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O feito diferencial das migradas galegas é o que metiam na mala: a língua”

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Davide Cabaleiro debuta como diretor com ‘Sitio Distinto’, um documentário que pom voz à emigraçom galega no País Basco mas também a história do encontro da cultura basca e galega, que umha vez juntas estouram em criatividade. Davide quijo afundar nesta realidade quando, como galego migrado, reconheceu a nossa língua em históricos bairros obreiros de Bilbau. Após cinco anos de recolhida de testemunhas e esforços por procurar financiamento, ‘Sitio Distinto’ quer ser umha homenagem aos milheiros de emigrantes da Galiza no País Basco.

Sitio Distinto’ é umha “chis­cada de olhos” aos Resentidos e a Antón Reixa que tam­bém sae no do­cu­men­tá­rio. Por que este título?
Escolhim o tí­tulo por três ra­zons, tam­bém, como tu dis, por lhe chis­car o olho ao Antón Reixa, já que achei que a sua pe­gada cul­tu­ral e os la­ços que te­ceu a ní­vel li­te­rá­rio e mu­si­cal com a cul­tura basca. Mas tam­bém qui­gem chis­car o olho à mi­gra­çom ga­lega, que se viu obri­gada a mar­char da sua terra e che­gou a “um sí­tio mui dis­tinto”. Numha ter­ceira pers­pe­tiva “si­tio dis­tinto” tam­bém fô­rom os bair­ros que criá­rom os ga­le­gos em ter­ras bascas.

Que é ‘Sitio Distinto’? Um es­tudo et­no­grá­fico, so­ci­o­ló­gico ou sim­ples­mente um re­flexo da re­a­li­dade ga­lega no País Basco?
O ou­tro dia um ra­paz ga­lego de 25 anos co­men­tou-me que vi­nhera ver Sitio Distinto aguar­dando que fosse um es­tudo com da­dos so­bre as mi­gra­das ga­le­gas e nom en­con­trou isso. Sitio Distinto tem parte de do­cu­men­tá­rio so­ci­o­ló­gico e mesmo et­no­grá­fico mas eu nom o de­fi­ni­ria as­sim. É mais um con­junto de his­tó­rias pes­so­ais que se vam te­cendo ar­re­dor da ex­pe­ri­ên­cia mi­gra­tó­ria e o país que re­cebe essa migraçom.

700 Km de dis­tân­cia e um país to­tal­mente dis­tinto, duas re­a­li­da­des opos­tas mas que fi­nal­mente se po­dem com­ple­men­tar e en­ri­que­cer mu­tu­a­mente. As pri­mei­ras mi­gra­das ti­nham al­gumha ideia de a onde chegavam?
As pri­mei­ras mi­gra­das co­lhiam um com­boio na vila mais perto da sua al­deia e bai­xa­vam onde ha­via tra­ba­lho ou pen­sa­vam que po­dia havê-lo. As ca­rac­te­rís­ti­cas des­tas pri­mei­ras mi­gra­das eram um ní­vel cul­tu­ral muito baixo e mui­tas, de facto, eram a pri­meira vez que vi­a­ja­vam (mas era umha vi­a­gem para ir tra­ba­lhar e dei­xando ab­so­lu­ta­mente tudo). Portanto, pre­o­cu­pa­çom polo si­tio onde iam che­gar. A sua pre­o­cu­pa­çom pri­o­ri­tá­ria era ga­nhar di­nheiro para po­der vol­tar no an­tes pos­sí­vel para a Galiza.

"As primeiras migradas viviam em situaçons de pobreza extrema, partilhando casa até três famílias e com realidades mui duras"

Mas to­das es­tas mi­gra­das te­nhem algo que as di­fe­ren­cia do resto das mi­gra­das che­ga­das dou­tros sí­tios do es­tado es­pa­nhol, na sua mala to­das me­tem a sua lín­gua: o ga­lego é umha cul­tura mui di­fe­ren­ci­ada. Fam-no sem re­pa­rar, nom é algo cons­ci­ente. Isto pro­voca no povo re­cep­tor, no País Basco, um olhar di­fe­rente a es­tas mi­gra­das. Um olhar que se trans­forma em res­peito e cum­pli­ci­dade, já que é um ponto em co­mum com o seu povo: as ga­le­gas tam­bém te­nhem umha lín­gua diferente.

