
Ao longo dos últimos anos o coletivo LGBT+ presenciou umha escalada de violência inédita desde a aprovaçom do matrimónio igualitário no 2005, lei que se bem nom atingia a opressom estrutural vivida polo coletivo nem melhorava substancialmente as nossas condiçons materiais de existência, supujo umha mudança de paradigma ao nível da aceitaçom social da diversidade sexo-afetiva. O assassinato de Samuel Luiz, o primeiro assassinato homofóbico na Galiza em quase duas décadas, nom se trata de um caso isolado, senom a expressom mais extrema de umha mudança que está a acontecer ao nível sistémico. Assim, no mesmo fim de semana era agredida umha mulher trans em Compostela e eram vandalizados vários pontos de referência para o coletivo LGBT+ ao longo de todo o país, atos vandálicos que só se reforçárom e se estendérom após as mobilizaçons maciças do 5 de julho em repulsa a esta violência.
O assassinato de Samuel Luiz, o primeiro assassinato homofóbico na Galiza em quase duas décadas, nom se trata de um caso isolado, senom a expressom mais extrema de umha mudança que está a acontecer ao nível sistémico
Em Avante LGBT+ consideramos que estamos num novo ponto de inflexom, com a chegada de novas geraçons nas quais o coletivo está nom apenas “tolerado” ou “aceite” senom normalizado e celebrado. Porém, e seguindo a Gramsci, é no claro-escuro entre o mundo novo que nasce e o velho que nom acaba de morrer onde nascem os monstros. Assim, a mostra de que o detonante da violência extrema que sofremos é a nossa nova visibilidade e presença na sociedade podemos vê-la no facto de a maioria de agressons LGBTfóbicas se concentrarem no mês do Orgulho, junho, assim como imediatamente posterior.
O detonante da violência extrema que sofremos é a nossa nova visibilidade na sociedade, como prova que a maioria de agressons LGBTfóbicas se concentram no mês do Orgulho
Consideramos naïf atribuir a Vox, partido que nem sequer conta com representaçom na Galiza, a origem de todos os males do coletivo. Se bem que carregam com a sua parte de responsabilidade por institucionalizar uns discursos que até há pouco nom tinham cabimento nas cortes espanholas – mas sim no dia a dia do PP e do PSOE –, esta vaga de violência enquadra-se num processo global de retrocesso nos nossos direitos. Isto é especialmente certo para o coletivo trans, que vê como as conquistas das últimas décadas estám a ser desmanteladas em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, os quais pola sua posiçom de hegemonia cultural influenciam a política de todo o globo.
Consideramos ‘naïf’ atribuir a Vox a origem de todos os males do coletivo, dado que esta vaga de violência se enquadra num processo global de retrocesso nos nossos direitos
Enquanto o presidente Feijó nega o caráter homofóbico do assassinato de Samuel em base ao desconhecimento da sua sexualidade por parte do assassinos, nós temos claro que nom nos matam por ser LGBT+, senom por parecê-lo, por transgredir as normas de género. É por isto que a desconfiança e o assinalamento que está a proliferar em ambientes de esquerda contra as pessoas trans e nom binárias se traduze num reforço da violência que sofre o conjunto do coletivo, e até pessoas que sem pertencer a ele som discriminadas por nom serem quem de se adaptar às ditas normas de género. Portanto, se queremos acabar com toda a violência que sofrem as pessoas LGBT+ e conquistar um futuro de liberdade para todas, devemos purgar de todos os espaços as ideias que vinculam as pessoas trans ao machismo e ao neoliberalismo, que as acusam de apagar as mulheres ou de serem os heraldos da morte pós-moderna da luita de classes.