
No passado mês de março, em plena pandemia, Nós Televisión celebrava o primeiro aniversário da sua atual etapa na plataforma de R. Falamos com Diego Frey, Ana Viqueira e Roi Barros do modelo do meio, de jornalismo e de projetos de futuro em tempos incertos.
Nós Televisión apresenta-se como um meio que trabalha “desde abaixo e desde dentro”. Que supom este modelo de jornalismo?
Diego Frey: Supom um esforço diário por buscar temáticas distintas, demandas de coletivos pouco visibilizados que nom poderiam ter esse espaço noutra televisom. Nós Televisión sempre tivo um olhar social e colaborativo, seguramente pola própria natureza do projeto.
Ana, como diretora do programa ‘Espazo Aberto’, quais som os critérios com os que escolhedes os temas que tratades no informativo?
Ana Viqueira: O ‘Espazo Aberto’ leva à prática o modelo de jornalismo defendido desde a marca Nós Televisión. Procura dar espaço e voz às que costumam ser esmagadas polos mass media e pretende interpretar as informaçons com umha perspetiva galega, de classe, feminista e que tenha em conta os direitos da terra e do povo. Nom sempre é possível. Cada dia enfrentas-te às agendas mediáticas dos mass media, às limitaçons dos teus próprios recursos ou a obstáculos ao direito de acesso à informaçom e a dados públicos. Exercer um jornalismo colaborativo, galego, feminista e de classe é exercer umha batalha permanente.
Nós nasce em 2013 e desde entom o projeto foi crescendo e evolucionando num contexto de mudanças mui aceleradas nos meios audiovisuais. Que balanço fazedes destes anos e como encarades o futuro?
D.F.: No início a televisom nom tinha um rumo definido, nom havia umha estrutura profissionalizada nem pessoas com experiências prévias. A complexidade técnica para fazer televisom é grande e tivemos de aprender tudo de zero, pouquinho a pouco.
O futuro vemo-lo com otimismo. Vimos de ganhar o Prémio Rosalia da Deputaçom da Corunha, um grande reconhecimento para nós. Além disso, cremos que a televisom já é um referente para umhas poucas pessoas no país e isso já dá fôlegos avondo. Gostaríamos de aprofundar mais em conteúdos culturais e linguísticos; repousá-los mais, se calhar. Tratar o tema das fronteiras é algo que nos interessa muito… Como exemplo, nestes vindouros meses faremos umha reportagem ao longo da Raia e outra sobre a relaçom que tivo o Zeca Afonso com a Galiza.
Emitides na plataforma de R, mas também difundides conteúdos através da rede. Percebedes que os diferentes canais de acesso ao vosso trabalho implicam diferenças em aspetos como o perfil da audiência, a resposta, a repercussom…?
D.F.: Nom achamos que seja mui distinto. Se calhar a idade pode variar, mas o perfil da audiência é bastante semelhante. A gente que sintoniza Nós em R fai-no com certa cumplicidade, é gente com umha sensibilidade semelhante à nossa, que valoriza a iniciativa apesar da falta de recursos.
Onde sim que encontramos essa diferença nas audiências é no YouTube. Quase 40% das pessoas que seguem a televisom ali som do Brasil ou de Portugal. Nesta etapa estamos tratando de produzir conteúdos interessantes para essa audiência, como é o caso do programa ‘Galego de Todo o Mundo’, dirigido por Eduardo Maragoto, da AGAL, e mesmo colaborando com meios portugueses, como esquerda.net.

Estes últimos meses estivérom marcados pola crise do coronavírus. Como afetou ao vosso trabalho?
Roi Barros: Como câmara, afetou-me muito. Nom havia rodas de imprensa e tanto instituçons como organizaçons políticas e sindicais enviavam as informaçons já mastigadas. Nom podia exercer o meu trabalho. A isto somavas-lhe o medo das pessoas a combinar para realizar entrevistas, e em certo modo, isto perdura. Pouco a pouco, vai-se perdendo o medo inicial.
