Desde a crise de 2007, a prestaçom de serviços bancários à populaçom galega deteriorou-se significativamente. desaparecendo na última década perto da metade dos escritórios das instituiçons financeiras no nosso país. Apesar dos números alarmantes, prossegue umha reestruturaçom bancária que está a ter importantes consequências para os concelhos rurais, com as administraçons sem conseguirem achegar soluçons. Setembro passado, este problema saltou para a cena mediática: vários municípios afetados polo encerramento das agências da Abanca iniciárom protestos para evitar ficar sem estas sucursais.
Na última década a perda de agências bancárias no nosso país virou drástica, na sequência da reestruturaçom em que está imerso o sistema bancário desde a crise de 2007. Praticamente todas as entidades que operam no nosso país procederam a um corte profundo no número de balcons. As principais empresas deste sector que operam na Galiza som Abanca — produto da fusom das caixas de poupança — com 39% do total de balcons, seguido do Banco Santander com 17%, Caixabank — recentemente fundido com o Bankia — com 14%, BBVA com 12% e Banco Sabadell com 8%.
Os vários processos de fusom fizérom desaparecer umha infinidade de estabelecimentos. Segundo dados dos anuários da Associaçom Espanhola de Bancos (AEB), a Galiza perdeu entre 2010 e 2020 56% das sucursais bancárias. Algo semelhante acontece com as caixas de poupança: de acordo com dados da Confederaçom Espanhola de Caixas de Aforro (CECA), no mesmo período fechou 43% das agências de caixas de poupança que operam no nosso país — é nestas estatísticas que os números de Abanca se inserem- .
A Galiza perdeu entre 2010 e 2020 56% das sucursais bancárias e o 43% das agências de caixas de poupança
De acordo com as estatísticas da CECA, verifica-se que em 2009 — imediatamente antes do início do seu processo de fusom — as sucursais da Caixa Galicia e da Caixanova no nosso país somavam 834. No entanto, no seu último relatório trimestral publicado, correspondente ao mês de setembro, Abanca admite contar com 437 sucursais no nosso País. Desde 2014 que mais de 100 sucursais desta entidade fechárom as portas.
Mas nom é a única entidade a fazer um corte drástico nos seus serviços ao público. O Banco Santander, depois de ter adquirido o Banco Pastor e o Banco Popular também diminuiu o seu número de agências. Em 2010, o conjunto destas três instituiçons financeiras, de acordo com dados da AEB, contava com mais de 530 balcons na Galiza. Já em 2017, ano em que o Santander absorve estas entidades, o número entre os três bancos é menor ‑417‑, mas é a partir desta data que o encerramento de agências dispara. No anuário da AEB correspondente a 2020, o número de sucursais do Santander no nosso país é de 231, mas as fontes sindicais consultadas colocam atualmente o número de agências em torno de 150 após diversos procedimentos de regulamentaçom de emprego.
Por outro lado, o Sabadell acaba de anunciar, na sequência de um ERE, o encerramento de mais 31 sucursais.
Rentabilizar os recursos.
Rosa Conde é a responsável pelo sector financeiro da CIG-Banca e apresenta algumhas ideias para contextualizar este desaparecimento de sucursais. Em primeiro lugar, Conde afirma que nem do próprio sector nem das instituiçons se está a pensar nas necessidades dos cidadaos. “Está-se reiteradamente a passar a mensagem de que a situaçom da economia, com juros baixos, onera as contas de ganhos e perdas das entidades”, expom esta sindicalista. “Essa situaçom, juntamente com um excesso de capacidade que se arrastava historicamente, mas que agora está bastante reduzido, conformam um cenário que fai com que se apoie esta reestruturaçom do sector, que envolve o amortizar de milhares de emprego e encerramentos de sucursais”. O sector dificilmente procura “aproveitar ao máximo os seus recursos”, explica Conde, enquanto nas instituiçons os interesses destas empresas privadas se assumem acima de qualquer necessidade da populaçom galega.
O Banco Santander, após ter adquirido o Pastor e o Popular, diminui o seu número de balcons. Em 2017 havia 417 agências e atualmente ficam por volta de 150
Esta reestruturaçom bancária caminha para um modelo específico “que passa por umha reduçom drástica do que conhecemos por sucursal tradicional e procura desviar a atividade para outros canais, seja a banca eletrónica, seja caixas automáticos ou suporte telefónico”, aponta esta sindicalista. O encerramento de sucursais é um dos métodos do sector para tornar os seus recursos rentáveis. “E julgamos que há grandes sectores da populaçom que precisam que este atendimento presencial seja mantido, especialmente nas zonas rurais. O encerramento de algumhas agências, que eram as únicas numha determinada localidade, envolve a necessidade de pessoas sem meios para o poderem fazer, se deslocarem, dependendo doutras pessoas, para poderem tratar das suas contas…”, acrescenta ele.
