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O presente dos heróis da pandemia

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A atenção em emergências nasce com uma profunda vocação de serviço público. No entanto, a assistência e mesmo o salvamento de pessoas em situações de extrema vulnerabilidade estão a ser objeto de uma mercantilização prolongada. A extinção de incêndios, os cuidados de saúde urgentes ou o salvamento no mar são o foco — parcial, insuficiente — a partir do qual podemos ver como a lógica do lucro impera nos momentos de maior necessidade. Eis uma panorâmica destes sectores, que sofrem os efeitos da privatização e estão em pé de guerra contra a violação dos seus direitos laborais e, mais ainda, contra a sociedade a que oferecem serviço. 

Durante os pe­río­dos mais com­ple­xos da Covid-19, os ser­vi­ços pú­bli­cos go­za­ram do aplauso e da re­ve­rên­cia da so­ci­e­dade. Pessoas da classe tra­ba­lha­dora sal­va­vam vi­das, aju­da­vam as mais dé­bi­les, ga­ran­tiam a nossa se­gu­rança. Hoje, po­rém, esse re­trato fica di­luído e não fica ape­nas ras­tro, no de­bate pú­blico nem na im­prensa, da aten­ção a es­tes sectores. 

Atualmente, a ten­dên­cia para a pri­va­ti­za­ção de mui­tos des­tes ser­vi­ços está a ge­ne­ra­li­zar a pre­sença de em­pre­sas pri­va­das, que es­tão a ti­rar pro­veito do Estado so­cial, do des­con­forto e da an­gús­tia das pes­soas. Esta ân­sia de lu­cro torna pos­sí­vel, com a apro­va­ção da ad­mi­nis­tra­ção, a ocor­rên­cia deuma sé­rie de in­fra­ções à se­gu­rança do pes­soal e aos seus di­rei­tos la­bo­rais. Também nos leva a ques­ti­o­nar o tipo de mo­delo que que­re­mos que nos sirva. 

Face a esta si­tu­a­ção, nos úl­ti­mos me­ses, as­sis­tiu-se a uma vaga de mo­bi­li­za­ções, pro­tes­tos e de­nún­cias pú­bli­cas nos do­mí­nios do com­bate aos in­cên­dios, da as­sis­tên­cia ex­tra-hos­pi­ta­lar e do sal­va­mento ma­rí­timo. Estas de­mons­tram um fra­casso sis­te­má­tico na pri­va­ti­za­ção des­tes ser­vi­ços e a des­le­al­dade da ad­mi­nis­tra­ção em re­la­ção àque­les em que tem uma ges­tão di­reta, como é o caso dos cor­pos de bom­bei­ros comarcais. 

“É sur­re­a­lista que em am­bu­lân­cias a me­tade do pes­soal seja pri­vado e a ou­tra do Sergas”, ex­pom Mario Rodríguez, téc­nico de saúde e de­le­gado pola CIG

Estes úl­ti­mos, os fun­ci­o­ná­rios que tra­ba­lham em mu­ni­cí­pios com me­nos de vinte mil ha­bi­tan­tes, tor­na­ram-se re­cen­te­mente fun­ci­o­ná­rios da ad­mi­nis­tra­ção. Após anos de tran­si­ção para a ges­tão pú­blica e mesmo a pu­bli­ca­ção em 2007 de uma lei de emer­gên­cia que es­ta­be­le­cia a ho­mo­ge­nei­za­ção do ser­viço, a Junta não ga­ran­tiu um acordo único para um to­tum re­vo­lu­tum de re­a­li­da­des di­fe­ren­tes. Diferentes equi­pa­men­tos, di­fe­ren­tes pro­to­co­los, di­fe­ren­tes hi­e­rar­quias, la­cu­nas nas isó­cro­nas… criam um mapa caó­tico e ir­re­gu­lar do ser­viço de com­bate a in­cên­dios, en­quanto o go­verno ga­lego per­ma­nece indiferente. 