Esta crise situou no foco questons como os boatos, a sobreinformaçom, a ideia de pós-verdade…
A.V.: Agravou-se umha situaçom já existente, um problema sistémico e estrutural causado em boa parte pola indústria que se lucra da informaçom. O capitalismo converteu o direito à informaçom num marketing de ‘likes’. Podemos dissecar a doença e diferenciar boatos, sobreinformaçom, pós-verdade, infoxicaçom, etc., mas, no fundo, a enfermidade que afeta ao jornalismo nom é diferente à que sofre a saúde pública ou a educaçom. A guerra contra o lucro é umha batalha comum em todos os setores profissionais que defendemos um direito.
Nós Televisión é um dos poucos meios privados que empregam a língua galega. Como valorades o fato de que esta aposta suponha hoje umha excecionalidade?
D.F.: É triste, mas nom podemos dizer que o panorama dos meios em galego seja um ermo. Há muita vida, moreias de projetos bem interessantes, mas resulta difícil fazê-los visíveis. O nosso projeto pretende colaborar na normalizaçom do seu uso no espaço audiovisual galego, cooperando ativamente com produtoras e plataformas como Illa Bufarda, GZ Música, Kalandraka TV, Galeguizar Galicia, associaçons como A Mesa ou a AGAL, outros meios como O Salto ou Galiza Contrainfo… Temos de ser capazes de criar umha rede colaborativa que tenha mao da língua galega.
Numha televisom pequena, quais som as maiores dificuldades para manter a viabilidade económica num momento tam complexo?
D.F.: Atrancos sempre houvo. A viabilidade de qualquer meio independente em língua galega pode dizer que nom é fácil. Sendo um meio audiovisual, ainda é mais complexo. Financiar um meio em galego, e mais umha televisom, é umha aventura diária e tés de assumir as dificuldades, dar muitas voltas e aprender a trabalhar com poucos recursos. Mas sim é certo que tem de haver umha aposta mais decidida nas próprias instituiçons e mesmo no tecido empresarial galego, que nom acaba de arriscar polos meios alternativos em galego.
“Há moreias de projetos bem interessantes de meios em galego, mas resulta difícil fazê-los visíveis”
Acabamos de viver um processo eleitoral atípico e condicionado pola pandemia. Como vistes o papel dos meios públicos galegos nestas circunstâncias e, de jeito mais geral, nos últimos anos?
A.V.: Entrei por primeira vez na Rádio Galega a fins do ano 2010 no período de práticas da carreira de jornalismo, voltei em 2012 com umha bolsa de um ano e a última vez que a pisei foi em 2018, quando rematei um contrato de dous anos de duraçom. Neste tempo, a violência contra as trabalhadoras e contra o direito à informaçom agravou-se muito.
O que sucede na CRTVG é umha agressom à Galiza: a perda das delegaçons territoriais que converteu a informaçom local em apontamentos de sucessos pitorescos, o acosso laboral que paralisa as trabalhadoras e promove a auto-censura, as contínuas suspeitas de manipulaçom das listas de contrataçom pública ou a perda da produçom própria. E o sensacionalismo e o partidismo pró-Núñez Feijóo já existente agravou-se na pandemia.
Devemos defender como povo a CRTVG. A educaçom pública nom só a defende o professorado, a saúde pública nom só a defendem as profissionais da saúde e polos meios públicos nom só deve luitar ‘Defende a Galega’. A qualidade da CRTVG é umha questom de país. A CRTVG leva anos a dessangrar-se e se a deixamos morrer de privatizaçom, detrás dela irá o jornalismo e o audiovisual galegos. Os projetos comunicativos autogeridos e os projetos comunicativos privados, por mui afins que sejam, nunca serám nem substituirám o público. A equipa de Alberto Núñez Feijóo leva tempo vendo‑o com mais claridade que os sindicatos e partidos: na CRTVG jogamo-nos todo o país.