Os recentes acontecimentos que paralisárom o mundo semelham ter aumentado o interesse polo conceito do arquivo. O excesso de produtos culturais que saem ao mercado na procura de público foi limitado em certa maneira com as sucessivas corentenas e feches, e toda a sociedade com acesso a internet e os novos meios massivos de comunicaçom procurou principalmente nas redes formas de entretimento variadas para seguir com os seus hábitos de consumo. Esta situaçom derivou num maior interesse do habitual nos arquivos, o que foi especialmente significativo nos canais de televisom e a constante reciclagem dos seus fundos.
Esse frenaço momentáneo à constante produçom e subseguinte armazenamento de novas imagens entronca com um tema muito discutido e comentado sobre os novos meios de comunicaçom, o do papel e funçom do arquivo nesta nova época digital. Há umha conceçom apocalítica sustida por umha série de teóricos como o recentemente finado Paul Virilio que sustenhem a tese de umha estética da desapariçom à qual nos vemos conduzidos pola velocidade de umha produçom tecnológica artificial que provoca umha lei do mais rápido, o que nas suas palavras é “a origem da lei do mais forte”; umha imediatismo que conduz cara a um esquecimento digital da memória coletiva.
Por outra banda, o arquivo digital converteu-se num novo modo de conservaçom cujo funcionamento e potencialidade de usos ainda se nos escapa em grande medida; devemos lembrar aqui que no ámbito informático a informaçom organiza-se em torno a pequenos fragmentos de informaçom compartimentados aos que nos referimos também com outro significado da própria palavra “arquivo”. A relativa desmaterializaçom (tendo sempre em conta que todo isto ocupa um espaço físico em discos duros e servidores) de toda essa informaçom gera assim um novo tipo de memória digital que se contrapom a essa amnésia à qual segundo alguns nos vemos expostos.
Sem esquecer que vivemos ainda imersos numha profunda fenda digital, tanto no nível educativo como socioeconómico, esta nova conceçom do arquivo oferece-nos umha acessibilidade e umha capacidade de releitura e reelaboraçom potencialmente maiores das quais estávamos afeitos. Levando isto ao campo audiovisual, que ainda hoje é umha ínfima parte da memória coletiva da humanidade, a posta em comum de imagens e sons permitiria-nos construir novos discursos fora dos hegemónicos e oficiais, todo isto ainda obstruído polos obscenos e abusivos cánones e preços dos direitos de uso e reproduçom que imponhem organismos públicos e empresas privadas aos autores que intentam trabalhar de maneira legal sobre este tipo de materiais.
Em épocas recentes muitos destes obstáculos eram resolvidos, esquecidos ou deixados à margem pola relativa facilidade com a que se podiam registar, reproduzir ou pôr em cena imagens da memória e do passado. A Covid19 quebrou muitas das maneiras de trabalhar e fijo virar cara ao arquivo muitos profissionais, talvez devamos aproveitar isto e pode que seja agora o momento de pôr sobre a mesa a questom da possessom e o preço das imagens do nosso passado.