Tu tam­bém és mi­grante, che­ga­che para es­tu­dar um mes­trado e já le­vas sete anos. Que po­de­des par­ti­lhar as mi­gra­das da tua ge­ra­çom com as primeiras?
Partilhamos dous ‘p’. O pri­meiro é o ‘p’ de po­lí­tica. Tanto essa ge­ra­çom de mi­gra­das como a mi­nha, ti­ve­mos que mar­char da nossa casa por umhas po­lí­ti­cas ne­fas­tas, no meu caso é a do PP, umha po­lí­tica her­deira desse fas­cismo do 36 que tam­bém fijo mi­grar a mi­lhei­ras de ga­le­gas pola fame.

O se­gundo ‘p’ é o de po­breza, que no caso da mi­nha ge­ra­çom trans­forma-se em pre­ca­ri­e­dade. A pre­ca­ri­e­dade da mi­nha ge­ra­çom nom tem nada a ver com a po­breza que nos pre­ce­deu, mas eu como mui­tas mo­ças e mo­ços ti­vem que mar­char da Galiza para pro­cu­rar umha si­tu­a­çom eco­nó­mica me­lhor. As pri­mei­ras mi­gra­das vi­viam em si­tu­a­çons de po­breza ex­trema par­ti­lhando casa até 3 fa­mí­lias e com re­a­li­da­des mui du­ras. No do­cu­men­tá­rio sae a Mercedes, que conta como cada sá­bado saiam da sua vila au­to­car­ros in­tei­ros cheios de pes­soas para tra­ba­lhar nos al­tos fornos.As ga­le­gas co­lhiam os pi­o­res tra­ba­lhos e os de­sen­vol­viam numhas con­di­çom de du­reza extremas.

As mi­gra­das de agora es­ta­mos ao mesmo ní­vel de pre­ca­ri­e­dade do que as vas­cas ou qual­quer moça do es­tado, a di­fe­ren­cia é a nossa formaçom.

Fala-me de Mercedes. Quem é?
Mercedes é umha se­nhora de 80 anos de Vila de Cruzes, e che­gou ao País Basco com 20. Ela tra­ba­lhava na ta­berna da fa­mí­lia mas a ta­berna es­tava cheia de al­va­néis que iam to­mar o vi­nho de­pois de tra­ba­lhar. Um dia um de­les dixo-lhe que ti­nha um primo ga­lego que tra­ba­lhava no País Basco do que ia gos­tar. Mercedes e ele co­nhe­cê­rom- se e na­mo­rá­rom por carta, ca­sá­rom e ela fi­cou em Arçua e ele em Bilbau. Passado um tempo ella dei­xou a Galiza e véu para Bilbau. Mas ela conta-me como quando ia de fé­rias à Galiza ti­nha o en­cargo do seu pa­trom de tra­zer ga­le­gos tra­ba­lhar. Da sua vila saí­rom cen­tos de mo­ços de­pois em au­to­carro para vir tra­ba­lhar aqui. Umha vez che­ga­dos ocu­pa­vam bair­ros in­tei­ros e cons­truíam as suas ca­sas com umha ar­qui­te­tura par­ti­cu­lar que nada a ver ti­nha com a basca, plan­ta­vam gre­los e fa­la­vam em ga­lego. Nestes bair­ros ainda se es­cuita fa­lar ga­lego a dia de hoje.

Suponho que ‘Sitio Distinto’, ade­mais da tua es­treia como di­re­tora dumha longa-me­tra­gem tam­bém é umha vi­a­gem in­te­rior, as raí­zes do teu povo na tua nova casa. O que apren­de­che fazendo‑a?
Aprendim a sen­tir, a va­lo­rar o que sou e de onde ve­nho. Lembro que quando che­guei que­ria apren­der basco, já que eu adoro as lín­guas. Enquanto apren­dia e pa­ra­lelo ao meu pro­cesso de eus­kal­du­ni­za­çom, fum co­nhe­cendo as bas­cas, te­cendo ami­za­des… Dim-me conta que ti­nham umha ideia da Galiza um pouco des­vir­tu­ada, olha­vam para nós com des­pres­tí­gio, como se nom nos con­si­de­ras­sem um povo to­tal­mente… Mas para mim po­der dar-lhe ar­gu­men­tos po­lí­ti­cos e de­fen­der o meu país na sua lín­gua foi ma­ra­vi­lhoso, e a mui­tas descolocava-as.

