2 de maio de 2014, Odessa (Ucránia). Esta data e lugar mudam a vida de Ramiro Gómez. Naquela altura o Ramiro era um moço de Valhecas (Madri), militante antifascista, que como muitas fica comocionado pola matança a maos de ultranacionalistas ucranianos de 48 pessoas pró-russas na Casa dos Sindicatos. Decide que nom pode ficar à margen do conflito e implica-se através da Brigada Internacional Rubén Ruiz Ibárruri. Como figeram os brigadistas internacionais na segunda república espanhola, decide ajudar as pessoas do Donbass e meses depois do acontecido em Odessa, chega ali para ajudar às repúblicas populares de Donbass e Lugasnk. Desde que estourou a guerra, expom em palestras e meios que o início do conflito vem de longe e alerta do perigo dum discurso único.
Defendes que o Donbass é chave para entender esta guerra. O que acontece em 2014?
É o estourido de mais umha guerra da OTAN e dos EUA polo controle da economia mundial. O 2014 é a cara mais dura da guerra, antes dos pactos de Minsk em que começa Europa a tentar mediar na resoluçom do conflito ainda que seguia dando milhares de euros para armar Ucránia. Nessa altura a guerra só estava no Donbass.
Para mim é a data em que me vinculo com este território. Supom um antes e um depois que me levou para umha situaçom brutal: estar arrodeado numha cidade da qual nom podes sair. Imagina: sem comunicaçom, sem subministro de água, com sensaçom de sede constante, de sujidade, com casas de banho atascadas, sem esgotos, sem subministro de alimentos, sem recolhida de lixo e com um bombardeio constante. Porque o exército russo frena o avance das primeiras linhas do frente e tira a artilharia pesada, através dos pactos de Minsk, das principais cidades mas há muitas vilas que seguiam em primeira linha da frente até hoje coma Goloskav, que o exército ucraniano segue a bombardear.
Qué é o que che fai pôr os olhos neste conflito?
Primeiro chama a minha atençom o movimento Maidán. Há que ser claras: quem capitaneia este movimento som nazis. Estám armados e financiados polo estrangeiro, sobretodo polos EUA. O que aqui era vendido polos meios como protestos nom o eram. Trata-se dum derrocamento armado que linchou pessoas: Atacárom sés do PC, sequestram, torturam e matam o secretário deste partido, atacam pessoas racializadas… Eu sinto-me interpelado por todo isto. Ao fixar-me nas imagens destas supostas protestas identifico simbologia názi: o número 1488, cruzes célticas, esvásticas… Ao ver bandeiras vermelhas e pretas penso que podem ser compas mas descubro que pertencem ao exército insurgente (UPA), a rama militar dos nacionalistas ucranianos responsáveis da morte de 200.000 judeus entre 1943 e 1950. Nom é um movimento pró-europeu mas umha estratégia mundial muito mais complexa.
Baixo este movimento, acontece a matança de Odessa.
Este é o ponto de nom retorno para a sociedade ucraniana. Acho que estava todo orquestrado e foi umha manobra para dar pé à polarizaçom. Ensina a cara mais extrema do conflito e levou para um confronto armado, que era o que se procurava. Imediatamente depois disto, as repúblicas declaram a independência, fam um referendo e ganham por maioria. Mas o governo é deposto por umha junta de nazis que tomam o poder sem eleiçons, desenvolvem umha operaçom antiterrorista para acabarem com os separatistas do leste e estoura a guerra. Mas para isto necessitárom Odessa.
O 2 de maio de 2014 na cidade de Odessa ‑onde a populaçom é de maioria rusa- organiza-se um jogo de futebol entre duas equipas com muitos seareiros nazis e celebra-se umha manifestaçom unitária para reivindicar a unidade da pátria ucraniana. Há gente com bandeiras de futebol e ucranianas, mas com um perfil reacionário muito variado.
Que é o que leva à matança?
No meio da manifestaçom saem do nada supostamente uns 30 encarapuçados que atacam 2000 ou 3000 pessoas que havia na manifestaçom, e que depois desaparecem trás da polícia. Isto desata umha turba de encarapuçados com paus que se dirigem ao jardim de Kulikovo, onde estava o acampamento anti-Maidán. Habitualmente ali havia entre 2000 e 3000 pessoas mas ao ser feriado só se encontravam umhas 200. Ao repararem que nom podem proteger-se da turba, tentam refugiar-se na Casa dos Sindicatos. Mas a turba nom se detém, som atacados com coquetéis molotov e com machetes. Há imagens de gente que ao ver o lume salta polas janelas e som rematadas com tubarias. Outras som linchadas vivas. Quando chega a policia conta 50 pessoas calcinadas mas esse dia desaparecem 150. A polícia nom detém os nazis, detém pessoas que estavam no acampamento anti-Maidán. A vítima mais nova era um rapaz de 15 anos das juventudes comunistas que foi queimado vivo. Quando vejo isso, decido buscar a forma de chegar ali para fazer o que figesse falha. Sentim que tinha que pôr-me a disposiçom de um povo que estava a sofrer umha injustiça.
Como chegas ali e que começas a fazer?
Cheguei primeiro a Moscovo e ia disposto a todo. Estivera meses preparando-me física e psicologicamente. Chegar ali foi umha odisseia, mas consigo chegar ali e atravessar o cerco. Cheguei a Lugansk pois era o que mais perto estava da fronteira, umha cidade pequena e mineira com a que me vinculei muito. Chego pola estrada desde Crasnadom e nesse momento é o último ponto que lhe falta o exército ucraniano para arrodear completamente Lugansk. Nesse momento a estratégia era chegar a Donestk, o qual arrodeiam, instalam as suas baterias de artilharia e massacram a populaçom.
