Laura (nome fictício) foi despedida o 16 de março, no começo da pandemia. Ao igual que umha de cada quatro pessoas trabalhadoras no estado espanhol, dedicava-se à hotelaria. O dono do bar, que no momento em que estas linhas som escritas está a manifestar-se em Santiago reclamando ajudas para o seu setor, nom a podia meter num ERTE porque, nos três anos que levava trabalhando, nunca lhe figera contrato.
O caso de Laura foi um de tantos que levámos na Unión Anarcosindicalista desde que foi declarado o estado de alarme. Viu pedir ajuda rebotada de outros sindicatos “combativos” que nom tinham tempo para um caso tam pouco glamouroso como o seu. Chegou ao nosso local sem saber em que consistia umha açom direta nem que o preço da consulta era, simplesmente, acudir quando outro companheiro precisasse o seu apoio ou solidariedade. Possivelmente, aguardava que fossemos um grupo de personagens pitorescos e pobremente organizado, o tantas vezes repetido e auto-cumprido estereótipo do anarquista hoje em dia. Mas o que encontrou foi umha biblioteca com mais de 3.000 livros e um punhado de trabalhadores de diferentes setores falando dos seus problemas do choio. Um espaço vivo e ativo, lugar de juntança para as pessoas trabalhadoras.
Laura chegou ao nosso local sem saber em que consistia umha açom direta nem que o preço da consulta era, simplesmente, acudir quando outro companheiro precisasse o seu apoio ou solidariedade
Fomos para a frente com o caso de Laura e com os que continuárom a chegar, mas em pouco tempo estávamos saturados. A situaçom sócio-económica propiciada pola pandemia e o desproporcionado aumento dos abusos da patronal colocou de novo na palestra o problema recorrente do sindicalismo revolucionário atual: faltam forças e sobram estigmas. Nom éramos suficientes para enfrentar um aumento tam grande dos abusos laborais na Corunha porque, ainda que muita gente se diga anarquista, mui pouca está disposta a organizar-se. E que classe de “revolucionário” nom se organiza? Porque intelectuais super-desconstruídos, pseudo-ácratas a favor da legalizaçom da prostituiçom e discursos cheios de vazia retórica pós-moderna temos a esgalho.
A situaçom sócio-económica propiciada pola pandemia e o desproporcionado aumento dos abusos da patronal colocou de novo na palestra o problema do sindicalismo revolucionário atual: faltam forças e sobram estigmas
Ao nosso entender, hoje é mais preciso do que nunca espalhar a solidariedade, o apoio mútuo e a autogestom através do exemplo, ainda que a alguns lhes pareça cousa do passado. Entendemos que o sindicato é umha ferramenta idónea para luitar polas nossas ideias e liberdades. O facto de muita gente desesperada procurar ajuda laboral nos sindicatos anarquistas que há polo território, a raiz desta pandemia, reforça-nos na nossa postura. Pessoas que jamais pisárom um sindicato, que nom sabiam o que era o anarcossindicalismo nem se consideravam anarquistas, mas que chegado o momento decidírom organizar-se com os seus iguais para luitar polos seus direitos, sem liberados nem subsídios que comprem o seu silêncio.
Isso é o positivo. Que Laura e os outros que nom se definiam como anarquistas, aprendérom a organizar-se e a luitar por si próprios e polos demais. E ainda que a este ritmo precisaremos muitas luitas (e muitas Lauras) para o anarquismo voltar a ser identificado com o apoio mútuo, com a solidariedade e com a autogestom, nós continuaremos, como sempre, a luitar polos direitos da classe trabalhadora.