
“Escandalizam-se, sabes? Mas os seus moços, o teu moço, eles todos som os meus clientes”. Espetou as palavras com tanta força como delicadeza. “Por isso deveríamos estar todas unidas”, dixo justamemente antes de entrar na sala em que minutos depois a Intersindical Alternativa de Catalunya (IAC) apresentaria a seçom sindical de trabalhadoras sexuais chamada Uniom Sexual do Trabalho Sexual (USTS) perante as centrais amigas como o LAB de Euskádi, o SAT da Andaluzia ou a CUT da Galiza pola qual me encontrava ali.
A USTS apresentava-se em 23 de julho de 2018 em Barcelona com o impulso dumha dúzia de trabalhadoras sexuais entre as quais se encontrava Paula Ezkerra, ativista feminista e anticapitalista que num tempo fora concelheira em Barcelona pola CUP. Desse momento ao dia de hoje passárom quase dous anos em que o coletivo foi crescendo entre os chamados ao ativismo e a sindicaçom. “Era o lógico”, diz Ekerra, “se estamos falando de reconhecer o trabalho, o passo é o da sindicaçom para interagir com sindicatos e pessoas com experiência que nos acompanhem neste processo”.
O primeiro passo é “o empoderamento do coletivo saindo do estigma para ver-nos como sujeitas políticas e capacidade de decisom sobre nós mesmas”. Ezkerra sublinha a nom criminalizaçom das trabalhadoras sexuais dentro da aposta política que nasceu em Bruxelas no 2006: ‘a pró-direitos’ que, como seu próprio nome indica, dista do regulacionismo para colocar o foco na defensa dos direitos humanos. “O mais importante é a postura política do sindicato com respeito a umha profissom que nom está reconhecida senom criminalizada. No reconhecimento do trabalho também está o reconhecimento doutros direitos como é o da cidadania”.
Neste caminho é imprescindível evitar a demagogia de misturar termos como prostituiçom, trata de pessoas, tráfico de pessoas e escravitude. “No têxtil e no trabalho do lasr também há trata, tráfico e escravitude. Vaiamos contra todas as tratas e escravitudes, e vaiamos a por todos os direitos”. Neste senstido, destaca que se usa “trabalho” como sinónimo de “dignidade”, algo que considera mui perverso tendo em conta que a palavra trabalho evoluiu do maltrato ao escravo. O ‘tripalium’ era um instrumento de tortura contra os escravos e ‘tripaliare’ significava precisamente causar dor.
“Nom é um conflito senom a negaçom da capacidade de agenda dum coletivo”, sinala Paula Ezkerra
Paula Ezkerra assinala que nom pode recair sobre as prostitutas a responsabilidade de “abertura dum espaço” nas centrais sindicais onde se tenhem sentido “maltratadas e humilhadas”. “Somos pessoas e exigimos direitos”, diz, “e os sindicatos fam parte dos direitos laborais, aqui há umha causa que aguarda com os braços abertos e que nom tenhem mais força para luitar sozinhas”. A ativista estende o chamado às feministas e “aos sectores de esquerda que se crem abolicionistas” que “nom nos querem escuitar”. “Nom é um conflito senom a negaçom da capacidade de agenda dum coletivo”.
A esse ato de apresentaçom acudiria também Kenia García, ativista do trabalho sexual que a dia de hoje se converteu num importante pilar para o coletivo de prostitutas em Galiza. García foi motor e guia dum processo de escuita e reflexom que terminaria com o posicionamento da CUT a favor de todos os direitos das trabalhadoras sexuais, incluindo os laborais. “A única forma de denunciar abusos, exploraçom e violências é através da reivindicaçom dos nossos direitos”, sustenta. “A partir do assistencialismo nom podemos fazer nada”.
García vê no reconhecimento dos direitos, e das prostitutas como classe obreira, o primeiro passo para “fortalecer” as mulheres e luitar contra o estigma puta “que nos paraliza e vincula sempre à delinquência”. “Negar-nos como trabalhadoras é umha violência que nos debilita” já que “nos deixa sem armas” que luitar contra o patrom e a polícia. “As políticas abolicionistas afetam sempre as companheiras mais desfavorecidas, que exercem nos espaços públicos e que sofrem cada ordenança e cada lei”, denúncia. “Essas políticas estám orientadas a multar o cliente, mas a polícia a quem acossa para chegar a ele é à trabalhadora sexual que se afasta a sítios mais clandestinos para poder obter os seus ingressos já que tem que comer”. Deste modo, essas políticas “dam mais poder aos clientes que pressionam as trabalhadoras em tarifas e mesmo no uso do preservativo”. Por exemplo, na cidade de Madrid as trabalhadoras sexuais som multadas através da Lei Mordaça e isso contribui para a sua expulsom aos bordéis. As políticas abolicionistas também ligam com as políticas migratórias traduzindo-se em expedientes de expulsom das mulheres que se enconram em situaçom administrativa irregular.
Kenia García: “As políticas estám orientadas a multar o cliente, mas a polícia a quem acossa para chegar a ele é à trabalhadora sexual que se afasta a sítios mais clandestinos para poder obter os seus ingressos”
“Estigmatizam-se-nos para que se nos veja como pobres vítimas que há que salvar”. Tal como se fundamenta o atual sistema no estado espanhol, negar a existência do trabalho sexual é negar às trabalhadoras os direitos vinculados com a cidadania. Um facto que beneficia o grande capital e ao estado para continuar a tirar benefício por conta da classe obreira, sobretodo das mulheres. Nom é casual que os trabalhos realizados por mulheres gratuitamente no seio da família passem ao mercado laboral externo à família como nom reconhecidos ou em regimes especiais, como o que sofrem as trabalhadoras do lar. A mudança destas tornas constituiria-se como o primeiro passo para o derrubamento dum sistema capitalista heteropatriarcal construído à “imagem e semelhança” dos interesses do varom burguês.
As trabalhadoras sexuais desmantelárom a principal rede de corrupçom na Galiza
Nos últimos meses as trabalhadoras sexuais tivérom que fazer fronte à censura promovida polos despachos de grupos políticos abolicionistas, especialmente do PSOE. Este partido que as mandou calar tem nas suas filas políticos implicados direta ou indiretamente com a maior trama de corrupçom e proxenetismo detetada na Galiza, a operaçom Carioca. As escuitas que se desenvolvếrom nessa operaçom propiciárom a abertura dos casos Pokemon e Campióm, este último tivo como principal imputado o ex-ministro do PSOE José Blanco. Ao mesmo tempo, o PSOE promove ordenanças que amordaçam a rua levando por bandeira a luita contra a prostituiçom, conforme se pretendeu na cidade de Lugo. As luitas contra estas normativas levárom-na a cabo as próprias prostitutas e nom os proxenetas pois era a eles a quem beneficiavam. Ainda existe alguém que nom tem claro que e a quem sustém o abolicionismo?