Periódico galego de informaçom crítica

O rural, umha festa da diversidade

por
ne­rea v. lameiro

As se­xu­a­li­da­des nom nor­ma­ti­vas es­tám mais vi­si­bi­li­za­das no ur­bano do que no ru­ral, onde em mui­tos ca­sos se­guem a ser um tema tabu”. Quem fala é Brais Álvarez, e fai-no em nome da ju­ven­tude do Sindicato Labrego Galego (SLG), quem desde há ape­nas dous anos, or­ga­niza o fes­ti­val Son Labreg@. “De forma in­te­res­sada, nom se con­tem­pla esta re­a­li­dade no ru­ral, por ser algo que nom en­tra den­tro da ló­gica ne­o­li­be­ral. Se nom con­tem­plam nem um meio ru­ral vivo, com pes­soas e pro­du­tivo, muito me­nos vam-no con­tem­plar como um ru­ral di­verso”, di. As suas pa­la­vras es­tám cheias de co­ra­gem, de ga­nas de lui­tar pola vi­si­bi­li­za­çom dumha re­a­li­dade que, ainda que em grande me­dida oculta, é a de mui­tas pes­soas que tra­ba­lham a cada dia por e para o ru­ral ga­lego. E, como se nom atra­vés da mú­sica e do tra­ba­lho em co­mum se ia po­der abrir umha ja­nela cara a umha di­ver­si­dade tam real como en­ri­que­ce­dora? Assim nasce o Son Labreg@, um fes­ti­val que pre­tende ser a voz dum mo­delo eco­nó­mico al­ter­na­tivo ao ne­o­li­be­ra­lismo e dum ru­ral vivo e diverso.

As sexualidades nom normativas costumam visibilizar-se como algo externo, vinculado às grandes urbes e fruito da 'modernidade', quando no rural sempre existiu

ze­lia garcia

No campo das di­ver­si­da­des, o Son Labreg@ tem muito a di­zer. “Fai muito finca-pé nesta re­a­li­dade e trata sem­pre de vi­si­bi­lizá-la, ge­rando es­pa­ços de con­fi­ança onde as pes­soas poi­dam ex­pres­sar-se li­vre­mente”, des­taca Álvarez. “Pretendemos so­ci­a­li­zar a ideia de que no ru­ral sem­pre houvo se­xu­a­li­da­des nom nor­ma­ti­vas e, so­bre­todo, que­re­mos fu­gir da cou­si­fi­ca­çom iden­ti­tá­ria que os meios de co­mu­ni­ca­çom, de forma or­ques­trada e para o in­te­resse do ca­pi­tal, fi­gé­rom das se­xu­a­li­da­des nom nor­ma­ti­vas, onde o meio ru­ral nom tem ca­bida”, acres­centa. Neste sen­tido, a si­tu­a­çom do ru­ral ga­lego e, den­tro dela, a das se­xu­a­li­da­des nom nor­ma­ti­vas, passa por ser ape­nas umha som­bra na cha­mada agenda set­ting que im­po­nhem os gran­des meios de co­mu­ni­ca­çom. “As se­xu­a­li­da­des nom nor­ma­ti­vas cos­tu­mam vi­si­bi­li­zar-se como algo ex­terno, vin­cu­lado às gran­des ur­bes e fruito da ‘mo­der­ni­dade’, quando no ru­ral sem­pre exis­tiu, e acha­mos é hora de aju­dar a me­lho­rar a qua­li­dade de vida no ru­ral de to­das as pes­soas, já que so­mos ple­na­mente cons­ci­en­tes do que para umha pes­soa su­pom ter de si­len­ciar-se e in­vi­si­bi­li­zar-se numha ques­tom tam vi­tal e im­por­tante como a sua se­xu­a­li­dade”, ex­plica Álvarez. Deste modo, o en­torno do ci­nema Palleiriso de Chantada abriu-se mais umha vez o pas­sado 22 de se­tem­bro a um pú­blico se­dento de uniom, so­li­da­ri­e­dade e acei­ta­çom, que en­con­trou neste es­paço a me­lhor via para te­cer re­des en­tre as la­bre­gas e o resto da so­ci­e­dade, mos­trando dumha forma lú­dica umha re­a­li­dade tam tra­di­ci­o­nal como ino­va­dora, que com­pre­ende vá­rios pro­je­tos agro-eco­ló­gi­cos que se es­tám a de­sen­vol­ver por todo o país.

Nos últimos anos surgírom muitas em tudo o país que pretendem visibilizar estas realidades e pôr em valor os recursos naturais e as possibilidades que tem o agro galego, mas deveríamos coordenar-nos mais entre as que luitamos em chave feminista e agro-ecológica

