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Umha mulher maior passa por diante de umha casa arrassada polo lume.

Os grandes incêndios florestais arrassam a planificaçom da Junta 

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Umha mulher maior passa por diante de umha casa arrassada polo lume.
ós­car corral

Os ob­je­ti­vos de su­per­fí­cie to­tal quei­mada pre­vis­tos pola Junta no Plano de Prevençom e Defesa con­tra os Incêndios Florestais da Galiza (Pladiga) fi­cá­rom em grande parte sem cum­prir. Este do­cu­mento es­ta­be­le­cia a meta de al­can­çar umha re­du­çom da su­per­fí­cie to­tal quei­mada por baixo da mé­dia dos úl­ti­mos 10 anos, o que cor­res­pon­de­ria a 16.187,38 hec­ta­res. Para a Junta, o cum­pri­mento ótimo desse ob­je­tivo con­si­de­ra­ria-se por volta dos 12.223 hectares. 

Contudo, este ano, es­tes nú­me­ros já fô­rom ul­tra­pas­sa­dos po­los dous gran­des in­cên­dios re­gis­ta­dos no mês de ju­lho. Segundo as ci­fras ache­ga­das pola Conselharia de Medio Rural, os in­cên­dios do Courel e Carvalheda de Val d’Eorras ar­ra­sá­rom 11.100 e 10.500 hec­ta­res res­pe­ti­va­mente. Estes dous gran­des in­cên­dios no pri­meiro mês da fase de alto risco fô­rom a prova do fra­casso do pla­ne­a­mento da Junta na luta con­tra os in­cên­dios florestais. 

Fôrom 13 os Grandes Incêndios Florestais ‑que su­pe­ra­ram os 500 he­ta­res ar­di­dos- e a mé­dia de su­per­fí­cie afe­tada por lume si­tuou-se nos 3.031,03 hetares

Os Grandes Incêndios Florestais (GIF), aque­les que su­pe­ram os 500 hec­ta­res, umha re­a­li­dade as­sen­tada nas úl­ti­mas duas dé­ca­das. Segundo os da­dos do pró­prio Pladiga, a sua in­ci­dên­cia me­drou a par­tir dos anos 2000. Desde en­tom que este tipo de in­cên­dios tem es­tado pre­sente na re­a­li­dade dos nos­sos mon­tes. Entre 1992 e 2001 fô­rom re­gis­ta­dos 27 GIF, en­tre 2002 e 2011 me­drá­rom até 80 e en­tre 2012 e 2021 fô­rom con­ta­bi­li­za­dos 53 lu­mes deste tipo. Este úl­timo nú­mero é in­fe­rior ao da dé­cada an­te­rior, mas ainda as­sim quase o do­bro do dos anos 90. Ademais, umha re­a­li­dade pre­o­cu­pante emerge dos nú­me­ros for­ne­ci­dos pelo Pladiga: o nú­mero de agre­ga­dos fa­mi­li­a­res afe­ta­dos em cada in­cên­dio está a au­men­tar e es­tes GIFs es­tám a tor­nar-se cada vez mai­o­res. Se em 1992–2001 os GIF so­ma­vam umha mé­dia de 937,06 hec­ta­res afe­ta­dos por in­cên­dio, em 2002–2011 essa mé­dia as­cen­dia até os 1.192,15 hec­ta­res e em 2012–2021 atin­gia os 1.563,48 hectares. 

Porém, a pla­ni­fi­ca­çom da Junta nom presta es­pe­cial aten­çom a esta pro­ble­má­tica nem a ou­tras como a emer­gên­cia cli­má­tica, fi­cando ape­nas numha ex­po­si­çom de ci­fras a par­tir das quais es­ta­be­lece uns ob­je­ti­vos, de­fi­nindo umha mé­dia e tendo como re­fe­rên­cia os úl­ti­mos anos, em que os hec­ta­res ar­di­dos fô­rom pou­cos. Mas este ano, os gran­des in­cên­dios flo­res­tais con­tra­riá­rom aque­las que eram as pre­vi­sons da Junta e as con­sequên­cias fô­rom mesmo de­vas­ta­do­ras: 13 in­cên­dios ul­tra­pas­sá­rom os 500 hec­ta­res e a mé­dia da su­per­fí­cie afe­tada al­can­çou os 3.031,03 hectares. 

