O objetivo da sua cámara ajudou Jordi Borràs a decifrar os movimentos da extrema-direita nos Países Cataláns. Hoje este fotojornalista é um grande conhecedor do funcionamento de organizaçons como Societat Civil Catalana e das ligaçons de Ciutadans com a extrema-direita, e plasmou-no em vários livros. Acabou de publicar ‘Dies que duraran anys’, umha escolma de fotografias e textos de diversa autoria do 1 de outubro em diante, e que ele descreve como “o outono mais besta das nossas vidas”. Um dos livros mais vendidos neste Sant Jordi.
O 1 de Outubro deixa um importante património emocional na Catalunha, mas que património deixa a nível político?
Podem-se tirar muitas coisas boas. A primeira: o país avançou quando houvo umha conexom direta entre a vontade popular e o governo. O que aconteceu nom foi que quatro líderes independentistas se deram um golpe na cabeça e enganaram muita gente. Havia umha demanda social que se traduziu numha conexom com o Parlament. A gente do parlamento fijo caso à gente da rua, e isto é importantíssimo já que ainda que poda parecer lógico nom há muitos precedentes disto. A segunda: o facto de que sectores do independentismo tradicionalmente enfrentados foram capazes de deixar de lado o que os separa para se centrar no que tinham em comum. Por último, o capital político que deixa entender que coletivamente, depois da proposta de fazer um referendo, fôramos capazes de levá-lo a cabo e que ninguém o desse parado. Isto é umha liçom tremenda e creio que vai ser a base do rumo independentista nos próximos anos: se fomos capazes de fazer isto, podemos fazer outras coisas “impossíveis” até o objetivo final. A prova de que o independentismo nom fracassou é que, pola primeira vez em 40 anos, o estado tem diante um inimigo político que nom sabe como combater; nom falamos dumha organizaçom “terrorista” que há que combater, mas gente que se uniu para votar e mostrou as vergonhas do Estado.
“Nom houvo manifestaçons unionistas sem agressons violentas”
Paralelo ao referendo, xorde o fenómeno unionista. Foi o independentismo quem reativou este fenómeno?
Como dixo Pablo Iglesias, nom? Isto é umha falácia imensa. Quem acordou o fascismo foi o nacionalismo espanhol. De facto, o nacionalismo espanhol ‑coma reaçom ao independentismo- é o fator de coesom. O grande problema é que o nacionalismo espanhol é incapaz de respeitar todas as naçons, as línguas, as culturas que integrou sempre, primeiro quando eram império e agora que som estado. O estado espanhol há 400 anos que está a perder territórios, o último o Saara no ano 75. Partindo daqui, o que fijo o nacionalismo espanhol foi dar coesom a toda esta extrema-direita com um único objetivo que é manter a unidade de Espanha. Esta extrema-direita sai agora à rua com partidos teoricamente democráticos. PSOE, PP e Ciutadans manifestárom-se com umha dúzia de organizaçons de extrema-direita. No dia 8 de outubro havia 14 organizaçons de extrema-direita na rua do braço com o Albiol e a Arrimadas. Portanto, quem acordou o fascismo, ainda que pese ao senhor Iglesias, é o nacionalismo espanhol. Um nacionalismo espanhol que também encontramos dentro de Podemos.
O que é a Societat Civil Catalana e por que há que desmontá-la?
É umha organizaçom que nasce em abril de 2014 tentando imitar a ANC mas que nom decorre dumha demanda social mas ao invés. Som partidos e gente mui afim ao governo espanhol, como é o senhor Moragas, quem decidem montar isto. Nasce de diretrizes políticas muito concretas e cara abaixo. A Societat Civil Catalana tem 72 sócios fundadores e nom é assemblear como o é a ANC, ademais gasta enormes quantidades de dinheiro que nom se sabe de onde saem… Qual é o seu grande problema? Que como amostra do que é o espanholismo transversal está formado por um núcleo importante de extrema-direita: desde franquistas, carlistas-tradicionalistas até neonazis. Isto quijo-se negar até que figem um livro para o demonstrar, e apesar das ameaças de me denunciarem por injúrias, nunca recibim a denúncia.
Ciutadans é um partido de extrema-direita como o qualificou há pouco um jornal francês?
Nom. Com isto há que ser mui rigoroso. Isto nom quer dizer que nom seja um partido com vínculos com a extrema-direita. Há muitos casos de gente que em 2011 ia por Plataforma per Catalunya e nas municipais de 2015 magicamente passou para Ciutadans e evidentemente há muito traspasso de votos de gente que um ano votava opçons de extrema-direita e agora vota Ciutadans. Como fijo o PP, Ciutadans sempre tentou que nom houvesse um partido de extrema-direita para poder contar com estes votos. O maior especialista nisto foi Manuel Fraga. Numha entrevista no ano 96 dixo “se Espanha nom tem umha extrema-direita violenta é porque o PP foi capaz de a fazer moderada e constitucional”. O PP, e agora Ciutadans, som capazes de instaurar gente da extrema-direita nas instituiçons. A extrema-direita espanhola sempre estivo mui ancorada no passado e nom conseguiu revisar o seu discurso. Estes partidos concorrem com ella. De facto, os primeiros que proponhem retirar o cartom sanitário aos imigrantes no Parlamento catalám fôrom PP e Ciutadans. Além disso, pola primeira vez nas eleiçons de 2015 nom se apresentam partidos de extrema-direita. Partidos como o MSR (Movimento Social Republicano) ou a Falange explicam que é para nom dividir o voto espanholista num cenário de alto risco nacional para unidade de Espanha.