Assim, o fes­ti­val puido mos­trar às as­sis­ten­tas as ideias das pes­soas que dé­rom o passo de in­cor­po­rar-se à vida agrá­ria com pro­je­tos dumha grande vi­som so­cial, com o ob­je­tivo de cons­truir umha so­ci­e­dade so­be­rana. Também pujo em va­lor vá­rias ini­ci­a­ti­vas cul­tu­rais vin­cu­la­das à ati­vi­dade agrá­ria e à re­cu­pe­ra­çom e posta em va­lor da cul­tura tra­di­ci­o­nal de­nun­ci­ando, ade­mais, a pre­cá­ria si­tu­a­çom de mui­tos lu­ga­res do ru­ral ga­lego. “A si­tu­a­çom do ru­ral ga­lego é de des­po­vo­a­mento e aban­dono”, sa­li­enta Álvarez. “Lugo e Ourense som as mais afe­ta­das e ali pode-se ver a quan­ti­dade de al­deias aban­do­na­das que há, ou como em mui­tas de­las nom fica nem ati­vi­dade agrá­ria, nem gente nova. Existe, tam­bém, um aban­dono sis­te­má­tico por parte da ad­mi­nis­tra­çom cara ao ru­ral, já que nom se in­veste em me­lho­rar in­fra­es­tru­tu­ras e eli­mi­nar-se ser­vi­ços bá­si­cos como a aten­çom sa­ni­tá­ria e a edu­ca­çom”, as­se­gura. “Atualmente existe a ur­gên­cia dumha am­bi­ci­osa po­lí­tica de re­levo ge­ra­ci­o­nal no agro. Nom se es­tám a ge­rar po­lí­ti­cas que de ver­dade fa­gam atra­tivo per­ma­ne­cer na ex­plo­ra­çom fa­mi­liar ou que as mo­ças poi­dam ace­der às ter­ras para po­de­rem tra­ba­lhá-las, dis­pondo dos ser­vi­ços mí­ni­mos ne­ces­sá­rios para le­va­rem umha vida digna. Da ad­mi­nis­tra­çom ape­nas se fa­vo­rece o aban­dono pau­la­tino des­tas zo­nas para que fi­quem con­cen­tra­das em me­nos maos, de­di­ca­das à pro­du­çom agrá­ria que de­man­dam as gran­des em­pre­sas agro-ali­men­ta­rias e nom de­di­ca­das ao que, como nós en­ten­de­mos, de­vem es­tar ori­en­ta­das as ter­ras pro­du­ti­vas que é, por umha banda, ge­rar um meio ru­ral vivo e, por ou­tra, pro­du­zir ali­men­tos de pro­xi­mi­dade. Melhorando desta forma a qua­li­dade dos pro­du­tos para o con­su­mi­dor e ge­rando maior ri­queza e mais pos­si­bi­li­da­des no meio ru­ral para nom de­pen­der dos in­te­res­ses que mar­cam os gran­des ca­pi­tais, or­ga­ni­za­dos atra­vés da OMC ou do FMI, que pro­cu­ram eli­mi­nar a pouco e pouco a ca­pa­ci­dade dos po­vos de todo o mundo de cons­truí­rem a sua so­be­ra­nia ali­men­tá­ria”, conclui.

ze­lia garcia

Mas o Son Labreg@ nom está só. O fes­ti­val Agrocuir da Ulhoa ce­le­brou o pas­sado mês de agosto a sua quinta edi­çom, da mao do mesmo co­le­tivo que lhe dá nome. O seu ob­je­tivo nom é ou­tro mais do que vi­si­bi­li­zar um ru­ral afe­tivo e se­xu­al­mente di­verso e de­fen­der ou­tros va­lo­res como a sus­ten­ta­bi­li­dade, o res­peito ao pa­tri­mó­nio ma­te­rial e ima­te­rial e o eco­lo­gismo, com a de­fensa da di­ver­si­dade so­cial e na­tu­ral. A cada ano, ou­tras ini­ci­a­ti­vas saem à luz com o firme pro­pó­sito de vi­si­bi­li­zar es­tas re­a­li­da­des, para as­sim po­der go­zar dum ru­ral sus­ten­tá­vel, in­te­gra­dor, aberto ao mundo e, so­bre­todo, li­vre. Em 2017 Arçua aco­lheu a pri­meira edi­çom do Foro LGTBI ‘O ru­ral en­tende, fai-te ver!’, que, da mao do SLG, con­tou com ali­a­das dou­tras na­çons, e no pró­ximo mês de no­vem­bro a Coordenadora Europea da Via Campesina (ECVC) le­vará a cabo umhas jor­na­das so­bre di­ver­si­dade se­xual na Galiza, com o fim de ar­te­lhar um tra­ba­lho con­junto en­tre to­das as or­ga­ni­za­çons la­bre­gas eu­ro­peias e vi­si­bi­li­zar a di­ver­si­dade no mundo ru­ral. “Este tipo de ini­ci­a­ti­vas já fô­rom mais es­cas­sas do que som mas, ainda as­sim, se­guem a ser in­su­fi­ci­en­tes”, des­taca Álvarez. Segundo ele, “é certo que nos úl­ti­mos anos sur­gí­rom mui­tas em tudo o país que pre­ten­dem, dum jeito muito si­mi­lar ao do SLG, vi­si­bi­li­zar es­tas re­a­li­da­des e pôr em va­lor os re­cur­sos na­tu­rais e as pos­si­bi­li­da­des que tem o agro ga­lego, mas tam­bém pen­sa­mos que, se qua­dra, de­ve­ría­mos co­or­de­nar-nos mais en­tre to­das as ini­ci­a­ti­vas que lui­ta­mos em clave fe­mi­nista e agro-eco­ló­gica para po­der ter um maior po­der de in­ci­dên­cia e tras­la­dar as nos­sas rei­vin­di­ca­çons a toda a populaçom”.

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