E os ris­cos para a po­pu­la­çom só ve­nhem a au­men­tar. Neste ano já foi ati­vada a si­tu­a­çom 2 em 21 oca­si­ons, este ní­vel de alerta é ati­vado quando existe risco real para ha­bi­ta­çons e in­fra­es­tru­tu­ras. De novo, os ob­je­ti­vos da Pladiga vi­sa­vam umha re­a­li­dade di­fe­rente pois es­ta­be­le­cia-se que o nú­mero de fo­gos ate­a­dos fi­casse por baixo da mé­dia dos úl­ti­mos cinco anos, que se si­tu­ava nos 7,6. 

Umha mulher diante de umha casa queimada.
ós­car corral. 

Denúncia ao Ministério Público 

A gra­vi­dade do im­pacto dos lu­mes neste ve­rao foi tal que a Plataforma por um Monte Galego com Futuro, em que par­ti­ci­pam di­ver­sos co­le­ti­vos so­ci­ais, sin­di­cais e am­bi­en­ta­lis­tas, de­ci­diu so­li­ci­tar que a ad­mi­nis­tra­çom au­to­nó­mica fosse in­ves­ti­gada para elu­ci­dar a sua res­pon­sa­bi­li­dade pe­nal. De acordo com um co­mu­ni­cado en­vi­ado por esta pla­ta­forma, foi apre­sen­tada umha queixa ao Ministério Público pola ina­çom da Conselharia de Meio Rural pe­rante a vaga de in­cên­dios e foi feito um pe­dido à Valedora do Povo para que atu­asse por pró­pria ini­ci­a­tiva e in­ves­ti­gasse a atu­a­çom do go­verno ga­lego na pre­ven­çom e ex­tin­çom dos in­cên­dios florestais. 

A pla­ta­forma de­nun­cia que “grande parte do Plano de Prevençom de Incêndios Florestais, apre­sen­tado em 5 de maio de 2022 pelo Presidente da Junta, Alberto Núñez Feijoo, foi mal exe­cu­tado”. Assinalam tam­bém que a afe­çom dos gran­des in­cên­dios do mês de ju­lho “te­ria sido muito me­nor se se ti­vesse ati­vado todo o ope­ra­ci­o­nal cor­res­pon­dente à época de ele­vado risco de in­cên­dios, tal e como es­ta­be­lece o Pladiga 2022”. Na nota de­nun­ciam que nes­sas da­tas “o ope­ra­ci­o­nal para ex­tin­guir os in­cên­dios es­tivo des­bor­dado desde o iní­cio pola falta de meios téc­ni­cos, ma­te­ri­ais e hu­ma­nos”, polo que a Plataforma con­si­dera que “o grau de mo­bi­li­za­çom do ope­ra­tivo de pre­ven­çom e ex­tin­çom de in­cên­dios foi equi­pa­rá­vel ao que é ati­vado du­rante umha pré-cam­pa­nha nos me­ses de março, abril, maio e junho”. 

A Plataforma por um Monte Galego com Futuro, em que par­ti­ci­pam di­ver­sos co­le­ti­vos so­ci­ais, sin­di­cais e am­bi­en­ta­lis­tas, so­li­ci­tou à Fiscalia que a ad­mi­nis­tra­çom au­to­nó­mica fosse investigada

Este pe­dido de in­ves­ti­ga­çom apre­sen­tado pela Plataforma por un Monte Galego com Futuro tem um pre­ce­dente re­cente. No mês de ju­nho, 25.000 hec­ta­res da Serra da Culebra, área de alto va­lor eco­ló­gico em Zamora, ter­ri­tó­rio de Castela, fô­rom quei­ma­dos por um in­cên­dio ini­ci­ado por umha tro­vo­ada seca. Após a apre­sen­ta­çom de umha queixa polo sin­di­cato CCOO con­tra o con­se­lheiro de Meio Ambiente de Castela e Leom, o Ministério Público da Comunidade Autónoma de­ci­diu abrir um pro­cesso de in­ves­ti­ga­çom para es­cla­re­cer se se tra­tava de um crime. “E aqui es­ta­mos nós numha si­tu­a­çom mui pa­re­cida”, ex­pom Xosé Santos, porta-voz da Plataforma por um Monte Galego com Futuro. 

