Durante o estado de alarma e consequente quarentena provocada polo COVID-19, raro foi o dia em que nom se escuitavam aplausos desde as janelas, homenageando aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde que “luitam” contra o vírus dia trás dia. Muito pronto, esses mesmos aplausos tomárom cariz de reivindicaçom, quando começou a ser mais evidente que parte desta crise está relacionada com os cortes: na sanidade, nos centros, na vida… Há umhas semanas falávamos numhas conversas online “CapitalVsVida” com Aurora Magán e Eli Dosil, pessoal sanitário de Enfermeiras en Loita e Prosagap, e Rosario Iglesias, auxiliar de geriatria dumha residência privada, para que nos contassem a sua experiência de cuidados no meio da crise sanitária.
O governo de Núñez Feijóo leva anos cortando em matéria sanitária. Sem ir além, no ano 2012 o presidente da Junta assegurava que “dar de comer ou fazer a cama nom forma parte dos cuidados”. Nom parece estranho, entom, que na Galiza as externalizaçons, precariedade e privatizaçom sanitária levem anos sendo umha realidade. Durante o Coronavirus, a Asociación Galega pola Defensa da Sanidade Pública afirmou que nos lugares “onde o peso dos cortes e das privatizaçons tenhem sido mais importantes e onde dedica menor orçamento por habitante às necessidades sanitárias, estám a produzir-se situaçons mais dramáticas durante esta etapa excecional”. E se a situaçom já de por si é má nos hospitais, nas residências de pessoas idosas é ainda pior já que, como di esta mesma associaçom, “é um dos setores mais fortemente dependentes do capital privado e onde tem primado mais o interesse polo benefício que prestar umha verdadeira atençom às pessoas”.
A pandemia fijo mais evidentes esses cortes e precariedade laboral que levam anos a acontecer, mas para estas trabalhadoras isto nom é novo. “Nom é nada que nom tivéssemos antes”, conta Eli Dosil. “O que passa é que agora vemo-lo mais de frente, sobretudo a sociedade, nom já só as trabalhadoras. Mas o nosso problema é que por muito que se soubesse de antes, nom vemos que haja umha intençom de mudança por parte da administraçom. Mais do que gestores parece que temos marionetas políticas que estám a fazer o seu papel para deixá-lo tudo como está”.
A precariedade pom em risco trabalhadoras e pacientes
“Já antes faltava pessoal e material e agora que deveriam ter contratado mais gente perante esta crise nom o fam”, explica Rosario Iglesias. “Alegam simplesmente que nom há. As residências estám pensadas como armazém, isto é, nem lhe importam as pessoas idosas que vivem nelas, nem muito menos as trabalhadoras, só lhe importa lucrar-se. Aforram em tudo o que podem e isto implica que sempre temos sobrecarga de trabalho. Ademais, ainda que a limpeza nom corresponde com a nossa categoria profissional, obrigam-nos a fazer essa labor também. Por isso estamos ainda mais cansas e portanto somos mais propensas a cometer erros”, recalca.
Eli Dosil: “Vam-se fazendo parcelas que se concedem lentamente a empresas, sobretudo onde menos enfada”
No âmbito da enfermaria também se nota a precariedade. “As más condiçons de trabalho contribuem ao risco, com certeza, e mais ainda numha situaçom como a que nos ocupa”, conta Eli Dosil. “Nós figemos um comunicado ao Sergas através dos colégios de enfermaria”, explica Aurora Magán. “Ali propúnhamos que deixassem de lado a contrataçom por dias já que se nom estás acostumada, nom dominas bem o trabalho e, em conseqüência, tes mais erros e mais nesta situaçom extrema. E logo está o tema de usar-nos como ‘pessoa para tudo’ e ser vetor de transmissom. Se um dia estás a trabalhar com pacientes ‘sujos’ e ao dia seguinte te mandam a umha zona limpa sem saber se estás contagiada porque com a sobrecarga os EPIs nom se quitam com tanta calma, ou igual tes menos experiência, podes contagiar sem sabê-lo. E ainda assim chamam-nos histéricas”, denuncia a enfermeira.
E a isso há que lhe somar uns cortes que fam que algumhas parcelas do seu trabalho sejam externalizadas, com o que isto implica. “Temos até escasseza de roupa: eu tenho dous uniformes e tenho que lavá-los na casa porque nom tenho garantia de que no serviço de lençaria me dê tempo a mudar-me”, di Eli Dosil. Aurora Magán tem outra anedota que considera “esclarecedora”. “Se nas residências nom tenhem pessoal de limpeza especializado, nós temo-lo externalizado”, conta esta enfermeira. “O outro dia acabou-se o papel de maos pola manhá e ao dia seguinte voltei e seguia sem haver. Isto deve-se a que a empresa que leva o serviço tem um número de rolos concreto e como agora se está a gastar muito pola situaçom, limita-os para aforrar”.
Uns cortes que se figérom sem pressa mas sem pausa
“Aqui havia um plano e está a seguir o seu curso. Pouco a pouco fai-se mais patente”, denuncia Eli Dosil. “Vam-se fazendo parcelas que se concedem lentamente a empresas, sobretudo onde menos enfada. Por exemplo, causa menos alarma umha cozinha externalizada que a enfermaria, nom? Mas é igual de mau porque tudo tem que funcionar como umha cadeia. Se os interesses dalgumhas partes nom som os mesmos que os do resto do pessoal, algo falha. Os trabalhadores públicos temos um dever cara à sociedade e por isso somos reivindicativos, porque defender o púbico é a nossa obriga constitucional. Pola contra, nas empresas o dever está no lucro empresarial”, acrescenta.
“A pesar do que di Feijóo, tudo forma parte dos cuidados”, di Aurora Magán. A dieta, a limpeza… porém, já aceitamos que umha parte esteja em maos privadas. Fam-no pouco a pouco para que nom sejamos conscientes de golpe. Mas a sanidade privada é um comércio e os cuidados nom podem ser um negócio, e se o som é porque estám a tratar mal as trabalhadoras e aos pacientes, como acontece com as residências. Se a sociedade nom fai pressom, as pessoas que estám arriba nom vam fazer nada, porque esta é a sua forma de gestom, estar do lado do capital e nom da gente. Se lhes importassem de verdade as pessoas, fariam as cousas doutra maneira. Das Enfermeiras em Luita seguiremos na reivindicaçom e pedimos à gente que nos apoie, mas nom só com aplausos, senom saindo à rua connosco”.
“Esta crise sanitária está a mostrar que este modelo ao único que leva e à morte. Temos que reunir-nos e chegar a um acordo sobre o que fazer com os nossos cuidados”, explica Rosario Iglesias. “Detrás das externalizaçons há empresas muito fortes e se nom saímos à rua para reivindicar a proteçom do público e do nosso vam ganhar elas, coma sempre”.