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O sequestro do público

por
Pessoal de Matinsa re­clama a re­vi­som do con­trato que gere o
Consórcio Provincial con­tra Incêndios de Ponte Vedra em de­zem­bro | CIG

Durante a crise de 2008, as companhias privadas intensificárom o assalto aos serviços públicos através das concessons. Por se nom for abondo, os ‘lobbies’ empresariais presionárom as administraçons para influir ao seu favor à hora de desenhar as políticas legislativas. O arquiteto e ativista Xosé Allegue aponta para a remunicipalizaçom como a melhor via para garantir uns serviços públicos de qualidade.

O as­salto ao pú­blico en­trou na or­dem do dia dos ple­nos mu­ni­ci­pais trás es­tou­rar a bo­lha imo­bi­liá­ria. Nesse es­tra­ta­gema os lí­de­res po­lí­ti­cos jo­gá­rom um pa­pel es­sen­cial, em es­pe­cial os per­ten­cen­tes ao Partido Popular. O PP de Madrid, com Esperanza Aguirre ao ti­mom, apro­vou em 2008 umha po­nên­cia que cha­mava di­re­ta­mente à ges­tom pri­vada dos ser­vi­ços pú­bli­cos da edu­ca­çom, saúde, ser­vi­ços so­ci­ais e se­gu­rança. Nesse mesmo ano, apro­vá­rom umha norma que lhes fa­ci­li­ta­ria o ca­mi­nho para pri­va­ti­zar a em­presa que gere o ci­clo in­te­gral da água em Madrid, a firma Canal de Isabel II. Após a pres­som so­cial, a ten­ta­tiva pri­va­ti­za­dora fi­ca­ria na cri­a­çom dumha so­ci­e­dade anô­nima com aci­o­na­ri­ado pú­blico en­car­re­gada de ge­rir esta em­presa. Um passo su­fi­ci­ente para criar umha opa­ci­dade fa­ci­li­ta­dora do sa­queio e cor­rup­çom do ser­viço, tal e como de­mos­tra a ope­ra­çom Lezo.

A má prestaçom do serviço está vinculada com a sua concessom ao interesse privado

O ca­mi­nho nom foi di­fe­rente na Galiza. O nosso é o único go­verno da Península Ibérica que man­tém pri­va­ti­zado o ser­viço de ex­tin­çom de in­cên­dios e de ur­gên­cias atra­vés dos con­sór­cios pro­vin­ci­ais que fi­nan­ciam a Junta e as qua­tro de­pu­ta­çons. Este mapa, em que as em­pre­sas se re­par­tem os par­ques co­mar­cais, ini­ciou-no o po­pu­lar Manuel Fraga e re­ma­tou de de­se­nhar-se em 2010 com a in­co­po­ra­çom da de­pu­ta­çom de Lugo, na­quele mo­mento com o so­ci­a­lista José Ramón Besteiro ao cargo.

A em­presa Veicar, que ven­dia veí­cu­los à Junta, é a en­car­re­gada de ge­rir a dia de hoje 12 par­ques de bom­bei­ros. Seganosa e Matinsa, fi­lial de Fomento de Construcciones y Contratas, cons­ti­tuem ou­tras das com­pa­nhias que con­tro­lam este ser­viço pú­blico. Esta úl­tima em­presa, con­tro­lada por Esther Koplovitz e Carlos Slim, é co­nhe­cida po­las pre­cá­rias con­di­çons la­bo­rais às que ex­pom aos tra­ba­lha­do­res. Sem ir muito longe, os bom­bei­ros de Ponte Vedra, com o li­de­rado dos do Morraço, fô­rom à greve no ve­rao pas­sado por­que, en­tre ou­tras vul­ne­ra­çons, exis­tiam bai­xas de mais dum ano que nom es­ta­vam a ser cobertas.

Remunicipalizaçom vs. corrupçom
A cor­rup­çom, a pre­ca­ri­e­dade la­bo­ral e, por­tanto, a má pres­ta­çom do ser­viço pú­blico es­tám es­trei­ta­mente vin­cu­la­das com a sua con­ces­som ao in­te­resse pri­vado. Este vín­culo, e nom os cri­té­rios pu­ra­mente eco­nó­mi­cos, é a ra­zom fun­da­men­tal pola que o ati­vista Xosé Allegue de­fende a re­mu­ni­ci­pa­li­za­çom. “A cor­rup­çom enon­tra-se muito nos pro­ces­sos de con­tra­ta­çom pú­blica”; ex­plica. Seguindo com o exem­plo das ur­gên­cias, a Audiência da Corunha está a in­ves­ti­gar se houvo ama­nhos na ad­ju­di­ca­çom do con­curso de am­bu­lân­cias da Fundaçom Pública Urgências Sanitárias da Galiza 061 no ano 2014.

