Periódico galego de informaçom crítica

Retrato de Marinha, sentada na erva, com calças azuis, sudadeira e o cavelo curto.

O mais bonito é romper com o hegemónico desde o quotidiano”

por
Retrato de Marinha, sentada na erva, com calças azuis, sudadeira e o cavelo curto.

Marinha é de Caldas e tem 23 anos. Mora na Corunha, mas sempre estivo “dum lado para o outro”. Detrás do seu nome está Queixumes, um projeto de ilustraçom e fanzines onde se pode reconhecer toda umha geraçom galega. 

O que é Queixumes? 
Queixumes é o pro­jeto que abrim quando ti­nha 18 anos, num mo­mento de mui­tas mu­dan­ças em que sen­tia mui­tas cou­sas. Para le­var me­lhor essa si­tu­a­çom, co­me­cei a fa­zer de­se­nhos e a par­ti­lhá-los ‑penso que no facto de os par­ti­lhar ha­via um ponto de nom es­tar so­zi­nha, sen­tindo que me ali­vi­ava. A gente co­me­çou a se in­te­res­sar no que fa­zia e, a par­tir disso, o pro­jeto to­mou umha di­men­som mais social. 

É um pro­jeto que nom tem uns rit­mos con­cre­tos nem umha fi­na­li­dade clara, se­nom que vai fluindo. Sempre de­se­nho desde o que vou sen­tindo. Por isso, há uns mo­men­tos nos quais de­se­nho muito e me ape­tece par­ti­lhar, e ou­tros em que nom. Isso é im­por­tante para mim. 

Tés te­má­ti­cas fa­vo­ri­tas?
Penso que sem­pre de­buxo muito desde o quo­ti­di­ano, por­que é algo que vivo mui in­ten­sa­mente. Acho ma­ra­vi­lhoso pôr a aten­çom nas cou­sas do dia a dia, da re­a­li­dade que nos ro­deia. E, no meu caso, su­po­nho que o que fago re­pre­senta a re­a­li­dade dumha pes­soa nova de 23 anos ‑por­que isso é o que me atra­vessa a mim-. Ao tempo, a mú­sica tra­di­ci­o­nal move-me muito e sinto que, nas co­plas, há his­to­rias fas­ci­nan­tes que pas­sá­rom de ge­ra­çom em ge­ra­çom atra­vés da mú­sica. Muitas ve­zes te­nho von­tade de ilus­trar es­sas co­plas. Diria que es­tes som os te­mas que mais apa­re­cem no que fago. 

E tam­bém há um com­po­nente po­lí­tico no que fás. 
Para mim, tudo o que acon­tece na nossa vida quo­ti­di­ana é po­lí­tico. O meu jeito de ocu­par o mundo ‑como mu­lher, ga­lega, lés­bica…- é atra­ves­sado por umha po­lí­tica dis­tinta ao dou­tra pes­soa. O como me re­la­ci­ono com as mi­nhas ami­gas, com as mi­nhas vi­ven­cias, o pra­ti­car baile tra­di­ci­o­nal… todo isso é po­lí­tico. Rompe com o he­ge­mó­nico. Para mim, o mais bo­nito é rom­per com cou­sas desde o mais pu­ra­mente quo­ti­di­ano, desde as cou­sas mais pe­que­nas que fa­ze­mos no dia a dia. Há muito po­der de trans­for­ma­çom aí. Mais in­cluso do que po­de­mos fa­zer desde a ac­çom or­ga­ni­zada. Penso que par­ti­lhar os meus de­bu­xos tam­bém tem a ver com ce­le­brar essa trans­for­ma­çom do quo­ti­di­ano das pes­soas que es­ta­mos em lu­ga­res nom normativos. 

Nom con­si­dero que todo aquilo de que gos­ta­mos ou que nos in­te­ressa te­nha que se con­ver­ter numha fonte de ingressos

Como os per­so­na­gens mo­ran­gos? 
Sim (ri). Nom sei por que os fi­gem as­sim. Muita gente pre­gunta tam­bém por que fago tan­tos mo­ran­gos e penso que é por­que, um dia, di­ver­tim-me de­se­nhando-os e, con­forme ia fa­zendo mais, vim que eram per­so­na­gens sem gé­nero. Totalmente fora do sistema. 

Por que de­ci­di­che nom te de­di­car pro­fis­si­o­nal­mente a isto? 
Desde cri­ança de­bu­xar foi um es­paço no qual es­tar co­migo mesma e um jeito de ca­na­li­zar as emo­çons. Nom quero que esse es­paço se nu­ble por in­te­res­ses eco­nó­mi­cos. Há ou­tras cou­sas que quero fa­zer a ní­vel la­bo­ral e am­bas po­dem exis­tir em pla­nos di­fe­ren­tes da mi­nha vida. Nom con­si­dero que todo aquilo de que gos­ta­mos ou que nos in­te­ressa te­nha que se con­ver­ter numha fonte de in­gres­sos. Para mim, as cou­sas que me dá o de­buxo, se as ca­pi­ta­li­zasse, de­sa­pa­re­ce­riam. Acho lindo cui­dar isso. 

Por ou­tro lado, algo mui bo­nito que me deu este pro­jeto foi co­nhe­cer mui­tas pes­soas que es­tám a ati­var um pa­no­rama de au­to­e­di­çom na Galiza. É um mundo mui in­te­res­sante que animo à gente a in­ves­ti­gar e conhecer. 

O último de Contracapa

Ir Acima