Se para algo serviu este ano e meio de Covid foi para dar umha nova e forte volta de porca ao já ferido rural galego, e especialmente aos setores produtivos, sem compaixom por parte dumha Junta da Galiza entregue em corpo e alma às grandes trasnacionais produtoras de pasta e energia, aos grupos especulativos de investimento e a todo aquele que queira a sua parte da torta num território perfeitamente embrulhado em papel de agasalho.
Nom se descobre nada novo. Conhecemos, sofremos mais bem, as políticas lesivas para o território e para quem o habita que saem dos gabinetes da Junta, muitas vezes desenhadas desde Bruxelas nesse ordenamento agrário europeu em que a Galiza será sempre provedora de matérias primas baratas e espaço de saqueio.
Se o começo da pandemia véu marcado pola proibiçom das feiras e dos mercados tradicionais e pola blindagem das grandes áreas e supermercados como provedores únicos de alimentos, nos últimos meses tocou a aprovaçom da Lei de recuperaçom de terra agrária da Galiza, o Plano florestal e a ondanada eólica que promete encher o país de moinhos de vento.
No ordenamento agrário europeu a Galiza será sempre provedora de matérias primas baratas e espaço de saqueio
Estas últimas medidas precisam um rural despovoado e desestruturado para serem efetivas e responder aos seus interesses reais, que nom coincidem nem com as ordens e reais decretos publicados no seu dia pola Junta, nem muito menos com a campanha publicitária, institucional, empresarial ou simplesmente da prensa amiga e bem paga: nem redimensionamento das exploraçons agrárias, nem novas oportunidades para a gente do rural, nem ordenaçom florestal, nem energia “verde”. Mas desmontar esta andaimada de mentiras precisaria muito mais espaço do que dispomos.
Este clima de crise do sistema, o uso do medo para justificar as medidas –pouco eficientes e contrárias aos interesses dos setores produtivos primários no rural e por extensom a toda a sua (cada vez mais minguada e avelhentada) populaçom–, complica a atividade agrarista mais ainda, se cabe. Ja nom só há que lutar contra um modelo que reservava para a Galiza o papel de provedor barato de leite, com cada vez menos granjas, mais grandes, mais intensivas e mais dependentes dumha complexa rede de insumos criada ao redor das grandes transnacionais da alimentaçom, as sementes e os fitossanitários, como quase única alternativa na produçom alimentar, ou a cada vez maior concentraçom de granjas de produçom de carne em determinadas áreas do país, deslocadas doutras localizaçons estatais e até europeias. Ja nom é só a eucaliptizaçom (agudizada pola moratória parelha ao Plano florestal) ou um modelo vitícola feito à medida dos grandes grupos foráneos, que compram terreno em competência desigual com o nosso campesinato arredor das denominaçons de origem: agora já é um modelo indiscutivelmente colonial, que ameaça diretamente com roubar a propriedade da terra (através da Lei de recuperaçom de terra agrária).
Difícil papel fica para o agrarismo nacionalista, mas nom é impossível nem se pode desligar da luita pola soberania nacional. Por isso, é insultante ver como desde determinadas posiçons assimiladas a organizaçons espanholas seguem a apresentar-se conceitos tam básicos como a soberania alimentar ligados ao auto-consumo, ou, pior ainda, a umha suposta estratégia estatal em que a Galiza nom passa de ser umha “regiom” à altura de Murcia ou La Rioja. Nom é tempo de rendiçom, de entreguismo: é tempo de luita, de alianças, de entendermos a defesa do nosso rural, das nossas capacidades produtivas, da nossa obriga e direito a garantirmos como e de que maneira queremos alimentar-nos, do território, das nossas classes populares como eixo fundamental da nossa sobrevivência como povo.