Localizado no nordeste da Colômbia, na regiom de El Catatumbo, conhecido por abrigar a maior quantidade de plantaçons de coca por quilómetro quadrado do mundo, este 26 de agosto recebeu pola primeira vez na sua história a visita do Presidente da República. Gustavo Petro visitou o município de El Tarrá, centro nevrálgico desta regiom, apesar de, poucos dias antes da sua visita, a caravana da presidência ter sido atacada por grupos à margem da lei com armas de longo alcance.
O chefe de estado foi saudado polos aplausos dos moradores que aplaudírom o seu discurso quando falou da criaçom de umha universidade para a regiom, da construçom de infraestruturas rodoviárias e das conversaçons de paz com o sector cocaleiro. No seu discurso dixo que pediu ao “governo dos Estados Unidos para mudar a sua política antidroga conhecida como a ‘guerra contra as drogas’, que só na América Latina deixou um milhom de mortos nos últimos 40 anos e está a começar a causar 70 000 mortes por dia nos Estados Unidos, mas nom pola cocaína senom, antes bem, polo fentanil, outra droga inventada que nom é produzida na Colômbia, mas sim em Taiwan e na China […] O balanço é verdadeiramente negativo, é um fracasso”, assegurou.
O presidente Gustavo Petro pediu ao governo dos EUA “para mudar a sua ‘guerra contra as drogas’ que só na América Latina deixou um milhom de mortos nos últimos 40 anos”
Dous dias depois desta visita, por ocasiom do XXII Conselho Presidencial Andino, fixo o seu primeiro discurso como presidente estrangeiro do país. Foi ali que, entre outros temas, voltou a tratar a questom da “guerra às drogas” e assegurou que “esta realidade merece que a Comunidade Andina convoque umha conferência dos países da América Central, América do Sul e Caraíbas para discutir a política de drogas, avaliá-la, compará-la com os números, e ver se leva a umha soluçom, ou se, polo contrário, nos mergulha no fundo de um abismo violento, sangrento e antidemocrático”, concluiu.
A política antidrogas mais antiprohibicionista dos últimos tempos, foi a do ex-presidente Juan Manuel Santos que propujo a legalizaçom do consumo recreativo, mas o que propom o presidente Petro, ademais da legalizaçom do consumo, é a da produçom, o que converteria o sector numha indústria estratégica e provocaria umha viragem de 180 º na política exterior colombiana.
Modelo económico
Umha grande parte das propostas do Presidente Petro giram em torno da industrializaçom do país, incluindo a transiçom energética, inspirada, como ele tem dito repetidamente, pola pensadora Mariana Mazzucato; dela falou no ano passado num tweet, quando garantiu ela ser “a economista líder mundial hoje, (e) propom um novo pacto social entre os sectores público e privado baseado na equidade social e sustentabilidade ambiental; e umha rutura com o consenso de Washington”.
As posiçons económicas do Presidente Petro som reformistas, assegurando que o seu objetivo é “desenvolver o capitalismo na Colômbia”. Nom porque o adoremos, mas porque devemos superar o feudalismo na Colômbia, superar esta nova escravidom, superar as mentalidades atávicas, deste mundo de escravos, para chegar a um pluralismo económico”, garantiu o presidente naquele que foi o seu primeiro discurso como presidente eleito dos colombianos. O que Mazzucato propom é reformar o capitalismo considerando que a redistribuiçom da riqueza nom é tam importante quanto a criaçom desta riqueza e “umha vez criada a riqueza, através da inovaçom no sistema industrial, esta riqueza pode ser redistribuída entre a populaçom”, garantiu ele em entrevista aos meios de comunicaçom colombianos.
Esta necessidade parece mais premente no país deixado por Iván Duque, que segundo a revista Forbes em junho do ano passado tinha umha dívida total de “668 bilhons de pesos (151 mil milhons de euros), dos quais 61,35 % correspondem à dívida interna, enquanto 38,65 % pertencem à dívida externa do país”. A dívida passou de representar 36 % em janeiro do 2019 (quando começou o quatriénio Duque) a 57 % do PIB ao final do seu período, segundo indica o conceituado economista Salomón Kalmanovitz na sua coluna “O corrupto legado de Duque”.
