Nos dias 6 e 7 de outubro tinha lugar no Ferrol o primeiro congresso da Rede para o Decrescimento Eo-Návia-Galiza-Berço, um evento com o que culminavam meses de trabalho para a adaptaçom do ideário decrescentista à realidade galega. Falamos com Miguelanxo Abraira, membro da Rede, para conhecer as conclusons do congresso e a atualidade do movimento decrescentista.
Quais fôrom as conclusons principais do congresso?
A principal foi a necessidade de criar umha organizaçom e depois falou-se na necessidade de um modelo educativo distinto, de um modelo de saúde pública que nom esteja ao serviço das grandes farmacêuticas, de reconfigurar o transporte e a energia… Entendemos que vai haver umha mudança de paradigma importante e imos cara umha sociedade que nom vai poder dispor de tanta energia. Também defendemos criar modelos organizativos baseados na autogestom e impulsar medidas concretas que visualizem a alternativa que permita umha sociedade mais justa e igualitária.
Debatemos sobre ecofeminismo e entendemos que os seus valores tenhem que estar presentes de jeito transversal em todo aquilo que desenhemos.
Organizar-se nestes três territórios está ligado ao conceito de biorregiom. Poderias explicar-nos este conceito e quais som as caraterísticas da biorregiom em que se situa a Galiza?
A Rede constitui-se para biorregiom por várias razons. A principal é que as soluçons numha idade pós-fossilística vám ter a ver com as condiçons ambientais, climáticas e de recursos que se deam nos territórios, que som condiçons que muitas vezes definem os aspetos culturais e sociais. A biorregiom Eo Návia – Galiza ‑Berço tem umhas caraterísticas ambientais e de recursos similares e as opçons vam ser similares para os três territórios, sobretodo se estamos a articular-nos numha mesma organizaçom. Também havia aspetos culturais que convidavam a tentar constituir umha organizaçom comum nestes territórios, e houve umha boa aceitaçom.
Nesta biorregiom também teria cabida o norte de Portugal?
Com Portugal, o que figemos, e dado que eles estám também impulsando a rede para o decrescimento de Portugal, foi aprofundar nas relaçons. Mas entendemos que a existência de dous estados torna difícil a existência de umha só organizaçom, e ademais a permeabilidade que existe entre o norte de Portugal e a Galiza, ainda que seja importante, nom é o suficientemente sólida. Assim, acordamos aprofundar nas relaçons e eles estivérom convidados a participar ativamente no congresso de outubro.
A pegada ecológica da Galiza é superior à do Estado, a que se deve e o que significa a nível global?
A pegada ecológica reflete o impacto que a atividade feita na Galiza tem sobre o território. Tendo em conta que aqui estám as térmicas, que nom fornecem de energia elétrica ao território galego em exclusiva, a pegada ecológica é mui alta, maior que a do Estado. Essas empresas existem, geram uns postos de trabalho na Galiza e isso agranda a pegada ecológica da sociedade galega.
Que reflexons há desde o Decrescimento quando estouram conflitos laborais como o atual com os postos de trabalho da Alcoa?
A reflexom que fazemos é primeiro compreender o mau trago polo que estám a passar os trabalhadores. O feito de ficar fora do sistema, nom haver alternativas e haver umha profunda crise de trabalho fai que se veja o futuro com verdadeiro pessimismo. Entendemos que defendam com unlhas e dentes os postos de trabalho. Dito isto, há que dizer que o que está a fazer a Alcoa é conseguir que a sociedade no seu conjunto forneça de eletricidade a umha empresa abaixo do custo de produçom, mais de 30% da eletricidade que se produz na Galiza, incluindo as térmicas e as renováveis, consome‑a Alcoa. Os mil milhons de euros que recebeu Alcoa nos últimos anos deixam ver claramente que esses postos de trabalho nom som pagos pola empresa mas pola sociedade. Entendemos que esta situaçom é insustentável e que é um claro exemplo da crise energética mundial. No momento em que os recursos energéticos cada vez som mais escassos as pessoas tenhem que trabalhar mais para aceder à mesma unidade energética. Ao encarecer-se a energia, as grandes empresas devoradoras entram em crise. E este é a mudança de paradigma. A mudança de paradigma na revoluçom industrial consistiu em que se passou de umha sociedade rural e agrária para umha sociedade industrial, neste momento o que está a iniciar a sua decadência é a sociedade industrial e começa por aquelas empresas que som altamente dependentes de energia. Entom, solidarizamo-nos com os trabalhadores de Alcoa, e dizemos que existe alternativa, que é o decrescimento, que há jeitos de viver sem apostar exclusivamente por postos de trabalho em multinacionais e que se pode viver de recursos territoriais e galegos.