Um setembro de mobilizaçons
Em setembro passado, vários concelhos rurais levantárom as suas vozes contra o encerramento de agências, numha série de protestos em que também participou a CIG-Banca. Designadamente, contra os encerramentos anunciados pola Abanca em vários municípios do país. A notícia destes encerramento chegou em agosto, em pleno verao, sem margem para a reaçom. Alguns deles conseguírom algumha alternativa: em Portas, Monfero e no Corvilhom (Cambados) a agência permaneceria parcialmente aberta e em Campo Lameiro passaria a funcionar umha unidade móvel após o encerramento da agência da Abanca. Mas em muitos casos o diálogo com a Abanca foi infrutífero ou inexistente e tornou-se impossível evitar os encerramentos.
Um exemplo desta mobilizaçom contra o encerramento das sucursais da Abanca tivo lugar na Costa da Morte. Os municípios de Vimianço e Sás — em aliança com o município de A Banha, que também foi afetado polos encerramentos de agências da Abanca — iniciárom mobilizaçons para evitá-los. O caso dos dous concelhos da Costa da Morte corresponderia ao encerramento simultâneo da agência da Abanca, no centro do Sás, e do da freguesia de Baínhas, no concelho de Vimianço. No entanto, o encerramento de agências bancárias já se tinha espalhado pola comarca: segundo o jornal digital Que pasa na Costa, nos últimos anos fôrom encerradas duas agências da Abanca em Lira e O Pindo (Carnota), umha em Bunho (Malpica), e outra em Dumbria. Além da Abanca, também foi anunciado o encerramento de umha agência do BBVA na Laracha, e das sucursais do Banco Sabadell em Malpica, Camarinhas e Cee.
Um exemplo de impacto no rural: a Costa da Morte
Manuel Muíño, alcaide de Sás polo BNG, enumera o número de movimentos feitos quando os protestos se intensificárom: recolha de assinaturas, umha manifestaçom na cidade da Corunha, umha carta ao presidente da Abanca Juan Carlos Escotet explicando o que significava para um concelho como Sás perder essa sucursal… “Pedimos também ao Presidente da Junta, Alberto Núñez Feijóo, que intercedesse ante a Abanca, mas nom tivemos novidades”, acrescenta Muíño. Este alcaide ambém participou da moçom apresentada pelo BNG no Congresso dos Deputados contra o encerramento das agências bancárias. Outra medida, aprovada tanto polo concelho de Sás como polo concelho de Vimianço, foi o levantamento de fundos municipais das contas da Abanca. Apesar das mobilizaçons, o encerramento da agência tornou-se finalmente efetivo ficando apenas operacional um caixa automático.
Manuel Muíño (autarca de Sás): “As pessoas que venhem fazer as suas gestons com Abanca também faziam aqui as compras e consumiam na vila”
O autarca de Sás exprime a importância que umha agência como a que foi encerrada neste concleho tem para a economia da vila. “As pessoas que venhem fazer as suas gestons com a Abanca também faziam aqui as compras e consumiam na vila. Se a sucursal encerrar, logicamente, essas pessoas terám que se deslocar para outros lugares e farám essas despesas noutras vilas”, frisa. “Além disso, a maioria dos clientes deste balcom tem umha faixa etária a partir dos 60 anos, nom dominam as novas tecnologias e fam as suas gestons de forma presencial. E umha agência nom é só para fazer transaçons, na sucursal eles orientam, aconselham…”, completa.
E Muíño nomeia algo que parece óbvio, mas também deve ser lembrado: “As pessoas nom tenhem umha conta bancária porque queiram, precisas ter umha para tudo: pagares a luz, fazeres a declaraçom de impostos. Umha agência bancária é imprescindível”.
Caixas por agências
Mónica Rodríguez, autarca de Vimianço pelo PSdeG, explica que “o encerramento da agência de Baínhas foi muito negativo, porque estamos a falar de umha perda de serviços nas zonas rurais”. Ainda hoje Rodríguez está indignada com o tratamento recebido pola Abanca. “Soubemos que a 8 de setembro iriam fechar só no final de agosto”. Nom houvo diálogo prévio, nom comunicárom nada de forma oficial ao Concelho…”, lembra a autarca. Em seguida, três concelhos afetados coordenárom-se para a açom: Vimianço, Sás e A Banha. “Solicitámos encontros com diversos cargos da própria Abanca, continuamos sem ser recebidos”, denuncia Rodríguez.
Mónica Rodríguez (autarca de Vimianço): “Solicitamos encontros com diversos cargos da própria Abanca e continuamos sem ser recebidas”
A agência da freguesia de Baínhas foi encerrada tendo ficado um caixa em que nom é possível fazer depósitos. Esta agência prestou também serviços à vizinhança das redondezas para além do concelho de Vimianço, vizinhos de concelhos como Dumbria ou Sás. “E agora nom dá para imaginar as filas que tem a agência da Abanca de Vimianço, porque logicamente todas as pessoas que antes iam à sucursal de Baínhas agora vám ao centro da vila”, acrescenta. Rodriguez também acha que a digitalizaçom dos serviços bancários e os novos modelos de banca eletrónica som difíceis de desenvolver no meio rural, “em primeiro lugar, porque ainda nom podemos falar em 100% de cobertura de banda larga”, denuncia, mas também por desconhecimento que as pessoas idosas tenhem das novas tecnologias.
