras que movam a moinho da recuperaçom, porque falar êuscaro (e galego) na maior parte dos casos implica um esforço extra e apenas umha parte da populaçom será determinante. A maioria adequará-se (sem contar com minorias que atuarám à contra). O que moverá essa minoria? Razons identitárias, com certeza, mas também estéticas, de distinçom cultural e razons ecológicas com a ideia de fundo da diversidade lingüística mundial, a começar pola própria.
É necessária a implicaçom das instituiçons no processo de naturalizaçom lingüística? Como é que se poderiam implicar?
As instituiçons seguem a ser hoje fonte de poder e como tal haverá que seguir a pressionar para tratar de incidir nas suas políticas públicas. Mas seria um erro achar que a implicaçom das instituiçons é o objetivo principal do processo de revitalizaçom. Nom: as leis por si próprias nom produzem mudanças sociais se nom existe supremacia social e cultural.
Por esta razom, acho o principal objetivo do ativismo lingüístico deve ser fortalecer-se. Para isto deverám-se criar muitas cousas, todo isto seguindo exemplos como as Semente e os centros sociais: nom aguardar e fazer. Procurar cumplicidades, autogestom, apoios.
Duas oportunidades que o ativismo lingüístico galego deve aproveitar?
Acho o próprio ativismo galego é maior de idade e os participantes do mesmo deveriam ser quem marquem as suas próprias oportunidades e reptos. Agora bem, perguntas-me e é responsabilidade minha tentar dar resposta.
acho o ativismo lingüístico galego deve baixar à comunidade e criar estruturas locais que gerem novas formas e novos referentes.
Primeiro, acho é hora de que o ativismo lingüístico galego supere a divisom ortográfica, nengumha das duas correntes pode aspirar a umha total hegemonia a curto prazo. Portanto, acho é o momento de chegar a um acordo, acordar relaçons de convivência a curto e meio prazo.
Segundo, acho o ativismo lingüístico galego deve baixar à comunidade e criar estruturas locais que gerem novas formas e novos referentes. Por exemplo, meios de comunicaçom locais em galego, ou associaçons dos tempos livres que sejam ademais o mais vanguardistas quanto à relaçom com as crianças. Nom podemos esquecer que nom chega com criarmos em galego ou êuscaro, devemos ser as mais originais e as mais autênticas. Qualquer cousa que nasça de abaixo, autogestionada e com o máximo apoio social.