Periódico galego de informaçom crítica

O Estado

por
Karl Marx. ro­bert diedrichs

O pen­sa­mento mar­xista his­to­ri­ca­mente ins­pi­rou o sur­gi­mento de vá­rios mo­vi­men­tos so­ci­ais e po­lí­ti­cos de es­querda. Nas dé­ca­das de 60 e 70, ali­men­tou ide­o­lo­gi­ca­mente os mo­vi­men­tos re­vo­lu­ci­o­ná­rios de li­ber­ta­ção na­ci­o­nal do cha­mado Terceiro Mundo, o que co­nhe­ce­mos como pen­sa­mento an­ti­co­lo­nial. Uma com­bi­na­ção des­sas duas cor­ren­tes foi o que de­fi­niu o ca­mi­nho de grande parte do pen­sa­mento de es­querda con­tem­po­râ­neo na Galiza.

Embora te­nha pas­sado muito tempo e as trans­for­ma­ções vi­ven­ci­a­das pelo país se­jam nu­me­ro­sas, vá­rias pre­mis­sas des­ses qua­dros teó­ri­cos acom­pa­nha­ram as su­ces­si­vas ite­ra­ções da es­querda so­be­ra­nista no de­se­nho de suas es­tra­té­gias. Especificamente, a forma de en­ten­der o Estado, ex­ces­si­va­mente ma­ni­queísta e fun­ci­o­na­lista, julgo que con­ti­nua tendo uma in­fluên­cia sig­ni­fi­ca­tiva so­bre a es­querda galega.

Em pri­meiro lu­gar, um ele­mento con­subs­tan­cial ao mar­xismo clás­sico tem sido en­ten­der o Estado como uma ‘coisa’ sus­cep­tí­vel de ser pos­suída, e cuja ori­en­ta­ção ge­ral pode ser con­tro­lada por aque­les que con­se­gui­rem che­gar ao seu topo. Desta pers­pe­tiva, a posse de um Estado pró­prio per­mi­ti­ria o seu uso. A sua au­sên­cia, se­gue-se, obri­ga­ria ao seu pa­de­ci­mento. No en­tanto, longe de ser um ob­jeto neu­tro su­jeito a po­ten­ci­al­mente di­ver­sos fins, o Estado em ques­tão será sem­pre um Estado ‘ca­pi­ta­lista’, na me­dida em que está obri­gado a fa­ci­li­tar a acu­mu­la­ção de ca­pi­tal, man­ter o va­lor da mo­eda pró­pria, con­ti­nuar fa­ci­li­tando a ex­plo­ra­ção do tra­ba­lho as­sa­la­ri­ado, criar con­di­ções fa­vo­rá­veis para os ca­pi­tais es­tran­gei­ros… Galego ou es­pa­nhol, es­ses são os seus com­pro­mis­sos fun­da­men­tais. Alterar a sua es­cala ge­o­grá­fica, por si só, re­ve­lar-se‑á in­ca­paz de al­te­rar a sua na­tu­reza ‘ca­pi­ta­lista’.

Relacionar-se com o Estado ape­nas como um agente re­pres­sor perde pers­pe­tiva so­bre as suas fis­su­ras in­ter­nas. Não par­ti­ci­par ne­las per­mi­tirá que aque­les a quem nos opo­mos o façam

Em se­gundo lu­gar, o ên­fase no an­ta­go­nismo en­tre Galiza e Espanha tem li­mi­tado a com­pre­en­são das múl­ti­plas es­ca­las ge­o­grá­fi­cas do Estado que nos go­verna. Tão Estado são os mais de tre­zen­tos mu­ni­cí­pios ga­le­gos e suas qua­tro di­pu­ta­ci­o­nes, quanto as re­gu­la­men­ta­ções de­ci­di­das em Madrid, Bruxelas, Estrasburgo ou Frankfurt. Em con­sequên­cia, um ima­gi­ná­rio po­lí­tico que di­vide as for­ças de es­querda que tra­ba­lham em e a par­tir da Galiza en­tre um polo ‘es­pa­nhol’ e ou­tro ni­ti­da­mente ‘ga­lego’ pre­ju­dica as pos­si­bi­li­da­des de ação con­cer­tada por parte das for­ças po­lí­ti­cas con­trá­rias ao re­gime de do­mi­na­ção atual, ao mesmo tempo que des­va­lo­riza a par­ti­ci­pa­ção em es­ca­las ter­ri­to­ri­ais di­fe­ren­tes da so­nhada para um fu­turo es­tado pró­prio. Onde quer que se de­cida so­bre as nos­sas con­di­ções la­bo­rais, nos­sas in­fra­es­tru­tu­ras ou nossa edu­ca­ção, é obri­ga­tó­rio estar.

Finalmente, existe uma mar­cada ten­dên­cia em con­si­de­rar o Estado pri­ma­ri­a­mente como re­pres­sivo. Como Borxa Colmenero es­cla­re­ceu em um ar­tigo re­cente em Clara Corbelhe, a fun­ção emi­nen­te­mente re­pres­siva e con­tro­la­dora do Estado, seja pró­prio ou es­tran­geiro, não eli­mina sua fun­ção ati­va­mente cri­a­dora de iden­ti­da­des, con­sen­sos e sub­je­ti­vi­da­des. Ele não ape­nas cria a ‘es­pa­nho­li­dade’, mas tam­bém, em­bora de uma forma que pos­sa­mos re­jei­tar, a ‘ga­le­gui­dade’. Por exem­plo, nas elei­ções ga­le­gas de 2016, den­tro do elei­to­rado que se au­toi­den­ti­fi­cava como ‘na­ci­o­na­lista’, a força mais vo­tada foi o PPdG. A par­tir do Estado, cons­trói-se uma ideia de ga­le­gui­dade que pode não ser do nosso agrado, mas que funciona.

Em re­sumo, ao nos re­la­ci­o­nar­mos com o Estado como se fosse ape­nas um agente re­pres­sor, per­de­mos a pers­pec­tiva so­bre suas fis­su­ras in­ter­nas. Não par­ti­ci­par de­las re­sul­tará na­que­les a quem le­gi­ti­ma­mente nos opo­mos as­su­mindo esse pa­pel. Não se pode dei­xar ne­nhum es­paço sem disputar.

investigador pós-doutoral no University College de Londres (@preyaraujo)

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