Por ou­tro lado, os cui­da­dos de saúde ex­tra-hos­pi­ta­la­res in­cluem os ser­vi­ços de ur­gên­cia (por exem­plo, uni­da­des de he­li­trans­porte ou am­bu­lân­cias) e os trans­por­tes pro­gra­ma­dos (por exem­plo, al­tas mé­di­cas). Todas elas em mãos de em­pre­sas pri­va­das e, no caso das am­bu­lân­cias do 061, pro­ta­go­nis­tas de gre­ves sin­di­cais nos úl­ti­mos me­ses por um novo convénio. 

Pôr preço à saúde 

As pes­soas fi­cam sur­pre­en­di­das quando lhes di­ze­mos que os cui­da­dos de saúde es­tão pri­va­ti­za­dos, por­que não se aper­ce­bem que as te­le­fo­nis­tas, os téc­ni­cos das am­bu­lân­cias que as aten­dem em caso de emer­gên­cia, o pes­soal dos he­li­cóp­te­ros… são em­pre­ga­dos de em­pre­sas pri­va­das”, diz Bernardo Máiz, an­tigo téc­nico de saúde e atu­al­mente bom­beiro no quar­tel de Ferrol. 

Quando se trata de ana­li­sar a fo­to­gra­fia do ser­viço de am­bu­lân­cias, o caos é evi­dente. “É muito di­fí­cil fa­zer um le­van­ta­mento das em­pre­sas que atu­al­mente ge­rem o ser­viço, por­que apa­re­cem e de­sa­pa­re­cem com no­mes di­fe­ren­tes, re­a­pa­re­cem, jun­tam-se em UTEs…”, re­vela Mario Rodríguez Otero, téc­nico de saúde e de­le­gado do pes­soal da CIG que es­teve pre­sente na mesa de ne­go­ci­a­ções do novo convénio. 

Aproximadamente, se­gundo os seus cál­cu­los, uma dú­zia de em­pre­sas con­tro­lam na Galiza este ser­viço, que é “to­tal­mente alheio a ou­tros do 061”, como as te­le­fo­nis­tas ou os he­li­cóp­te­ros, já atri­buí­dos a ou­tras em­pre­sas. Assim, no seio do pes­soal das am­bu­lân­cias, é ne­ces­sá­rio dis­tin­guir en­tre os SVA (Suporte Avançado à Vida) e SBV (Suporte Básico de Vida). 

É sur­real, por­que as am­bu­lân­cias me­di­ca­li­za­das e hi­gi­e­ni­za­das (SVA) me­tade do ma­te­rial e do pes­soal é pir­vado, e me­tade do Sergas… Há reu­niões men­sais de ser­viço das quais não po­de­mos par­ti­ci­par e, por ou­tro lado, as em­pre­sas com as quais tra­ba­lha­mos di­a­ri­a­mente tam­bém não vêm às nos­sas”, ex­plica Rodríguez. Contudo, na Galiza a mai­o­ria des­tes veí­cu­los são SBV, que só con­tam com dois téc­ni­cos de em­pre­sas privadas. 

Agora es­ta­mos tam­bém a ver as cha­ma­das de am­bu­lân­cias low cost, como as me­di­ca­li­za­das de Vilagarcia e Monforte, que têm ape­nas um téc­nico”, de­nun­cia o tra­ba­lha­dor. A di­fe­rença na as­sis­tên­cia em fun­ção do ter­ri­tó­rio pro­duz, pois, de­si­gual­da­des cla­ras. “Ao que pa­rece, os mo­ra­do­res de Monforte não têm di­reito à as­sis­tên­cia como os da Corunha, onde le­vam uma téc­nica, uma mé­dica e uma en­fer­meira”, critica. 