As posiçons económicas do Presidente Petro som reformistas, assegurando que o seu objetivo é “desenvolver o capitalismo na Colômbia. Nom porque o adoremos, mas porque devemos superar o feudalismo na Colômbia para chegar a um pluralismo económico”
O jornal El Tiempo informava em agosto de 2020 que “o Banco da República vendeu dous terços das suas reservas de ouro num mês”, avaliados em 475 milhons de dólares. A falta de controlo nas despesas do governo de Duque refletiu-se no orçamento do processo de paz “umha investigaçom da Blu Radio atopou que cerca de 500 mil milhons teriam sido pagos em coima para 355 projetos” segundo informou o El Espectador numha editorial do dia 6 de julho, que no final se pergunta “e por que o dinheiro que ia ser gerido em 10 anos acabou por ser executado até 2022, com aprovaçom do Congresso e sançom presidencial” concluírom.
Iván Duque entrará para a história como o primeiro presidente a apoiar o envolvimento de militares na política nacional, militares como o General Eduardo Zapatero, quem ameaçou o candidato Gustavo Petro nas redes sociais, contribuindo para a polarizaçom das eleiçons. A hostilidade em relaçom ao candidato de esquerda foi evidente em muitas outras ocasions ao longo de todo o período da campanha, nom apenas mostrando apoio ao candidato do seu partido Federico Gutiérrez no primeiro turno, mas também Rodolfo Hernández, que passou na segundo volta contra Petro.
Na Colômbia, esta última campanha presidencial foi umha das mais árduas, num país que se destaca precisamente por ter umhas campanhas eleitorais particularmente agitadas. Em 1990 fôrom assassinados três candidatos presidenciais, na altura o grande inimigo da democracia era Pablo Escobar, mas nestas eleiçons os meios de comunicaçom centrárom-se na possibilidade de um governo de esquerda, polarizando a opiniom pública “a revista Semana […], tornou-se o órgao nom oficial da campanha do candidato que disputou a segunda volta contra Petro, Rodolfo Hernández”, como afirmou Diego Salazar na sua coluna no The Washington Post.
As semelhanças do triunfo de Gustavo Petro com o triunfo de Felipe González em 1982 som evidentes, segundo o sociólogo Pablo Muñoz Rojo, licenciado pola Universidade Complutense de Madrid, com sede na Colômbia, que assegura que o Estado espanhol “vinha de umha ditadura muito longa e depois de todo o processo de “transiçom” e pola primeira vez chegava ao poder um governo de esquerda. A Colômbia, sem ter tido formalmente umha ditadura, rompe, e pola primeira vez podemos falar de umha esquerda, ou polo menos de umha social-democracia, que chega a governar”.
O fenómeno político destas eleiçons, para além da figura de Gustavo Petro, foi o da sua fórmula vice-presidencial, que Muñoz Rojo destaca por causa da “figura simbólica que a França representa a todos os níveis na medida em que é umha mulher negra, que vem das classes trabalhadoras mais baixas, que foi empregada como empregada doméstica, que é mae solteira e que também sofreu tentativas na sua própria vida devido à liderança social que exerce”, salienta a socióloga.
No dia da sua tomada de posse, o gesto do rei Filipe na cerimónia foi bastante surpreendente, umha vez que ele nom ficou de pé na passagem da espada de Bolívar como o resto dos líderes; dado que a figura da monarquia para os colombianos é o símbolo da diplomacia mais rigorosa e dos bons costumes; ainda que também fixo com que a opiniom pública se lembrasse do dia em que o pai dele (ungido na autoridade que lhe dava a coroa que lhe colocara Francisco Franco), mandou calar um mandatário elegido democraticamente na Cimeira Ibero-americana do ano 2007. Em qualquer caso, Muñoz Rojo comenta que “o episódio nom tivo quase nengumha releváncia na Colômbia comparado com a importância que lhe foi dada ao outro lado do oceano”, no Estado espanhol onde a imprensa realizou umha grande cobertura “como se fôssemos o umbigo do mundo”.