Negacionismo 

Xosé Santos é tam­bém agente flo­res­tal e mem­bro do grupo am­bi­en­ta­lista Amigas da Terra. A sua crí­tica à ges­tom flo­res­tal da Junta é con­tun­dente: “Levamos 50 anos com as mes­mas re­cei­tas, e as po­lí­ti­cas flo­res­tais de luita e pre­ven­çom con­tra os in­cên­dios da Junta nom fun­ci­o­nam”. Assim, ob­serva que a ad­mi­nis­tra­çom ga­lega con­ti­nua a gas­tar muito mais di­nheiro na ex­tin­çom do que na pre­ven­çom dos in­cên­dios, mesmo após a cha­mada de aten­çom do Conselho de Contas em 2016, aler­tando que esta prá­tica con­tra­ria o Plano Florestal es­ta­be­le­cido de 1992. Neste ano 2022, dos 180 mi­lhons que a Junta or­çou para o Pladiga, 33 mi­lhons fô­rom des­ti­na­dos a tra­ba­lhos de prevençom. 

Santos tam­bém de­nun­cia a vi­som de curto prazo com que a Junta de­sen­volve o seu pla­ne­a­mento con­tra os in­cên­dios: “As po­lí­ti­cas flo­res­tais têm de ser de longo prazo, por isso é im­por­tante que os di­fe­ren­tes re­pre­sen­tan­tes so­ci­ais che­guem a um con­senso e par­ti­ci­pem”. Mas ex­pom que a Junta nom está a fa­ci­li­tar que or­ga­nis­mos com par­ti­ci­pa­çom pú­blica, como o Conselho Florestal de Galiza, cum­pram com as suas fun­çons. E isto acon­tece “por­que a ad­mi­nis­tra­çom pú­blica nom acre­dita na so­ci­e­dade”, cri­tica Santos. Por sua vez, após a vaga de in­cên­dios de ou­tu­bro de 2017 abriu-se umha co­mis­som de in­ves­ti­ga­çom par­la­men­tar que em 2018 pu­bli­cou um di­tame que vi­sava al­te­rar as po­lí­ti­cas flo­res­tais, mas “a Junta nunca o pujo em prá­tica”, de­nun­cia Santos. 

Este eco­lo­gista, que par­ti­cipa do Conselho Florestal como re­pre­sen­tante de Amigas da Terra, ex­pom que “con­ti­nu­a­mente está a pe­dir-se que se crie um grupo de tra­ba­lho so­bre a pro­ble­má­tica dos in­cên­dios e o si­lên­cio é sem­pre a res­posta da Conselharia do Meio Rural e da Junta no seu con­junto”. Santos cri­tica que fi­nal­mente nos pla­nos de com­bate aos in­cên­dios da Junta, “se­rám as con­di­çons me­te­o­ro­ló­gi­cas que de­fi­ni­rám se um ano vai ser bom ou mau, por­que eles nom es­tám a fa­zer nada para que seja de ou­tra forma”. Em to­dos os Conselhos Florestais, Santos alerta para esta si­tu­a­çom, sendo que vê na falta de res­posta da Junta e a sua vi­som de curto prazo, a prova de se­rem uns “ne­ga­ci­o­nis­tas das al­te­ra­çons climáticas”. 

Operários da Junta colocam palha nos terrenos queimados do Courel.
xunta.gal

Umha recuperaçom que pode chegar tarde

A me­a­dos deste mês de se­tem­bro a Conselharia de Meio Rural anun­ci­ava o iní­cio dos tra­ba­lhos de acol­cho­ado com pa­lha em zo­nas afe­ta­das po­los in­cên­dios do Courel para evi­tar a ero­som do solo. Estes tra­ba­lhos se­rám exe­cu­ta­dos num to­tal de 160 hec­ta­res, fun­da­men­tal­mente em va­go­a­das e ter­re­nos da rede de dre­na­gem das pis­tas. O tra­ba­lho é re­a­li­zado com as in­di­ca­çons téc­ni­cas do Centro de Investigaçom Florestal (CIF) de Louriçám, em Ponte Vedra, en­ti­dade que o Pladiga con­trata para pla­near as me­di­das de regeneraçom. 

Este tra­ba­lho le­vou um mês e meio a che­gar, e para Xosé Lois Otero, co­or­de­na­dor da Estaçom Científica da USC, este foi um tempo per­dido em que “ti­nham de se ter or­ga­ni­zado açons para re­co­brir com pa­lha ou qual­quer ou­tro ele­mento ve­ge­tal dis­po­ní­vel”. Salienta ainda que ha­via umha grande rede de vo­lun­tá­rios pron­tos para tra­ba­lhar em ju­lho e agosto. Segundo ex­pom Otero, após os in­cên­dios, a Fundaçom Uxío Novoneyra en­trou em con­tacto com ele para es­ta­be­le­cer umha rede de pes­soas com sa­be­res téc­ni­cos para es­tu­dar as ini­ci­a­ti­vas de re­ge­ne­ra­çom. Assim, esta pe­ti­çom de ajuda aca­bou por se tor­nar vi­ral e fô­rom re­ce­bi­das mui­tas cha­ma­das. “Com um pouco de ca­pa­ci­dade e von­tade, po­de­ría­mos ter 100 pes­soas que po­de­riam ir de forma se­quen­cial e or­de­nada para res­pon­der a es­tas ques­tons”, diz Otero. Mas esta ini­ci­a­tiva foi des­con­ti­nu­ada pela falta de apoio da Junta, que em agosto apre­sen­tava umha equipa de pe­ri­tos di­fe­rente da que es­tava a ser definida. 