As am­bu­lân­cias ‘lox cost’ apa­re­ce­ram em con­ce­lhos como Monforte ou Vila Garcia e con­tam com um só téc­nico, o que pro­duz de­si­gual­da­des cla­ras na assistência

A ten­dên­cia das em­pre­sas ad­ju­di­ca­tá­rias do 061 está, pois, ori­en­tada para a re­du­ção de cus­tos. Esta si­tu­a­ção ve­ri­fica-se tam­bém na uti­li­za­ção de “am­bu­lân­cias de apoio”, per­ten­cen­tes ao trans­porte re­gu­lar e com ape­nas um téc­nico. Segundo Rodríguez, são “um re­mendo” que, longe de ser um facto pon­tual, es­tão a re­a­li­zar um ser­viço idên­tico ao de qual­quer SVB. “Não é nor­mal uma am­bu­lân­cia como esta fa­zer 10 ser­vi­ços por dia, por­que para os do­en­tes tam­bém é uma ro­leta: se for grá­tis, vem a boa e se não, a má… Tenho de ter sorte mesmo quando es­tou do­ente!”, diz. 

A re­du­ção de cli­en­tes de­te­ri­ora a qua­li­dade as­sis­ten­cial e, ade­mais, já está con­di­ci­o­nada em ori­gem no mesmo con­curso de li­ci­ta­ções. “As em­pre­sas con­cur­sam por baixo do preço, sa­be­do­ras do va­lor real do ser­viço, e de­pois in­ten­tam so­lu­ci­o­nar com des­co­la­men­tos de con­vé­nio, pou­pan­ças em ma­te­rial e pes­soal… e isso vai na qua­li­dade do ser­viço, o que nos afeta a nós e tam­bém aos pa­ci­en­tes”, re­sume o sindicalista. 

Um con­vé­nio em disputa 

Neste con­texto de so­bre­carga de tra­ba­lho, de li­mi­ta­ções sa­la­ri­ais e de pes­soal… está a de­cor­rer a ne­go­ci­a­ção do novo con­vé­nio, que in­clui os sec­to­res dos ser­vi­ços de emer­gên­cia e não emer­gên­cia. O acordo, que ca­du­cou o 1 de ja­neiro de 2023, afeta por volta de 3600 pes­soas tra­ba­lha­do­ras no ser­viço das am­bu­lân­cias, que está pri­va­ti­zado desde a fun­da­ção do 061, em 1995. 

As em­pre­sas con­cur­sam por baixo do preço, e de­pois “in­ten­tam so­lu­ci­o­nar com des­col­gues de con­vé­nio, afor­ros em ma­te­rial e pes­soal… e isso vai na qua­li­dade do serviço”

No iní­cio, pen­sá­mos que ia ser uma ne­go­ci­a­ção rá­pida, mas logo vi­mos que tudo gi­rava em torno dos re­sul­ta­dos elei­to­rais… Os pa­trões co­me­ça­ram a ne­gar tudo, di­zendo que não ti­nham di­nheiro da Xunta, que iam es­pe­rar até que saís­sem os no­vos con­cur­sos…”, diz Mario Rodriguez. O re­pre­sen­tante da CIG afirma que esta é uma “ma­no­bra” ha­bi­tual por parte das em­pre­sas. “Botam-nos a nós à rua para que a Xunta res­ponda”, lamenta. 

Este fe­che do diá­logo até não ter fun­dos ga­ran­ti­dos pelo go­verno ga­lego es­tan­cou as ne­go­ci­a­ções até dias an­tes das elei­ções es­ta­tais. “A ma­nhã do pré-acordo não ti­nham nada, ati­tude de­sa­fi­ante, e algo se pas­sou ao meio-dia, houve cha­ma­das, chama-nos o Conselheiro e de tarde já di­ziam sim a tudo”, lem­bra o téc­nico. Do pes­soal de am­bu­lân­cias, re­co­nhe­cem que a pres­são dos úl­ti­mos me­ses é “in­có­moda” para a Xunta, mais ainda com a pro­xi­mi­dade da cita eleitoral. 

