Que o direito à existência das pessoas trans seja questionado e negado constantemente nom é umha novidade. Isto é algo que acontece desde que se tem constância da existência de pessoas com umha identidade sexual que nom corresponde com o sexo designado ao nascer. Somos umha ameaça para todo um establishment do género que leva séculos blindado e por isso perseguiu-se-nos e persegue-se-nos. Hitler fechava-nos em campos de concentraçom, Franco metia-nos em cárceres, todo isto à vez que éramos proibidos em muitos códigos legislativos de países supostamente democráticos. O panorama nom mudou na atualidade, já que o nosso sangue segue a ser derramado em países como o Brasil ou os EEUU, enquanto sofremos os ataques da direita mais reacionária, enaltecidos numha onda mundial de fascistizaçom, da qual se aproveitam personagens como Trump ou Bolsonaro.
O assombro chega quando os discursos de ódio venhem de espaços supostamente aliados, algo que fai com que nos decatemos do poder que tem esta onda patriarcal e direitosa. Ainda mais, chama a atençom que o lugar de gestaçom e expansom de muitas destas ideias tenha a ver com realidades que se forjam fora do país. E isto é o que ocorreu com os discursos feministas que negam as mulheres trans, que tratam de ser importados desde fora da Galiza igual que outras os importárom antes desde os países anglo-saxons. A sua presença em redes testemunha esta afirmaçom, pois é fácil topar chios que dim que o que vivemos as pessoas trans, a nossa agonia de ter que arriscar todo para serem quem somos, é um “capricho neoliberal”, como digérom as famosas Towanda Rebels. Para além disso, para destacadas feministas espanholistas como Lidia Falcón ‑e o seu Partido Feminista‑, somos equiparáveis a puteros, violadores e compradores de bebés.
É fácil topar chios que dim que o que vivemos as pessoas trans, a nossa agonia de ter que arriscar todo para serem quem somos, é um “capricho neoliberal”, como digérom as famosas Towanda Rebels. Para além disso, para destacadas feministas espanholistas como Lidia Falcón ‑e o seu Partido Feminista‑, somos equiparáveis a puteros, violadores e compradores de bebés.
Ler estas afirmaçons é suficiente para identificá-las como parte dum discurso de ódio que leva séculos acabando com a vida das pessoas trans. Isto pode evidenciar-se analisando as argumentaçons que oferecem sobre o seu corpus ideológico as seguidoras destas correntes, já que todas rematam com a mesma frase: as pessoas trans somo-lo apenas porque queremos assumir roles, vestimenta e simbologia associadas ao sexo oposto. Segundo isto, as pessoas trans definiria-nos o conceito de “género” como categoria social que associa roles opressivos em relaçom ao sexo, o qual converte-nos em ilusons dependentes desta estrutura. A nossa existência seria, desta forma, um facto artificial, que é traduzido na ideia de que no fundo nom existimos realmente: somos indivíduos caprichosos expressando aleatoriamente a nossa liberdade de eleiçom.
A isto ajudou que do próprio coletivo LGTBIA elaborássemos conceitos e categorias confusas, fruto por sua vez da falta de consenso entre quem o integramos. Refiro-me principalmente aos de “identidade de género” e “expressom de género”, mui difíceis de distinguir. Deste jeito, a identidade de género trataria de fazer referência ao marco social que encerra a nossa autopercepçom como pessoas, enquanto a expressom de género centra-se nos diversos usos estereotipados que emanam de ditos marcos estabelecidos. Por isso, a partir dumha grande quantidade de debates, muitas preferimos descartar o conceito de identidade de género e utilizar o de identidade sexual para explicarmos-nos. Aquilo que nos define como pessoas nom é como nos adaptamos às rígidas normas fixadas pola sociedade binarista, mas como nos percebemos em base ao nosso corpo e à nossa relaçom com as demais pessoas.
É por isto por que certos grupos argumentam a sua ideia de que é preciso excluir as mulheres trans do feminismo, sustentado dito argumento numha confusom conceptual. Quando as pessoas trans nos estamos a referir ao género, nom falamos da expressom, mas do marco social em que se desenvolve a nossa identidade sexual, que pode ou nom corresponder com o sexo designado no nascimento. Esse marco social é construído e opressivo (imposto polo patriarcado), pero é real e, portanto, as pessoas cis e trans tentamos adaptar as nossas vidas a ele na medida do possível.
Quando as pessoas trans nos estamos a referir ao género, nom falamos da expressom, mas do marco social em que se desenvolve a nossa identidade sexual, que pode ou nom corresponder com o sexo designado no nascimento. Esse marco social é construído e opressivo (imposto polo patriarcado), pero é real e, portanto, as pessoas cis e trans tentamos adaptar as nossas vidas a ele na medida do possível.
Geralmente, é pola nossa própria seguridade, pois rejeitá-lo implica sofrer umha resposta contundente por parte do sistema patriarcal: fazemo-lo quando decidimos entrar numha ou outra casa de banho; quando nos rendemos aos standards impostos num ato social de relevância, como um casamento, ou incorporamo-lo ao nosso dia-a-dia com elementos como a roupa ou o penteado.
O género associa roles em relaçom aos caracteres sexuais que temos ao nascer, portanto, a simples existência de pessoas trans e nom binárias supom o questionamento mais grande possível sobre este. Estamos a assinalar a artificialidade do padrom género e reclamando a capacidade para transmutá-lo, isto é, para que rache a sua exclusividade a respeito do sexo designado ao nascer; é dizer, o que chamamos autodeterminaçom do género: que deixe de impor-se às pessoas e que sejam elas próprias quem escolham como querem relacionar-se com a sua contorna.
Defendemos, portanto, todo aquilo que questione o género como um padrom imposto, por exemplo, que um neno poda vestir de princesa sem ser questionado o que é ou deixa de ser. Agora bem, exigimos como direito humano que a identidade das pessoas seja respeitada, que se esse neno di que é umha nena seja escuitada e se tenham em conta as suas decisons, único jeito de garantir a sua felicidade. Esta exigência inclui a liberdade para expressar a sua identidade sexual como desejar, tanto na relaçom com o próprio corpo (algo que nom é visível até a puberdade) quanto na relaçom com o sistema de género existente.
Basta já de fábulas mal-intencionadas e discursos de ódio camuflados de liberdade. Já temos suficientes problemas na nossa luita diária na Galiza, com umha Junta que nom escuita as nossas demandas e que nos maltrata mediante a patologizaçom, como para ter que importar outros de fora.