Desmontei os tó­pi­cos de “gaita, polvo e Fraga”. Dizendo-lhes em basco que eu era ga­lego mas que nunca co­lhim umha gaita e gos­ta­ria de que Fraga nom ti­vesse exis­tido nunca… O que quero di­zer é que eu sou a ter­ceira ge­ra­çom de mi­gra­dos já que sou fi­lho e neto de­les mas rei­vin­dico-me como mi­grante mas tam­bém ci­da­dao do País Basco com pleno direito.

O teu do­cu­men­tá­rio fala de duas re­a­li­da­des di­fe­ren­tes: a ga­lega e a vasca, que se en­con­tram e nom dam meia volta se nom que se ob­ser­vam e quando se co­nhe­cem, som ca­pa­zes de ad­mi­rar-se. Pom-me exem­plos des­tes encontros…

"Para os bascos, ‘Sítio Distinto’ é umha ferramenta para conhecer umha realidade que tenhem diante e nom conhecem"

Conhecim em Cork, no sul da República de Irlanda, Isaac Xubin que foi o meu pri­meiro pro­fes­sor de basco, com esse nome po­des ima­gi­nar de onde era! Ademais é o pri­meiro es­cri­tor ga­lego pre­mi­ado pola Academia basca da lín­gua pola es­colma de po­e­mas de Joseba Sarrionandia e au­tor do pri­meiro di­ci­o­ná­rio ga­lego-eus­cara. Gabriel Aresti, umha das fi­gu­ras mais re­le­van­tes da li­te­ra­tura em eus­cara do sé­culo XX ti­nha por cos­tume as­sis­tir como ju­rado ao Premio de po­e­sia Rosalia de Castro no Centro Galego de Baracaldo ao que es­tava mui unido. Falando de li­vros tam­bém a Historia de Euskal Herria, li­vro da edi­to­rial Txalaparta, foi es­crito por um his­to­ri­a­dor ga­lego de Quiroga, o Xosé Estevez.

A ní­vel mu­si­cal po­de­mos fa­lar de Kepa Junkera, Budiño e Uxía e nos anos 80 há mui­tos gru­pos ga­le­gos que lem­bram que to­ca­vam mais no País Basco do que na Galiza… O bom­baço já foi Nación Reixa, o pro­jeto mu­si­cal de Kaki Arkarazo, Mikel Abrego e o pró­prio Reixa… Imagina! Um grupo com mú­si­cos bas­cos e can­tante ga­lego… Isso foi umha mar­ci­a­nada, mas foi brutal!

Na Galiza, ‘Sitio Distinto’ está a ter muito su­cesso e tivo umha grande aco­lhida em Cineuropa, mas… Di-me a ver­dade: que tal aco­lhida tem en­tre o pú­blico basco? Interessam-se por nós?
Os bas­cos alu­ci­nam, a úl­tima vez que se pro­je­tou aqui foi umha se­gunda-feira às oito da tarde numha sala do cen­tro de Bilbau, na Gran Via. Tinha umha ca­pa­ci­dade para 400 pes­soas e en­cheu. O 60 por cento do pes­soal era eus­kal­dun… Mas no co­ló­quio pos­te­rior to­das fa­la­vam de que ti­nham al­gum fa­mi­liar, ami­zade ou vi­zi­nhas de ori­gem ga­lego… Sitio dis­tinto é umha fer­ra­menta para co­nhe­cer umha re­a­li­dade que te­nhem di­ante e nom co­nhe­cem. Olhes para onde olhes, há ga­le­gos. O do­cu­men­tá­rio é um ins­tru­mento para a con­tru­çom do país tam­bém, por­que o País Basco de hoje tam­bém está feito pola emi­gra­çom. Os bas­cos po­nhem-se di­ante dumha re­a­li­dade, que é sua, e des­co­nhe­cem. Umha vez a co­nhe­cem, alu­ci­nam e agradecem.

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