Acordos e conquistas 

Da mesma forma, no dia 17 de ju­lho, a ne­go­ci­a­ção le­vou a um pré-acordo que foi ra­ti­fi­cado pe­las as­sem­bleias, o que des­con­vo­cou o paro pro­gra­mado para greve nos dias 19, 20 e 21. “Foi aceite por mai­o­ria, ex­ceto nal­gu­mas co­mar­cas como a de Ferrol”, re­la­ta­ram. As gre­ves e mo­bi­li­za­ções an­te­ri­o­res ti­ve­ram um im­pacto li­mi­tado, já que os ser­vi­ços mí­ni­mos da 061 são de 100 %. “Porém, as com­pa­nhei­ras do trans­porte pro­gra­mado pu­de­ram fa­zer muito mais pres­são nesse sen­tido”, co­menta Rodríguez. 

O acordo, va­lo­ri­zado po­si­ti­va­mente pe­los sin­di­ca­tos, ga­rante al­gu­mas con­quis­tas para o pes­soal das am­bu­lân­cias. “Em pri­meiro lu­gar, con­se­gui­mos um au­mento sa­la­rial de 5 %, 4 % e 4,5 % nos pró­xi­mos três anos”, afirma o de­le­gado do pes­soal. Acrescente-se a este in­cre­mento, a cláu­sula de re­vi­são para ja­neiro de 2026, que ga­rante um au­mento de acordo com o IPC de até dois pontos. 

Para além disso, au­men­ta­ram os sub­sí­dio de turno no­turno, o pré­mio de trans­porte, a dis­pensa de tra­ba­lho no­turno (20 mi­nu­tos por cada dia de tra­ba­lho), os sub­sí­dios de in­ca­pa­ci­dade tem­po­rá­ria e de an­ti­gui­dade, o pa­ga­mento de aju­das de custo, a pos­si­bi­li­dade de acu­mu­lar dis­pen­sas para fé­rias e a com­pa­rên­cia a con­sul­tas médicas. 

Sem protocolo nem segurança no mar

Para os meios ga­le­gos, o ser­viço de emer­gên­cias no mar goza de boa saúde. As no­tí­cias ex­plo­ram as ci­fras de pes­soas au­xi­li­a­das (mais de 1000 só em 2022), os ca­sos de sal­va­men­tos bem-su­ce­di­dos e os re­cur­sos para um ser­viço que na Galiza é re­a­li­zado por duas en­ti­da­des com idén­ti­cas funções. 

Por um lado, já em 1990, a Junta criou um corpo de busca e sal­va­mento no mar, tendo em conta as ne­ces­si­da­des da pró­pria po­pu­la­ção e a au­sên­cia de um ser­viço a ní­vel es­ta­tal. Este aca­bou por evo­luir para o atual corpo de guarda-cos­tas, fun­dado em 2004. O or­ga­nismo deve par­ti­lhar o seu tra­ba­lho com o Salvamento Marítimo, com­pe­tên­cia do Ministério de Fomento. Com meios abun­dan­tes à sua dis­po­si­ção, chama a aten­ção para a falta de co­or­de­na­ção en­tre as duas en­ti­da­des governamentais. 

No que diz res­peito à dis­tri­bui­ção do tra­ba­lho a ser feito, não pa­rece exis­tir qual­quer pro­to­colo ou pro­ce­di­mento que es­ti­pule quais os meios a uti­li­zar em caso de emer­gên­cia. Por exem­plo, no pas­sado dia 12 de ju­lho, o he­li­cóp­tero Helimer da Corunha fez um sal­va­mento em Manhom, a ape­nas 15 qui­ló­me­tros de Viveiro, sede do Pesca 2. Daniel Rey, so­cor­rista da base do Celeiro, tra­ba­lha no lo­cal e re­corda, com ra­zão, que este ser­viço de emer­gên­cia he­li­trans­por­tada é “100 % privada”. 

