Já estamos na primavera! Custou, mas parece que afinal chegou: já podemos sair à horta, aos parques, ao monte ou ao rio sem fato de água e curtir as horas de sol, que irám a mais até o dia de Sam Joám. Para o festejo do solstício de verao ainda resta tempo, mas há umha tradiçom própria destas datas primaverais que na Semente também gostamos de celebrar: aqui vem o maio!
Esta celebraçom de origem ancestral é a festa popular que dá a bem-vinda à primavera. Se no outono damos passo ao inverno com lume e castanhas graças ao Samaim e aos magustos, à primavera recebemo-la com flores. A festa dos maios estabelece simetria com a festividade celta de Beltaine e coincide com o atual primeiro de maio. É um rito totémico, que se espalhou por muitos países, em que se lhe fam oferendas ao deus celta das árvores e das flores para ter um ano florido e proveitoso.
A festa dos maios estabelece simetria com a festividade celta de Beltaine e coincide com o atual primeiro de maio.
O elemento totémico é umha árvore ou escultura chamada maio, umha figura cónica que representa a árvore ou, aliás, umha figura antropomórfica, feita com ervas, gestas, flores… Cantam-se cantigas ao seu redor, também chamadas maios, por vezes acompanhadas da percussom de dous paus (em Redondela) ou batendo no chao com fungueiros e estadulhos (Ponte Vedra). Como nos cantos de reis ou de ano novo, é habitual pedir umha gratificaçom. Esta tradiçom foi esmorecendo no último século, mas mantem-se na faixa oriental, mesmo em Vila Franca do Berzo. Boa prova disto é que as cantigas tradicionais que se conservam som próprias da Lourençá e Porto Marim. Temos também composiçons mais modernas, já do século XX, no Museu de Ponte Vedra e na biblioteca Ben-Cho-Shey, na Deputaçom de Ourense.
O elemento totémico é umha árvore ou escultura chamada maio, umha figura cónica que representa a árvore ou, aliás, umha figura antropomórfica, feita com ervas, gestas, flores...
Há também maios figurados: umha armaçom ou esqueleto de paus ou tábuas de forma cónica ou piramidal, construída sobre umha plataforma que, a modo de padiola ou como as andas de santos em processom, permitia transportar o maio. Sobre esta estrutura colocam-se flores, folhas, fiunchos, fentos, bugalhos, frutas, como laranjas bravas, e mesmo ovos (elementos representativo também da Páscoa, do novo ciclo), e estes maios figurados chegam a representar pontes, hórreos, cruzeiros, casas, animais, figuras humanas, ou mesmo embarcaçons, pola zona de Marim.
Também se punham ramos de gesta nas portas da casa e da corte, nas carroças, leiras e barcas (hoje em dia já quase só as vemos nos para-brisas dos carros), na tarde-noite do último dia de abril, para que o mês de maio protegesse a casa e a gente que em ela viver. Somado a isto, existia o costume de alumiar as leiras na noite do 30 ou do 29 de abril. De novo, encontramos o lume como elemento purificador numha tradiçom pagá relacionada com o ciclo do ano.
No ano passado na Semente de Lugo, Blanca Vilares ofereceu um obradoiro sobre música nos maios, construiu-se o maio como sempre fazemos, com a participaçom de todas as crianças, maes e pais que o desejarem, e cantamos e dançamos em redor. Também em Vigo, Trasancos e Compostela, recuperamos esta tradiçom um ano mais. Em este 2018, volvemos estar dispostas para preparar o nosso maio, as nossas cantigas e desfrutar da festa do novo ano agrícola que começa.