A recuperaçom da gestom pública dos serviços também se estabelece como umha oportunidade para alcançar mais soberania sobre os próprios recursos

A per­ver­som do as­salto que pro­ta­go­ni­zam as em­pre­sas pri­va­das para fa­zer ne­gó­cio com a ad­ju­di­ca­çom dos ser­vi­ços pú­bli­cos agu­diza-se quando to­pa­mos com as eli­tes ex­tra­ti­vas e a cap­tura da lei. O con­ceito de eli­tes ex­tra­ti­vas aplica-se a aque­las que se afas­tam da ob­ten­çom do bem co­mum e cen­tram os seus es­for­ços no in­te­resse pró­prio e o bem-es­tar do grupo ao que per­ten­cem. Nessa mesma ló­gica de lob­bies, move-se o con­ceito da cap­tura da lei que Allegue ex­plica como a “ca­pa­ci­dade de cer­tos sec­to­res para co­lo­ni­za­rem e in­flui­rem no seu fa­vor den­tro das po­lí­ti­cas le­gis­la­ti­vas das di­ver­sas ad­mi­nis­tra­çons”. Em re­sumo, as gran­des em­pre­sas con­se­guem que a le­gis­la­çom seja re­di­gida para fa­vo­re­cer os seus pró­prios in­te­res­ses e le­ga­li­zar os seus mé­to­dos de ob­ten­çom e acu­mu­la­çom de ri­queza. Um exem­plo é a lei hi­po­te­cá­ria. “Pagas o 80 por cento de umha pro­pri­e­dade, acu­mu­las dí­vi­das e a lei fa­ci­lita que o banco fi­que com a pro­pri­e­dade man­tendo a dí­vida viva? É um la­tro­cí­nio le­gal! E a da­çom em pago? Umha es­mola!”. Poderia-se pen­sar que neste as­salto ao pú­blico, os se­ques­tra­dos som só os ser­vi­ços pú­bli­cos mas resta ainda ou­tro grupo de ví­ti­mas: as cli­en­tas cativas.

A cli­en­tela cativa
O di­reito a água po­tá­vel e ao sa­ne­a­mento está re­co­nhe­cido por múl­ti­plos or­ga­nis­mos in­ter­na­ci­o­nais, por exem­plo, a ONU. Sustém este or­ga­nismo que o acesso a água deve ser uni­ver­sal, pois é “in­dis­pen­sá­vel para umha vida hu­mana digna”. Por exem­plo, em Vigo exis­tem perto de 293.000 pes­soas que to­dos os dias te­nhem acesso a água, um ser­viço que nem é gra­tuito nem dis­pom dumha ges­tom di­reta pú­blica. O ser­viço mu­ni­ci­pal de água está ge­rido por Viaqua, com um con­trato que se ini­ciou no ano 1997 e que re­ma­tará este 28 de fe­ve­reiro. “É o ne­gó­cio per­feito, tés umha cli­en­tela fixa que che paga to­dos os me­ses”, afirma Allegue.

No mundo do mar­ke­ting, chama-se ‘cli­enta ca­tiva’ a aque­las pes­soas com umha fi­de­li­dade for­çada á hora de con­su­mir, bem seja atra­vés dum con­trato ou pola falta de op­çons que ache­guem di­fe­ren­ças re­ais. Ademais de nes­tes ca­sos, ocorre tam­bém no sec­tor das te­le­co­mu­ni­ca­çons quando al­gumhas em­pre­sas che obri­gam a as­si­nar con­tra­tos de permanência.

Para po­der be­ne­fi­ciar-se da ‘cli­enta ca­tiva’ sem ter que dar de­ma­si­a­das con­tas, a Administraçom ela­bora uns pre­gos de con­tra­ta­çom em que nom se co­loca o in­ves­ti­mento ne­ces­sá­rio para a ma­nu­ten­çom do ser­viço. A rede pú­blica de água em Compostela ci­fra umhas per­das do 30 por cento, que cons­ti­tuem mui­tos li­tros de água ao ano.