A ad­ju­di­ca­tá­ria dos he­li­cóp­te­ros, por mais de 50 mi­lhões de eu­ros, é Avincis, que an­te­ri­or­mente fora Babcock, INAER e Helicsa

Muitas pes­soas não sa­bem que as ad­mi­nis­tra­ções sub­con­tra­tam os he­li­cóp­te­ros por­que se en­car­re­gam de ocultá-los: proí­bem ex­pres­sa­mente men­ci­o­nar qual­quer em­presa en­quanto pre­su­mem de ser um ser­viço pú­blico”, co­menta. A Avincis (an­tiga Babcock, INAER, Helicsa…), atual ad­ju­di­ca­tá­ria do ser­viço por mais de 50 mi­lhões de eu­ros, foi cri­ti­cada pela de­pu­tada na­ci­o­na­lista Rosana Pérez. A po­lí­tica apre­sen­tou uma pro­po­si­ção não de lei este mês no Parlamento ga­lego para so­li­ci­tar o es­ta­be­le­ci­mento de me­ca­nis­mos de con­trolo so­bre os in­cum­pri­men­tos do contrato. 

O prin­ci­pal ob­je­tivo da Guarda Costeira é sal­var vi­das e, pa­ra­do­xal­mente, está a pô-las em risco, a co­me­çar pe­las da pró­pria tri­pu­la­ção”, expôs na co­mis­são par­la­men­tar. Redução do nú­mero de veí­cu­los dis­po­ní­veis, pro­ble­mas por re­sol­ver, au­sên­cia de fer­ra­men­tas obri­ga­tó­rias como uma câ­mara tér­mica ou um se­gundo guin­daste… Estas in­fra­ções tor­nam pos­sí­veis si­tu­a­ções como a de uma ses­são de treino em ju­nho pas­sado, em que o único guin­daste do he­li­cóp­tero fa­lhou. “Fiquei pen­du­rado em al­tura sem pos­si­bi­li­dade de ser trans­por­tado e tive de ser trans­por­tado 3 qui­ló­me­tros até Viveiro… Se fosse a 15 qui­ló­me­tros da costa, não o con­tava”, diz Daniel Rey. O res­ca­ta­dor, que já apre­sen­tou uma de­nún­cia pe­nal pelo acon­te­cido, cri­tica a ab­so­luta pas­si­vi­dade da Administração ga­lega para ata­lhar as ne­gli­gên­cias cons­tan­tes da Avincis, cujo con­trato ter­mina em ou­tu­bro. “Silêncio… en­quanto con­ti­nu­a­mos a tra­ba­lhar nas mes­mas con­di­ções”, acusa. 

Caos logístico perante os lumes

O corpo de bom­bei­ras ga­le­gas é atu­al­mente um ba­ru­lho de en­ti­da­des, com­pe­tên­cias e fun­ções. “Por exem­plo, num lume no monte po­des en­con­trar até cinco en­tes di­fe­ren­tes”, re­sume Júlio Saiáns, bom­beiro flo­res­tal e re­pre­sen­tante da CIG. O tra­ba­lha­dor de­nun­cia a ges­tão de­fi­ci­ente da Administração, que pri­va­tiza ques­tões como as uni­da­des he­li­trans­por­ta­das e or­ga­niza ine­fi­ci­en­te­mente os ser­vi­ços em que conta com ges­tão direta. 

À hora de ana­li­sar o con­flito, po­rém, cum­pre di­fe­ren­ciar en­tre o se­tor ur­bano e flo­res­tal. Mesmo que am­bos com­ba­tam in­cên­dios, as suas re­a­li­da­des são bem distintas. 

