O orgasmo de umha mulher grávida é um ato político, sobretudo quando o prazer aparece sempre desligado da maternidade. Através da história de cinco mulheres debulha-se a necessidade de reivindicar umha maternidade com a que as mulheres poidam empoderar-se e bater no sistema patriarcal e capitalista.

“Decidim ser mae estando desempregada e com o medo de reproduzir os roles de gênero”, sustém Lara Rozados, que cria a sua pequena em Compostela. Na mesma cidade, Aida Pérez explica que parou as suas tentativas de ficar grávida durante umha temporada pola coincidência com um contrato laboral. “Nom tenho tempo para planificar a minha vida, como para fazê-lo com a maternidade!”, explica. Situaçom semelhante a vivida por María Iglesias, da Fraga da Galinha, em Ordes, que aguardava ter tempo para preparar-se durante a gestaçom mas nom puído, “todo foi muito rápido”. Em Peiteiro, Bergondo, Irati Urizarbarrena decidiu “colher as cousas tal e como venhem” gozando de umha gravidez “coerente” com a sua saúde ainda que depois, ao contrário dos seus desejos, o bebé nasceu por cesárea. Alba Rivas, que vive na aldeia da Revolta, no antigo concelho de Cerdedo. Ficou grávida estando solteira e, nesse momento, percebeu o seu medo a ser julgada pola sua decisom de ter a criança.
Ainda com estes condicionantes, todas asseguram que tomárom a decisom de ser mães livremente ainda que Irati duvida se um gravidez nom planejada pode desencadear numha decisom totalmente livre. O grupo logo busca umha definiçom de liberdade. “É ter a possibilidade de decidir “, “é manifestar-se polo direito ao aborto com o teu bombo de cinco meses”, apontam.
“Tomei a decisom soa, foi a minha escolha e deu-me muito poder, sentim-me forte e confiante”
A escolha de ser mae foi empoderadora para Alba. “Tomei a decisom soa, foi a minha escolha e deu-me muito poder, sentim-me forte e confiante”. Umha decisom que implica “chegar à aldeia e que che digam tapa-te porque és umha mae solteira”. Perante esta situaçom, Alba botou mao da valentia e aproveitou umha oferta de emprego na escola da aldeia para acudir “com todo o meu bombo e a minha realidade”. As cinco mulheres coincidem em que a necessidade de estabilidade, bem seja laboral ou sentimental é umha falácia, pois nunca chega. “O importante é a tua vontade de querer ter crianças”. Nessa vontade foi onde se sentírom livres.
Maes empoderadas
À hora de mostrar umha maternidade empoderadora descobre-se a falta de acordo sobre que formas de ser mãe enchem de fortaleza às mulheres. O enfrentamento ideológico à hora de entender a maternidade evidência a importância do útero para a sobrevivência de todo o sistema patriarcal e capitalista e, portanto, a sua transcendência à hora de derrubá-lo.
Umha das leituras mais completas é a realizada por Silvia Federici que explica como o patriarcado e o capitalismo olham cara ao útero como quem olha para umha máquina de produçom de força de trabalho. Ao notar a sua dependência do corpo da mulher para subsistir, os sistemas desenvolvem o afám de conquista do que beberá a misoginia. Separada a produçom da reproduçom, os homens vírom-se envolvidos na monetarizaçom e as mulheres, sem acesso ao salário, ficárom forçadas a umha pobreza crónica. A devaluaçom do trabalho reprodutivo levou consigo a perda de valor da própria força de trabalho.
Reflexons como esta abrem um amplo abano de linhas de açom ainda que, polo de agora, os debates mais notórios nos últimos anos centrárom-se na relaçom individual da mãe com a criança. Por exemplo, as que defendem estar com as crianças a toda consta e as que priorizam umha independência da mãe, tal e como poderia representar a traços largos o debate gerado entre Maria Llopis e Beatriz Gimeno. A primeira apela a umha maternidade sexual e de uniom com a bebé enquanto que Gimeno acho isso umha trasladaçom do amor romântico à relaçom mae-filha.

