A morte de Ramiro Paz neste mês de dezembro, surpreendia toda umha comunidade que tinha partilhado com ele luitas e festas pola insubmissom. Umha comunidade ampla, heterogénea, que ajudou a construir o que posteriormente seria estudado como um novo ciclo de luitas a nível internacional. Umha mudança de paradigma no enfrentamento dos conflitos políticos caraterizada nom apenas por umha maior complexidade do inimigo a combater, a cada dia mais difuso mas muito agressivo, senom polas práticas e açons diversas que as novas geraçons despregavam para lhe fazer frente e para construir, ao mesmo tempo e com enorme dificuldade, umha estratégia válida para o conjunto dos nossos movimentos sociais.
Ramiro foi companheiro para aquela geraçom de 70 que sofrêrom a legalidade estatal que os obrigava ao serviço militar. Mas também, algumhas das geraçons que chegamos depois, tivemos o antimilitarismo como exemplo de quem antes figera esforços por deixar os nossos bairros e aldeias um pouco melhores, um pouco mais justos. E contodo, o movimento da insubmissom está ainda por se reconhecer na Galiza. Num artigo no número 152, Paulo Painceiras lembrava que entre os anos 1985 e 2000, 60.000 jovens galegos aderírom à objeçom, umha cifra apenas superada no resto do Estado por Navarra. Nesses últimos anos de conflito é encarcerado Ramiro junto com Elias Rozas. A inovaçom militante que estes jovens introduzem no campo de luita é a da ‘insubmissom nos quarteis’. Relativamente esgotada a via da negaçom inicial à ‘mili’, a nova tática consistia em apresentar-se para desertar umha vez dentro. Juízo e encerro corriam logo por conta do exército, o que acrescentava as possibilidades de maus-tratos e ameaças fascistas como as que sofrêrom na prisom militar de Alcalá de Henares em 1997. Nom fôrom os únicos, outros viriam depois. Qualquer das táticas servia, da mais contundentes às mais esquivas como as prestaçons substitutórias ou a ampla diversidade de rebuscadas inutilidades para desenvolver o serviço militar.
Se ainda carecemos de narrativas próprias da história dos nossos movimentos de base mais críticos é principalmente porque ainda nom fomos capazes de elaborá-las
Se ainda carecemos de narrativas próprias da história dos nossos movimentos de base mais críticos, e portanto de certa memória coletiva que ligue umhas e outras desputas ao longo destas décadas, que teça um fio condutor em chave emancipatória e de futuro, é principalmente porque ainda nom fomos capazes de elaborá-la. Nom é tarefa miúda. Afeitas a incorporarmos épicas com a centralidade do nacionalitário, as lógicas dos movimentos sociais da contemporaneidade nom calham sempre bem nalgumhas das formas que lhe impomos. A própria constituiçom dos movimentos com ciclos de altos e baixos, a sua efervescência, ou a desconexom aparente entre eles dificulta a elaboraçom dumha estratégia clara, em favor da qual devamos seguir hoje a trabalhar.
A luita marcadamente libertária do antimilitarismo contou com amplo apoio popular organizado na Assembleia Nacional de Objeçom de Consciência (ANOC) ou no Movimento de Objeçom de Consciência (MOC), com dúzias de pequenas assembleias, assim como desenvolveu umha potente estratégia cultural que acompanhasse o conflito. Umha estratégia que seguimos a ensaiar hoje, em processos repressivos, em forma de revistas, manifestaçons, concertos, charlas, pintadas. E quanto bem nos viria termos o nosso mapa dos movimentos críticos.