Duas re­a­li­da­des e par­ques fe­cha­dos 

As di­fe­ren­ças no ser­viço nas áreas ur­ba­nas es­tão muito li­ga­das à den­si­dade de po­pu­la­ção. Por um lado, as oito ci­da­des con­tam com par­ques pró­prios en que tra­ba­lham mais de 500 pes­soas. “Nas ur­bes as bom­bei­ras são fun­ci­o­ná­rias de car­reira, ao con­trá­rio que nos par­ques co­mar­cais, que aca­bam agora a tran­si­ção a pes­soal la­bo­ral ao pas­sar es­tas es­ta­ções a ser ge­ri­das pela Administração”, in­forma Bernardo Máiz, bom­beiro em Narom. 

Em con­creto, os ter­ri­tó­rios com me­nor po­pu­la­ção con­tam com um ser­viço ge­rido pe­los con­sór­cios pro­vin­ci­ais, um acordo en­tre Concelhos, Deputações e Xunta. “Se as ci­da­des são como rei­nos de Taifas onde o fun­ci­o­na­mento, o ma­te­rial e as ca­te­go­rias não têm a ver, nos co­mar­cais tam­bém não há ho­mo­ge­ni­za­ção”, con­ti­nua Máiz. Equipamento, pro­to­co­los e mesmo hi­e­rar­quia di­fe­rem en­tre as dis­tin­tas es­ta­ções co­mar­cais, onde tra­ba­lham por volta de 400 pessoas. 

Eis que co­meça o con­flito la­bo­ral. Se bem as bom­bei­ras cum­prem as mes­mas fun­ções, sa­lá­rios, sis­te­mas de se­gu­rança e con­di­ções la­bo­rais dis­tam en­tre si. “Um bom­beiro de par­que co­mar­cal pode co­brar 1200 eu­ros men­sais ao en­trar, en­quanto nas ci­da­des a mé­dia está em 1600 eu­ros”, con­trasta. Esta di­ver­si­dade de meios e di­rei­tos de­to­nou a de­manda por um con­vê­nio único, e pôs ao nu a ne­ces­si­dade “evi­dente” de uma Lei galega. 

Em ju­lho, as bom­bei­ras de par­ques co­mar­cais ini­ci­a­ram uma greve in­de­fi­nida em que re­nun­ci­a­ram a fa­zer ho­ras ex­tra vo­lun­tá­rias. A de­ci­são mos­tra a pre­ca­ri­e­dade do ser­viço, já que abo­cou ao en­cer­ra­mento de até 10 par­ques ao dia (de um to­tal de 24) em plena tem­po­rada es­ti­val. Frente a isto, da Xunta adiam o diá­logo. Na úl­tima reu­nião, o di­re­tor ge­ral de Emerxencias de Galicia, Santiago Villanueva, apra­zava o se­guinte en­con­tro para o 5 de setembro. 

Brigadas com di­fe­ren­tes di­rei­tos 

Por ou­tra banda, as bom­bei­ras flo­res­tais aca­bam de apre­sen­tar uma queixa na Valedora do Povo em que de­man­dam uma ne­go­ci­a­ção com a Xunta para um acordo  que re­gule as suas con­di­ções de tra­ba­lho. “O nosso é um se­tor pre­ca­ri­zado, onde por volta de 70% das tra­ba­lha­do­ras são tem­po­rais”, cri­tica Saiáns. 

A mo­vi­men­ta­ção nasce com a fun­ci­o­na­ri­za­ção de perto de 500 pes­soas den­tro de um ser­viço de mais de 2000. Censuram da CIG a falta de pre­vi­são e ne­go­ci­a­ção pré­via, que deixa “bri­ga­das onde há pes­soas com di­fe­ren­tes di­rei­tos la­bo­rais, por­que às no­vas fun­ci­o­ná­rias deixa de apli­car-se-lhe o quinto con­vê­nio”, la­menta o bom­beiro flo­res­tal. Existe, pois, uma de­manda por uma lei a ní­vel ga­lego que re­gule es­tas e ou­tras ques­tões como a se­gunda ati­vi­dade ou as do­en­ças profissionais. 

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