As aná­li­ses do CIF de Louriçám in­di­cam que a tem­pe­ra­tura atin­gida polo solo nos in­cên­dios foi baixa, o que per­mite umha me­lhor re­cu­pe­ra­çom. Otero tes­te­mu­nha que há umha se­mana ha­via fen­tos que es­ta­vam a re­bro­tar. Mas  acres­centa que “o grande risco é que som áreas com de­cli­ves ín­gre­mes, de di­fí­cil acesso e há pouco que se possa fa­zer para lá che­gar a nom ser dei­tar pa­lha a par­tir de he­li­cóp­te­ros, mas este é um pro­cesso caro, nom há di­nheiro para to­das as áreas afetadas”. 

Debate so­bre a re­po­vo­a­çom do ru­ral 

Algumhas das vo­zes con­sul­ta­das para esta re­por­ta­gem des­ta­ca­vam o im­pacto que o des­po­vo­a­mento do ru­ral terá cau­sado no alas­trar deste tipo de in­cên­dios. Xosé Santos ex­plica que nas úl­ti­mas dé­ca­das “pas­sá­mos de um sis­tema agros­sil­vo­pas­to­ral para um em que quase nom há pes­soas nem se aposta nesse uso. Isso tam­bém nom ex­plica os in­cên­dios, umha vez que há zo­nas mais des­po­vo­a­das da Península Ibérica em que nom há in­cên­dios, mas isso con­se­guiu-se por exis­tir ali umha umha cul­tura flo­res­tal que no nosso país nem existe nem a ad­mi­nis­tra­çom tem in­ten­çom de promover”. 

Para a edu­ca­dora am­bi­en­tal Yasmina Silva a re­ge­ne­ra­çom dos mon­tes tem de ir li­gada a um au­mento de ser­vi­ços que ajude a fi­xar po­pu­la­çom no ru­ral. “As pes­soas som for­ça­das a aban­do­na­rem o ru­ral e isso im­plica ainda o aban­dono de um modo de vida sus­ten­tá­vel como o pas­to­reio, que toda a vida lim­pou os mon­tes. O que in­te­ressa da re­ge­ne­ra­çom des­sas zo­nas é que po­dam ser de pro­veito para que as vi­zi­nhas, ou as pes­soas que qui­ge­rem, te­nham a opor­tu­ni­dade de po­de­rem re­si­dir ali”. Silva chama a aten­çom para o facto de que, de­pois dos in­cên­dios, sur­gí­rom mui­tos an­ti­gos ca­mi­nhos que se en­con­tra­vam ocul­tos en­tre o mato. Também pom como exem­plo a ini­ci­a­tiva ‘Rebaños de lume’ com que em Catalunha se está a pro­mo­ver o pas­to­reio tradicional. 

Por seu turno, Xosé Lois Otero mos­tra-se cauto à hora de pen­sar no re­po­vo­a­mento do ru­ral e chama a aten­çom para o facto de as prá­ti­cas tra­di­ci­o­nais tam­bém te­rem o seu im­pacto. “Temos os mon­tes des­tro­ça­dos por culpa das quei­ma­das que às ve­zes eram fei­tas de forma des­con­tro­lada e há umha de­flo­res­ta­çom enorme. Se agora no Courel há urso, é por­que aí já nom há gente”. Mas ele aponta que o pro­blema é a acu­mu­la­çom de bi­o­massa, “por­que quando esta arde, nom há jeito de a pa­rar”. Isso re­quer de um de­bate com­plexo, de pes­soal téc­nico que queira ver a re­a­li­dade sem pre­juí­zos pré­vios. Temos de ava­liar onde que­re­mos che­gar e ava­liar no­vas es­tra­té­gias de uso do monte”, ex­pom Otero, que é a fa­vor da cri­a­çom de pe­que­nas ins­ta­la­çons para o apro­vei­ta­mento ener­gé­tico da biomassa. 

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