"PP e Ciutadans sempre tentárom que nom houvesse um partido de extrema-direita para poder contar com estes votos"
Na Galiza ou também em Euskal Herria a extrema-direita organizada como tal é praticamente residual. Por que é que nos Países Cataláns está tam activa?
Sempre fomos o motor ideológico da extrema-direita. Falange nasceu em Madrid e Barcelona. No ano 66 funda-se em Barcelona Cedade (Círculo Español de Amigos de Europa), a organizaçom neonazi mais potente da Europa após a queda do Terceiro Reich, fundada por falangistas antifranquistas, que consideravam Franco um traidor à sua revoluçom. De facto, Franco nom era um líder fascista mas um militar. A Cedade foi fundada por oficiais das SS. Léon Degrelle (um militar belga que luitou sob ordes de Hitler, e que no ano 45 chegou a Donosti e foi acolhido polo regime) foi um dos seus promotores. A extrema-direita catalá sempre tivo mais influências da Europa, em vez de olhar o que acontecia em Madrid. Além disso, a extrema-direita espanhola tem umha obsessom: luitar contra o catalanismo, porque a sua obsessom, marcada pola guerra de Cuba, é a unidade de Espanha. Já nos anos 20 constatamos confrontos com paus e pistolas entre militares ou grupos protofascistas como a Unión Patriotica contra gente da Unió Catalanista ou gente do Estat Català.
Desde a realizaçom do referendo registam-se centos de agressons de tipologia mui diversa contra o independentismo, tu figeste um relatório…
Numha amostra de 95 dias entre setembro e dezembro corroboro 139 incidentes violentos, desde agressons até coaçons e ameaças, deixando de lado ameaças pelas redes sociais ou pintadas nas sedes. Falo de punhaladas, malheiras, ameaças a jornalistas como é o meu caso. E, ao contrário de outros períodos, esta violência nom é praticada só por militantes da extrema-direita; é mui perigoso, pois a violência trespassou para um espanholismo mui transversal, que fai que militantes do PSC ou Ciutadans a levem cabo. Onte soubem dum homem que saltou dentro do Arquivo Nacional de Catalunha com umha navalha para cortar laços amarelos, e levava umha pulseira republicana! Ou um vizinho que lhe disparou cinco balas de perdigons a outro por participar nas caçaroladas contra a violência policial. Som impunes!.
Porque os meios nom tenhem prestado atençom nessas agressons?
Porque se negou a realidade tentando impor um relato oficial que é que o independentismo é violento e que a violência a exercem os independentistas. Isto fai que se leve à Audiência Nacional umha moça por ter um laço amarelo e umha careta do Jordi Cuixart na casa. Ou que os Jordis estám na cadeia acusados de “alzamiento tumultuario”, sem qualquer violência…
Polo contrário, houvo centenas de ataques do nacionalismo espanhol mais variado, até com dous Ateneus queimados ‑um deles com gente em assembleia dentro-. Isto nom apareceu nos meios espanhóis porque nom concorda com o relato oficial. Onte mesmo houvo um atropelamento a umha pessoa, mas nom sai no Espejo Público.
“Numha amostra de 95 dias entre setembro e dezembro corroboro 139 incidentes violentos, desde agressons até coaçons e ameaças”
Que perigosidade pode ter o novo discurso da extrema-direita que fala de que nom há esquerdas nem direitas?
Nom é novo, já o dizia Primo de Rivera. Também o fascismo clássico, um movimento moderno ao respeito do marxismo, pois nasce nos anos 20 em Itália, já di que nom som nem marxistas nem liberais.
Hoje, alguns sectores da extrema-direita reivindicam de novo este discurso. Temos que entender a ultra-direita como um magma, com sectores mais radicais, carlistas, fascistas… Por exemplo, Josep Anglada (fundador de Plataforma per Catalunya) nom é um fascista, mas um nacional populista. Na esquerda tampouco diríamos que a Marta Rovira é comunista mas social-democrata. Conhecer bem a extrema direita é mui importante para combatê-la.
Que evoluçom tivo nos ultimos anos a extrema-direita?
Quando Fuerza Nueva rebenta e o seu líder Blas Piñar deixa de sê-lo, houvo tentativas de uniom mas o seu grande problema é a nostalgia franquista. Isto quebra em 2003 com Plataforma per Catalunya que tenta mudar o discurso sem consegui-lo. Agora o movimento ponteiro está em Madrid com Hogar Social, sem nengumha bandeira franquista nas mobilizaçons. Isto tenhem-no claríssimo e fam lemas mui curtos, que repetidos constantemente todo o mundo poderia comprar. Açons do estilo, Alba Dourada, repartindo jantar para os nacionais. Mesmo a sua líder é umha mulher, colocada no centro do debate para contrapor o facto feminino com o islam, imitando Marie LePen. Mesmo também mudárom a sua estética, já nom vam “pelados” nem com tirantes, agora é muito mais casual.