Com tranquilidade e mais um sorriso, Ascensión Cambrón aparece caminhando polo passeio do porto de Sada. É umha dessas pessoas que transmitem calma e prestam muita atençom a todo o que a rodeia. Em galego, com marcado sotaque cordobês, explica o importante que é para as pessoas viver umha vida digna. Para isso, sustém, é imprescindível garantir um bom morrer. O seu ativismo atinge do plano intelectual, com obras como “A eutanásia: direito e deveres” (2013) ao organizativo, sendo atualmente a vozeira da associaçom Direito a Morrer Dignamente (DMD) na Galiza.
Desde os três anos em que Galiza conta com a Lei de Morte Digna, 7.000 galegas e galegos realizárom o seu testamento vital, um documento no qual a pessoa deixa constar como deseja ser tratada ao final da sua vida. Que opiniom tem dessa lei a Asociaçom do Direito a Morrer Dignamente (DMD) na Galiza?
A Lei de Morte Digna na Galiza foi pouco antes de suceder o caso de Andrea Lago (umha nena com umha doença neuro-degenerativa para a qual o pai e a nai solicitaram umha morte digna com o aval do comité de ética, umhas petiçons que fôrom ignoradas pola gerência do Hospital Clínico de Compostela até que entrou no jogo a pressom mediática) . Com essa normativa, reconhece-se a autonomia da paciente. Se o diagnóstico recolhe que nom existe umha soluçom à doença, outorgam os cuidados paliativos ou deixam morrer a paciente polo próprio passo da doença, bem no hospital bem na sua casa.
“A igreja controla as consciências igual do que os votos”
Por vezes, o critério fica entre o pessoal médico e a família. Caso existir unanimidade no grupo familiar, nom costuma existir problema, mas cada vez é mais difícil essa unanimidade e está bem que aconteça. Isto é umha mostra dumha sociedade plural e democrática. O que nom deveria acontecer é que decida o pessoal médico. Nos foros insistimos em que cada quem realize um documento de instruçons prévias que é de balde. Contodo, nós como associaçom defendemos a legalizaçom da eutanásia.
Por que é importante para vós legalizar a eutanásia?
Com a lei atual, pessoas como Ramón Sampedro nom teriam nengumha soluçom. Ou alguém com Esclerose Lateral Amiotrófica ou, em geral, qualquer pessoa com umha enfermidade degenerativa que irá vendo o seu próprio deterioramento nom sendo que morra dumha infeçom. A DMD pede que umha pessoa com umha patologia incurável, desde a sua liberdade, poida ser autorizada a que o pessoal médico lhe ajude a morrer dentro do sistema de saúde pública.
A sociedade está preparada para implementar umha lei que regule a eutanásia?
Está, sim. Mostra‑o um inquérito de Metroscopia do ano 2017 que demonstra que o 84 por cento da sociedade declarava que era necessário, já que interpretavam que é um benefício para os pacientes. Mas também o digo pola nossa experiência. Levamos anos a percorrer Galiza em diversas charlas e as pessoas reagem bastante bem.
A minha perceçom é que estes últimos dous anos houvo umha melhor receçom que a começos de 2010. Quando vês um familiar sofrer e nom existe soluçom para essa dor… Os avanços médicos contribuem ao prolongamento da vida e isso percebe-se, há quem nom quer viver com dor nem um nível alto de dependência. Os países que nom tivérom tanta influência do catolicismo já disponhem de leis que regulam a eutanásia.
Qual é o poder da Igreja neste tema?
A igreja controla as consciências igual do que os votos.
Perante isto, o que propom a DMD?
Vam-se fazer 21 anos da morte de Ramón Sampedro e queremos que esse dia, o 12 de janeiro, seja o Dia da Morte Digna na Galiza.
Que fai de Sampedro um referente de luita?
Estou segura de que Sampedro tinha claro a exemplaridade do seu caso. Ele pedia a despenalizaçom de quem lhe ajudasse a morrer. Fijo umha demanda a um tribunal em Catalunha, mas desestimárom-lha por residir em Junho. Tivo que ir à Audiência Provincial da Corunha, a quem se dirigiu. E desestimárom-lhe a demanda sem ir ao fundo do caso, ao igual que o fijo o Tribunal Constitucional.
Havia juízes e curas que lhe diziam que deixasse de comer, umha receita mui cruel. Ele só podia mover a cabeça. Eu mesma lhe dixem que se ele queria morrer e ele respondeu que o que nom queria era viver assim. Também nos oferecemos a arrecadar fundos para ir à Suíça e ele dixo que nom, que queria morrer vendo o mar. Tivo que mudar-se a Boiro para morrer ali. Sofreu muito, mas era consciente da sua luita. Nengum direito caiu do céu. Necessita-se da luita.
Como chegastes à DMD?
Estudei direito na faculdade com especial interesse polos direitos humanos e dumha posiçom política marxista, polo que creio numha interpretaçom dos direitos baseada no seu exercício. Antes de entrar na associaçom já tinha umha especial preocupaçom polo bom morrer. Na Constituiçom espanhola recolhe-se o direito à vida mas nom a obriga a viver. O suicídio está despenalizado, nom devemos esquecer que antes a igreja ficava com as suas propriedades.
“O calendário dos direitos nom está fechado"
Há que entender que podo deixar de ter ganas de viver se tenho umha doença e nom vou melhorar… Um homem evangélico dixo-me um dia: “deus deu-me umha tarefa, agora já nom a podo cumprir polo que chegou o meu fim”. Os teólogos católicos apostam nesta linha de discurso. Aos poucos, o direito ao bom morrer vai calando na sociedade e avançando no seu caminho, tal e como sucedeu com outros direitos conquistados pola sociedade. O calendário dos direitos nom está fechado. Vamos exigindo.
Como vos organizades?
Há umha estrutura na Galiza e aqui percebo que existe mais sensibilidade do que noutros lugares. Trabalhamos de balde. As pessoas sócias apoiamos, acompanhamos porque às vezes encontramos pessoal médico que nom segue os desejos das pacientes ou chegam a nós pessoas que estám soas e querem garantir que vam poder comunicar-se. Contamos com profissionais que nos assessoram e, ademais, percorremos a Galiza dando charlas em faculdades ou nos chamam de partidos, sindicatos… O importante é visibilizar e conhecer os direitos que temos e os que poderíamos ter.