A revista Caleidoscópica vem de apresentar o seu terceiro número, que tem por tema principal ‘Originalidade e reciclagem’, onde exploram e refletem sobre a criaçom cultural da cópia e a reutilizaçom. Este novo número chega após dous exemplares em que as caleidoscópicas pugérom o foco no território e nos corpos. Os seus trabalhos podem-se consultar e descarregar na página caleidoscopica.gal.
Como nasce a equipa da Caleidoscópica? Que foi o que vos levou a criar este projeto?
O trabalho da fotografia pode ser bastante individual e vimos numha revista a oportunidade de realizar trabalhos conjuntos e aprender individualmente. No início a gestom da ideia levou-nos bastante tempo, mas assim que conseguimos concretizar o processo foi todo melhor.
Cara a onde colocam o olho as caleidoscópicas para escolher as temáticas?
Vemos o que somos. Achamos que numha época com tal protagonismo da liguagem visual reflexionar arredor da própria imagem, especialmente sendo fotógrafas, era uma tarefa necessária. O primeiro número foi quase de autodefiniçom, umha chuva de ideias arredor de quem somos e onde é que estamos. O segundo, mais centrado, seguia nesta linha dumha perspetiva crítica, arredor do corpo. O terceiro, que vimos de apresentar, “originalidade e reciclagem”, está mais centrado no próprio meio.
Caleidoscópica é umha revista em pdf. Como é trabalhar com este formato?
O formato digital nom é apenas um pdf para descarga. Nós disponibilizamos a leitura online, que simula o formato físico, com leitura em horizontal. Ademais, permite maior interatividade, com ligaçons a outros meios. Ainda, o acesso gratuito com licenças nom privativas democratiza e fai mais acessível o conteúdo, já que umha revista impressa como esta, seria muito custosa e a sua produçom também implicaria bastante esforço. Desta forma centramos toda a atividade na parte mais criativa e interessante.
Neste último número o tema principal é ‘Originalidade e Reciclagem’. Numha primeira escuita isto fai pensar em decrescimento, ou mesmo no ‘feísmo’… O que vos sugere a vós?
A cultura, dum ponto de vista antropológico, baseia-se na cópia, assim aprendemos a falar, a caminhar, a relacionarmo-nos. A repetição é uma das bases da memória e da inteligência coletiva. É isso que fazemos o tempo todo: reproduzirmos ou reciclarmos significados. Num momento de saturaçom visual como o atual, repensarmos e reutilizarmos as imagens é um processo empoderador e de transfomaçom: dar novos significados. Vemos a reciclagem como umha oportunidade, e questionamos a ideia de originalidade.
A fotografia é a ferramenta por excelência para representar e construir imaginários, neste sentido apropriarmo-nos do médio é necessário e transformador
No último editorial falades de umha ‘ecologia visual’, achades necessário este conceito num mundo em que cada vez há mais imagens ao nosso arredor?
Este conceito está tirado do teórico catalám Joan Fontcuberta, que fala do passo da imagem como escrita à imagem como linguagem. Com a democratizaçom dos dispositivos móveis, as fotografias utilizam-se como oralidade, por exemplo, tirar um selfie para dizer onde estás. Falar de ecologia neste contexto tem a ver com pôr filtros, com peneiras, igual que no jornalismo; há muita informaçom, o importante é eliminar o ruido.
Considerades a fotografia umha ferramenta para a transformaçom social?
A tecnologia transformou os nossos hábitos e nom é inocente. É a ferramenta por excelência para representar e construir imaginários, neste sentido apropriarmo-nos do médio é necessário e transformador, sim. Mas para a transformaçom social nom abonda com o artístico, a autoorganizaçom é imprescindível em todos os campos.