Temos, mais umha vez, o país em venda. Como se nom fosse avondo com o espólio energético, os apartamentos turísticos e os ‘turriristas’1. Já nom lhes chega com levar-nos a água, o monte, as cidades. A nova frente aberta tem a ver… com o clima. Com o mercado sempre pendente de onde estará a próxima talhada os meios confirmárom qual seria: se somarmos o medo climático ao ‘marisco baratíssimo’ e à turistificaçom maciça a nossa terra é umha veia ainda sem explorar.
Este verao foi mais ou menos benevolente. Com toda a península sob alerta de calor e seca, na Galiza pudemos manter-nos afastados da situaçom do ano passado, em que as temperaturas ultrapassárom os 40º durante muitos dias. Isto nom trai qualquer certeza, apenas deixa entrever o que pode vir (e vai tocar aqui na mesma), mas deu pé a que desse início umha curiosa campanha de propaganda nos meios e nas redes sociais. Que tem como leit-motiv os ‘refugiados climáticos’.
Cuidado com o termo, que inocência, pobrinhos, serám etíopes a fugirem das secas? Mulheres de comunidades arrasadas polo desmatamento das suas florestas? A sério, vam abrir a mao com isso? Nom abrem, nom.
As aldeias e vilas contam com um grande número de vivendas baleiras, mas é cada vez mais difícil se fazer com umha moradia, bem para alugar, bem para comprar
Nos dias de mais calor deste verao fiquei surpreendida com certas mensagens que os meios publicavam ao fio do afortunadas que somos na Galiza, e é que refresca polas noites, por vezes chove, como nom iam aproveitar para botar-lhe umha mao a quem todo o compra ou vende? A bicoca está mesmo a terminar e cumpre criar um novo nicho de mercado do que poder arrapanhar.
Na RTVE intitulavam ‘El norte, refugio climático: la compra de casas en Galicia aumenta un 30%’; em La Voz de Galicia (sempre atenta às inovaçons do mercado) entrevistavam umha gestora imobiliária que defendia buscar casas para os pobres ricachos «Busco casas en toda Galicia como refugio climático para extranjeros». E resumos de relatórios científicos bem aproveitados para augurar um futuro no que vaiamos acolher (prévio pagamento, claro, nom nos serve qualquer tipo) aquelas pessoas que passem calor.
Desde há decénios que a populaçom tem vindo a decrescer e as aldeias e vilas contam com um grande número de vivendas baleiras, mas é cada vez mais difícil se fazer com umha moradia, bem para alugar, bem para comprar. Falo apenas desde a minha experiência recente, mas pessoas proprietárias rejeitam vender a preços razoáveis na espera de quem venha e ponha o dinheiro por riba da mesa para o antes chamado ‘turismo rural’ e agora habitaçom turística, e que será o tal chamado ‘refúgio’. Entre herdeiras desligadas da sua origem rural e que som apenas possuidoras de metros quadrados para a venda, a perspetiva de poder tirar rendimentos de umha carga imobiliária é saborosa avondo. E se lho vendem como soluçom fácil, diante dum problema que começa a preocupar o grosso da populaçom, muito mais. Um cenário apocalíptico e desesperado fai mais rápido o intercámbio monetário. E justifica, outra volta, tirar proveito
E logo nós? Ou já nom contam com um ‘nós’? Ainda existimos, nom lhes deu para nos apagar.
- ‘Turriristas’ é um termo extraordinário. A amiga de quem aprendim sabe do que fala. ↩︎