A pornografia é, simplesmente, a representaçom explícita do sexo que pretende produzir exitaçom no público (nom só por meios audiovisuais, ainda que nos centraremos neles, senom também na literatura, artes gráficas, cénicas, etc). Porém, se acudimos ao dicionário esvaece-se de imediato a neutralidade de tal definiçom ao toparmo-nos com a “obscenidade”, quer dizer, com juízos morais, socialmente determinados, historicamente alternantes e, neste caso, estreitamente ligados à repressom e ao tabu a respeito da sexualidade.
O tema complica-se e a polémica que o envolve provoca debates controvertidos também dentro dos feminismos. O lugar comum de que o “porno é machista”, ainda que em geral poda resultar adequado, tem certo paralelismo com a focagem que mesma crítica deita a respeito do reggeton ao tempo que se óbvia ou dilui a denúncia do machismo noutros géneros musicais. Em ambos casos, existe umha inclinaçom ideológica estrutural que converte as lentes moradas numha lupa, concentrando a luz num ponto concreto e deixando fora do foco o resto do panorama visual. O problema deste fenómeno, ademais do reforço de esquemas discriminatórios e do estigma (considerado o pior do seu trabalho polas próprias atrizes, segundo o estudo de há mais de 10 anos arredor do porno da investigadora Mireille Young), é a perda de perspetiva que implica pedir a proibiçom ou censura do cinema pornográfico e nom a do cinema de Hollywood.
Esta lógica nom implica umha defesa da milionária indústria pornográfica, dentro da que se produzem violaçons e abusos (“Quem veja Garganta Profunda está a ver umha violaçom”, declarava Linda Lovelace), onde existem trata de mulheres com fins de exploraçom sexual, da que se lucram especialmente os homens e que oferece umha representaçom da sexualidade objetificadora e misógina, transfoba, racista… e dirigida ao homem. O importante é entender que o porno que conhecemos maioritariamente é deste jeito porque se inscreve dentro da aliança patriarcado-capitalismo, mas nom é inerentemente assim; ao igual que o cinema convencional nom tem porque ser machista, apesar de Woody Allen, Bertolucci e Marlon Brando ou de que ainda agora poucos filmes superem o limitado Test de Bechdel; ou que ganhar-se a vida como costureira nom tem porque implicar sempre ser escrava numha das subcontratas deslocadas de Inditex. O importante é ter presente que o problema real em canto à sexualidade adolescente é a falta dumha educaçom precoce, de qualidade e sem preconceitos, e nom a proliferaçom do porno, que só pode mal-educar pola ausência desta.
O pós-porno, como movimento cultural, é segundo Paul Preciado “um processo de empoderamento e reapropiaçom da representaçom sexual” onde as minorias tomam o controlo para construir as suas próprias subjetividades
Em palavras da atriz, pornógrafa, performer e educadora sexual Annie Sprinkle “a soluçom ao mal nom é proibir o porno, senom fazer melhores filmes”. Existem alternativas, e nom nascêrom agora. Já na década de ‘80 a atriz porno e feminsta Candida Royalle fundou Femme Productions com o objetivo de produzir conteúdo através dumha perspetiva diferente (com, por exemplo, cenas de parelha onde ela estabelece limites e exige necessidades dum jeito que, ainda agora, é difícil de topar mesmo na representaçom de relaçons sexo-afetivas de produçons audiovisuais convencionais). Já no ano 1989, Royalle, Sprinkle e Verónica Vera, entre outras, assinavam Postoporn Modernist, um Manifesto que advogava por umha atitude positiva cara ao sexo. O pós-porno, como movimento cultural, é segundo Paul Preciado “um processo de empoderamento e reapropiaçom da representaçom sexual” onde as minorias tomam o controlo para construir as suas próprias subjetividades, questionando os mecanismos de obtençom do prazer e o discurso dominante a respeito das categorias de género e da sexualidade. Atualmente, é preciso diferenciar entre certos termos que parecem assolapar-se mas nom som trocáveis. Por umha parte, o “porno das mulheres”, do que a maior representante é Erika Lust, foca-se em produzir conteúdos dirigidos a elas, que ao ir-se desfazendo aos poucos da repressom sexual (sim, já nos masturbamos!) vam demandando mais material e criando assim um nicho de mercado específico. Segundo dados de Pornhub, diariamente 60 milhons de mulheres consomem porno, e preferem conteúdos com mais contexto e argumento. Segundo um estudo da revista Marie Claire, em geral mostram preocupaçom polo trato da indústria pornográfica cara as mulheres e polos estereótipos reproduzidos. Ainda que existem iniciativas interessantes, como a serie X Confessions de Erika Lust, na que se leva ao ecrám as fantasias secretas que lhe escrevem mulheres reais e anónimas, esta ótica é insuficiente. Ad
emais do limitado dos seus objetivos, a sua denominaçom resulta problemática, pois pode derivar facilmente na perpetuaçom de roles tradicionais, estereotipando a sexualidade das mulheres, que pola contra é muito heterogénea: ou será que todas queremos ver cenas de sexo suave e carinhoso em cores pastel?
Annie Sprinkle: “a soluçom ao mal nom é proibir o porno, senom fazer melhores filmes”
Por outro lado, o “porno ético”, termo instaurado pola pornógrafa feminista e educadora sexual Tristan Taormino, centra-se mais no que sucede detrás das câmaras que próprio produto final, ainda que tampouco o deixe de lado. Assim, produz-se de jeito legal, baixo condiçons justas com um salário digno, respeitando os direitos laborais e os limites, necessidades, preferências e bem-estar das pessoas envoltas, especialmente das atrizes, assim como valorando as suas achegas e pondo ênfase nos cuidados.
Um passo além, o “porno feminista” surde de aplicar a perspetiva feminista de jeito transversal em todo o processo de produçom, juntando os objetivos do porno ético com a questom da agência das mulheres em todos os estádios do processo (guiom, produçom, realizaçom, atuaçom…) e com a questom da visibilidade, do tratamento nom discriminatório e da representaçom da diversidade de sexualidades, orientaçons, identidades, corpos e práticas. Assim, dumha atitude positiva cara ao sexo, até as práticas mais extremas do BDSM som fantasias feministas válidas, em tanto sejam consensualizadas e se representem explicitamente como tal.
Em palavras de Tristan Taormino, o “porno feminista está dedicado à igualdade e à justiça social. O seu objetivo é empoderar a quem atua através de práticas laborais éticas e a quem o vê através de representaçons da sexualidade que difiram da norma, expandindo as ideias sobre o desejo, a beleza, a satisfaçom e o poder”.
A diversidade existente atinge desde as propostas queer de Shine Louise Houston (Pink&White Productions) e Jiz Lee ou as artísticas produçons de Vex Ashley com Four Chambers, passando polos filmes de guiom elaborado como Marriage 2.0 de Paul Deeb ou a paródia kitsch Queen Bee Empire de Samuel Shanahoy, até o projeto de Dirty Diaries de Mia Engberg financiado polo governo sueco. Ademais de ser Linda Williams, para investigar tanto a nível de produçom como de critérios guia do porno feminista, pode-se começar polas páginas dos pioneiros Feminist Porn Awards fundados em 2006 em Toronto ou os PorYes Awards (Berlim, 2009), assim como do festival itinerante da Muestra Marrana (Barcelona, 2007) ou dos seminários Feminismo Porno Punk (Donostia. 2008). Como se leva este discurso à prática e quais som os resultados destas teorias? A melhor forma de conhecer a resposta é… vendo muito porno!