O debate dicotómico sobre a maternidade nom é de gosto das mães presentes. Maria indica que é necessário criar discursos flexíveis e dirigidos à mãe enquanto que Lara acha em falta a visibilizaçom desse empoderamento de ser mae e cuidadora. Aida explica como num início parte dela questionava a sua própria maternidade. Preocupava-lhe como harmonizar o seu novo role com o que tinha “trabalhado e ser congruente”. “Nunca sentim que me assinalaram por ser mae mas sim vou a espaços expectante para ver como me situam”, explica.
Os medos que sentírom ao decidir ser mae quando serám sujeito de debate? Quantos espaços existem para partilhar, analisar, debater sobre outros tipos de maternidades? Para partilhar referentes de crianças? Tanto Irati como Aida preocupavam-se com a ideia de ter um neno porque “que referentes de masculinidades tés?”. “E se crias a um agressor?”.
“Estava desempregada e pensava em se devia ou nom enviar o curriculum às ofertas de trabalho”
Ao mesmo tempo, a necessidade de ter umha rede de pessoas para acolher a criança vê-se fundamental. “Estava desempregada e pensava em se devia ou nom enviar o curriculum às ofertas de trabalho”, indica Lara Rozados, “agora estou a meia jornada tendo que escolarizar a nena muito cedo, com cinco meses”. Minutos depois, na mesma conversa, Aida responde-lhe sem sabe-lo, “criárom-se muitas falácias sobre a mulher, a maternidade e o trabalho polo que chegamos aqui com as mochilas carregadas de merda”.
Transmissom da maternidade
Quando umha das mulheres comenta que a sua mae insistia em presenciar o parto ainda que ela lhe pediu que nom figera, todas começárom a partilhar umha história similar. Umha mae insistente, por vezes invasora, que busca por todos os meios estar no momento do parto usando até a chantagem emocional. De súpeto, estourou um tema apenas abordado, a transmissom da maternidade entre geraçons. “As maes ‑as da geraçom anterior- buscam ser o teu referente e se tu escolhes outras formas de maternidade cabreiam-se contigo”, explica María. Consideram que a transmissom da maternidade entre as diferentes geraçons é complicada e apelam às avós como as mais tolerantes, um traço que vinculam com a desestruturaçom das famílias nessa época e a consequente compreensom.

Nom percebem com claridade de onde sae esse mal-estar gerado pola sua independência na escolha do tipo de maternidade. Fica no ar se as maes da anterior geraçom recebérom tam forte a pressom da reproduçom, a ideia de que a sua valia residia na maternidade, que questionar aquilo de que se sentem mais orgulhosas e valoradas é colocar os interrogantes na mesma identidade que fôrom lavrando desde a sua infância.
Um fio de raiva introduzia-se na conversa. “Minha mae di que ela nom puido isto ou nom puido o outro mas é que nom lhes deixárom! Quitárom-lhes tanto!”. “Quanto tempo de baixa tinham?”, Pregunta umha ao tempo que outra aponta “e a moda essa de dar leite em pó? O teu leite sempre era mau, a culpável, e o bom era esse leite em pó?!”. “E quando fas muitas perguntas e dim, ‘por que lhe dades tantas voltas, parir é parir’, nom é?”.
“Aguentei um dia inteiro de cólico nefrítico pensando que era o parto”
Como se fosse um ato reflexo, apuram a diagnosticar nelas mesmas as consequências dessas eivas na transmissom da maternidade. “Aguentei um dia inteiro de cólico nefrítico pensando que era o parto”, explica umha das mulheres enquanto outra conta como a sua mae lhe dizia “que nom tinham as cadeiras para parir” e essa ideia que nom podia quitar da cabeça entrou também no paritório. “Após o parto, paralisou-se-me a cara”, explica.
Perante o quase nulo reconhecimento das maes como sujeitas políticas e os vazios na sua genealogia, surge umha reivindicaçom: a volta ao ser mamífero. Como lobas em manada, explicam que querem escuitar o próprio corpo, navegar nas experiências, questionar os dogmas, sentir a força e fazer fronte a todo o que lhes impede ser as mamíferas que desejam. Tenhem claro que parir nom só é parir e que desta maternidade em construçom podem fazer-se cada dia mais fortes.