Outra das cla­ves é o che­que em branco para apli­car po­lí­ti­cas ta­ri­fá­rias que pode va­riar e su­bir o custe do ser­viço. Se nom o pa­gas, nom tés ac­ceso. Por exem­plo, no trans­porte pú­blico abo­nas umha ta­rifa que dá be­ne­fí­cio à em­presa ad­ju­di­ca­tá­ria. Lança-se aqui umha per­gunta, por que nom se aceita que um ser­viço es­sen­cial pode ser deficitário?

Por úl­timo, Allegue de­fende a re­cu­pe­ra­çom da ges­tiom pú­blica dos ser­vi­ços como umha opor­tu­ni­dade para atin­gir mais so­be­ra­nia. “Aproveitar os re­cur­sos hí­dri­cos dum mu­ni­cí­pio po­de­ria fa­ci­li­tar o cau­dal eco­ló­gico das fon­tes com as que se po­de­riam abas­te­cer os nú­cleos ru­rais sem o ar­ti­fí­cio do bombeado”.

Como re­mu­ni­ci­pa­li­zar um serviço?
Existem três for­masde re­cu­pe­rar a ges­tiom mu­ni­ci­pal dum ser­viço umha vez re­mate o prazo da con­ces­som, bem seja atra­vés dumha em­presa mista, umha em­presa pú­blica, bem a mesma ges­tiom di­reta, em que a ges­tiom e a ti­tu­la­ri­dade som umha. Para per­cor­rer este ca­mi­nho Allegue vê fun­da­men­tal ga­nhar os go­ver­nos e ga­nhar ter­reno den­tro da ca­pa­ci­dade le­gis­la­tiva. “A de­so­be­di­ên­cia ci­vil é um di­reito tam­bém dos res­pon­sá­veis po­lí­ti­cos”. O que nom pode ocor­rer, se­gundo ele, é che­gar a um go­verno pro­me­tendo mudá-lo todo e de­pois “co­mer com pa­ta­cas” o com­pro­misso. “Há que ser valente”.

 

Municipalizaçom dos cuidados e autogestom do comum

À hora de ge­rir um ser­viço pú­blico, as em­pre­sas cos­tu­mam acu­dir sem­pre à água e o lixo por ser onde se fai mais ne­gó­cio. Razom pola que se aborda a ges­tom pú­blica di­reta des­tes ser­vi­ços mas nom de ou­tros que re­sul­tam igual­mente es­sen­ci­ais para o de­sen­vol­vi­mento da vida quotidiana.

Nessa via ainda pouco ca­mi­nhada en­con­tram-se vá­rias ex­pe­ri­ên­cias do con­ce­lho de Barcelona. Nos úl­ti­mos dous anos o go­verno de Ada Colau, com a pres­som das CUP, mu­ni­ci­pa­li­zou os Pontos de Informaçom de Atençom às Mulheres (PIAD) e o Serviço de Atençom, Recuperaçom e Acolhida (SARA). As 55 tra­ba­lha­do­ras dos dous ser­vi­ços pas­sá­rom a in­cor­po­rar-se à con­ce­lha­ria de Feminismos e LGTBI, 51 in­de­fi­ni­das e qua­tro in­te­ri­nas. Nos úl­ti­mos me­ses, tam­bém re­mu­ni­ci­pa­li­za­rom três cen­tros da in­fân­cia que fô­rom pri­va­ti­za­dos com Xavier Trias, da an­tiga Convergència.

O concelho de Barcelona municipalizou dous serviços de atençom às superviventes de violência machista

No li­vro Reclamar ser­vi­ços pú­bli­cos, co­or­de­nado por Satoko Kishimoto e Olivier Petitjean, e edi­tado por o Transational Institute (TNI), aponta-se que os ser­vi­ços pú­bli­cos nom pas­sam a ser per­fei­tos ape­nas por­que se­jam pú­bli­cos. A in­sa­tis­fa­çom, ma­las con­di­çons la­bo­rais ou cus­tos adi­ci­o­nais tam­bém po­dem es­tar pre­sen­tes, mas ainda as­sim a “ex­pe­ri­ên­cia glo­bal de­mons­tra que a pri­va­ti­za­çom ge­ral­mente nom cum­pre com as suas pro­mes­sas”. Ambos co­or­de­na­do­res rei­vin­di­cam a re­mu­ni­ci­pa­li­za­çom como a ca­pa­ci­dade de vol­ver in­tro­du­zir o com­pro­misso do bem co­mum e pú­blico, o com­pro­misso com o acesso uni­ver­sal em con­tra­po­si­çom com a pro­cura de be­ne­fí­cios dos pro­ve­do­res privados.

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