Entom em 2014, a estratégia de Ucránia era massacrar a populaçom civil do Donbass?
A sua estratégia era a limpeza étnica, êxodo e destruçom. Desde há muito tempo falava-se de que era umha populaçom improdutiva, um lastre para os interesses ucranianos. Na principal canle de televisom da Ucránia saia um homem em prime time a dizer: “por mui cruel que poda soar, há gente que a sua vida nom interessa e que deve ser eliminida”. Esse vídeo pomo-lo sempre nas nossas palestras para que se entenda o que fazia Ucránia. Eles queriam massacrar e provocar um êxodo massivo para tomar estas cidades, repovoá-las com colonos ucranianos e criar umha nova indústria, confiando numha ajuda europeia que nom iam ser de graça… A sua ideia era achegar-se a Europa, cortar laços com Rússia e expulsar essa gente de ali.
“Em 2014, Ucránia queriam massacrar e provocar um êxodo massivo para tomar estas cidades, repovoá-las com colonos ucranianos e criar nova indústria, confiando numha ajuda europeia que nom ia ser de graça”
Mas eles tenhem presentes as brigadas internacionais e o que aconteceu na segunda república?
Totalmente, de facto antes de poder entrar no Donbass fum retido pelo exército russo. Dixem que era antifascista e que fora para combater a injustiça que se está cometendo, responderam-me que se me lembrava das brigadas internacionais. Isso foi o salvo-conduto para entrar. Mostrei umha tatuagem das brigadas internacionais e o homem abraçou-me e emocionou-se. Foi um dos exemplos de solidariedade mais bonitos da história: vinheram 55.000 homens e mulheres a ajudar-nos a combater o fascismo. No Donbass eles sabiam onde estava Madrid e sabiam dizer: No pasarán! Em Rúsia há museus dedicados às brigadas internacionais, aqui esquecemo-lo.
O que figeste ali?
Nom estavam preparados para a minha chegada, ninguém podia ensinar-me russo e tampouco havia combates corpo a corpo. Eu perguntava se depois queriam estabelecer umha república socialista, coletivizar a terra e os meios de produçom mas o mais urgente era viver. Sobreviver às bombas, volver dar água à populaçom e fazer que a gente nom morresse. As milícias tentavam cuidar dos que ficaram. Figem ajuda humanitária com elas: reparto de comida, apagar lumes, sacar gente dos cascalhos… E documentar para explicar o que acontecia. Fotografei cenas terríveis. Ali comprovei a maldade do exército ucraniano, que nom atacava posiçons militares pois nom as havia. Queria matar civis. Agora eles dim que Rússia está fazendo o mesmo.
“Eu perguntava se depois queriam estabelecer umha república socialista, coletivizar a terra e os meios de produçom mas o mais urgente era viver: volver dar água à populaçom e que a gente nom morresse “
Como atuou o exército ucraniano?
Por colocar algum exemplo dos mais graves: fotografei umha família inteira rebentada pola metralha quando fugiam a Rússia numha cena aterradora, um velhinho chorando porque encontrou a sua companheira com partes amputadas… A maldade mais extrema. Tomavam um povo, saqueavam as lojas, matavam o dono, violavam a filha e penduravam as crianças. Vim gente crucificada, queimada viva. Tenho vídeos do batalhom Azov aforcando umha mulher grávida e o seu homem. Eles publicavam orgulhosos estes vídeos na rede mas agora estám todos retirados.
Que sabes deste batalhom?
É mais um dos 40 batalhons nazis que há, ademais de na guarda nacional há muitos elementos nazis. Nasce como um batalhom de voluntários mas estavam pagos por Kolomoisky, um famoso oligarca ucraniano. Estes oligarcas criam os seus próprios exércitos para defender Ucránia. Ao principio ali confluírom milhares de nazis e converteu-se num símbolo dos nazis de todo o mundo. Agora vemos que La Sexta explica os passos a seguir para unir-te voluntariamente a estes batalhons, enquanto que se és um antifascista que vai ajudar gente depois de umha agressom da OTAN encontras-te com a polícia a deter-te e a imprensa a criminalizar-te.
E o Batalhom Tornado?
É a máxima expressom do ódio à humanidade. De facto, detiveram-nos temporariamente por encontrar nos seus telemóveis vídeos de violaçons a bebés diante das suas maes. Agora estám a combater de novo.
O que pensas de Putin?
É um inimigo político, nom deixa de ser um fascista. O programa político de Rússia Unida é mui parecido ao de Vox. Comenta-se que a campanha de Hazte Oir estava financiada polo partido de Putin. E, claro, nom compro a sua retórica antifascista. Os antifascistas russos estám mui reprimidos por ele. A atual intervençom russa nom é por solidariedade com o Donbass. Se assim fosse, houvesse feito isto em 2014. Mas a gente do Donbas que levava anos aguentando o que já relatei agora está contente porque por fim as suas zonas foram liberadas do exército ucraniano.
Em toda guerra, há guerra também polo relato. Esta guerra já está ganhada pola Ucraánia?
É a primeira vez que acontece este despregue mediático, e isto tem que fazer-nos pensar aos movimentos sociais. Já dá igual o que aconteça, podem fazer que todo o mundo pense completamente o contrário. Quando houvo o 2 de maio em Odessa saírom títulos falando de mais de 50 mortos em choques com os separatistas pró-russos. Escreve-se de tal maneira que parece que é a gente que morreu a que atacou.
Todo o mundo esta alinhando-se num lado. E com estes meios de comunicaçom que nom permitem outra mensagem e nom param de mentir sistematicamente, afinal perguntas a alguem pola rua e di que os russos som o demo mas ninguém sabe das crianças, dos velhos ou dos bombardeios de hospitais realizados polo exército ucraniano desde há oito anos, financiados por Europa e o nosso dinheiro.