É o decrescimento umha proposta só para o ocidente industrial?
É umha alternativa para todo o planeta. O que sucede é que o capitalismo está pondo em perigo a supervivência da humanidade, principalmente pola incerteza climática. O decrescimento é umha alternativa global, outra cousa é que tem que tomar um cariz distinto dependendo da sociedade em que se faga o discurso. Nom é o mesmo defender o decrescimento no centro do ocidente opulento, como podem ser os EUA, que defendê-lo na periferia do centro, como é a Galiza, como defendê-lo na África, onde é preciso que as pessoas tenham direito aos seus recursos, a poder viver no seu território. Há que estar dispostos a decrescer no ocidente opulento para que eles podam medrar. Também é diferente o discurso a transmitir a pessoas que vivem em situaçons de pobreza em ocidente, pois o capitalismo cria injustiças nom só norte-sul mas também dentro dos próprios territórios. Para que todo o mundo poda aceder a uns mínimos há que optar pola partilha e nom polo crescimento.
Considerades o perigo de que parte do ideário decrescentista poda ser apropriado polo estado ou o sistema capitalista?
O sistema capitalista já está assumindo parte do ideário. Mas o decrescentismo tem muitos eixos, e o da reduçom nom entra dentro do modelo capitalista. O capitalismo para continuar existindo precisa continuar acumulando riqueza, continuar espoliando territórios e recursos, eliminar culturas que considera minoritárias, ou contar com valores heteropatriarcais que nom tenham em conta a vida e que tenham em conta única e exclusivamente a dominaçom. É difícil que o capitalismo poda assumir mesmo a palavra decrescimento, pois baseia-se na necessidade de acumular.
Teria sentido a proposta decrescentista se nom existisse essa ameaça de colapso energético?
O decrescimento nasceu como umha opçom de vida individual e coletiva polo que deve apostar a sociedade opulenta do norte. O que se passa é que nestes momentos, e polo menos no congresso de Ferrol ficou claro, já nom é possível reconduzir o capitalismo e estamos condenados a um colapso que já se está dar nalguns setores sociais. Agora nom é umha opçom, mas a única alternativa que temos as classes trabalhadoras para que o grande capital nom instale políticas neo-fascistas. Isso é um perigo que há. Entendemos que o decrescimento é a ideologia e as propostas que pretendem fazer umha emenda total ao capitalismo e que pretendem que haja umha sociedade sem escravos.
Algumhas iniciativas concretas a desenvolver por parte do decrescentismo galego?
Da Rede estamos a consolidar os grupos locais de trabalho e a seguinte medida acordada é fazer umha proposta para criar um parque de vivendas abandonadas, para que quem nom poda aceder à propriedade chegue a acordo com pessoas com propriedades abandonadas, que estas vivendas podam ser habitadas em troca de umha reparaçom e que seja umha cessom a longo prazo. Poderia estar a administraçom como garante, mas tampouco seria obrigatório para estes acordos. Logo há medidas mais genéricas: criar umha medicina científica que nom esteja ao serviço do capital, apostar em projetos educativos alternativos e, sobretodo, insistirmos muito no tema da autogestom: precisamos de uns movimentos sociais autogeridos cada vez mais fortes.