No centro de Vimianço ainda mantenhem abertas as suas sucursais mais entidades, mas aqui, Rodriguez denuncia umha prática comum a todas: o horário de atendimento nas sucursais é apenas até às 11h00. “Acho vergonhento”, confessa a alcaidessa referindo-se a esses horários,“nem todo o mundo pode acudir presencialmente nessa faixa horária”.
Mais custos sociais da reestruturaçom
Como explica a sindicalista do CIG-Banca Rosa Conde, a reestruturaçom do sector bancário tem características em comum em todas as agências: encerramento de balcons, digitalizaçpm, limitaçom de horário de atendimento… Mas a lógica da rentabilidade dos bancos face às necessidades das suas usuárias constatou-se já também com o aumento no valor das comissons cobradas por estas entidades. “Tanto fai a entidade à que vaias, as comissons que che cobram som parecidas. É umha medida que vai contra aquele cliente médio reformado ou com pequenas poupanças. Estes clientes nom som rentáveis para o sector e a cobrança destas comissons é o que permite às entidades rentabilizarem de algumha forma este tipo de clientela: existem comissons de manutençom, administraçom por cargo de recibos… até algumhas entidades cobram comissons polo levantamento de dinheiro da tua conta no balcom”, ressalta Conde.
Rosa Conde (CIG-Banca): “a restruturaçom do setor passa por umha reduçom drástica das sucursais tradicionais e procura desviar a atividades para outros canais”
Também a populaçom trabalhadora está a sofrer as consequências desta reestruturaçom. Através dos vários ERES que estám a ser executados pelas entidades do sector, o grupo de funcionários que mais sofre é o dos menores de 50 anos, visto que é o grupo etário que representa menos custos para a empresa em termos de regulamentaçom de emprego. Conde descreve os procedimentos de ERE no setor bancário como “traumáticos”. “No papel, a reestruturaçom oferece condiçons económicas muito vantajosas, mas nem todos podem beneficiar delas”, acrescenta. Mas estas nom som as únicas consequências negativas para os trabalhadores do sector, pois “além disso, nestes processos som aplicados procedimentos de mobilidade geográfica, subcontrataçons a empresas dos seus próprios grupos, mas fora do acordo bancário para continuar a fazer trabalho bancário com remuneraçons mais baixas”, disse Conde. E as pessoas que mantenhem o emprego “ficam com pessoal excessivamente apertado que tenhem que continuar a tratar do mesmo volume de trabalho, mas com muito menos pessoal, com o que sua situaçom em termos de carga de trabalho de horas trabalhadas continua a deteriorar-se.
Subvençons para a Abanca
A indignaçom com o encerramento das agências da Abanca continuou com a notícia do subsídio de 1,2 milhons de euros aprovado pola Junta para que esta entidade instalasse caixas automáticos. O presidente da Câmara de Sás é contra esta concessom. “É quase como encorajar as instituiçons financeiras a fecharem oficinas”, queixa-se, “reduzem o pessoal, fecham oficinas e subsidiam a instalaçom de um caixa, que é um negócio para eles”. Mónica Rodríguez, autarca de Vimianço, também expressa a sua crítica a estes subsídios: “Acho que a Abanca nom merece umha ajuda assim. É desproporcional, eles tenhem umha obrigaçom que é atender e prestar um bom atendimento, e nom o estám a fazer”.
A lógica da rentabilidade dos bancos face às necessidades das suas usuárias constatou-se já também com o aumento no valor das comissons cobradas por estas entidades
Muíño destaca que cabe aos governos autonómicos e estatal tomarem medidas para que a atual reestruturaçom bancária nom comprometa o acesso da populaçom a serviços de qualidade. “Continuaremos a lutar por umha lei que regule o sector bancário”, salienta, e acrescenta que o seu partido, o BNG, formulou umha proposta para um banco público galego.
O presidente de Abanca, Juan Carlos Escotet, entrava à lista da Forbes como a quinta fortuna do Estado espanhol, estimando que atingisse os 2700 milhons de euros
No entanto, as poupanças de dinheiro das galegas estám em maos privadas que apenas procuram maximizar os seus lucros. Enquanto a Abanca acelerava o processo neste outono com o encerramento de escritórios, sabia-se que esta entidade tinha aumentado os seus lucros em 46% em relaçom ao ano anterior. E o seu presidente, Juan Carlos Escotet, entrava à lista da Forbes como a quinta fortuna do Estado espanhol, estimando que atingisse os 2700 milhons de euros.