“Non se quere suxerir neste capítulo que todo isto que nel se especifica acontecese por ser protervo o franquismo (que si o foi). Case todo, neste período, fíxose aquí de forma semellante a como se fixo na Europa occidental”
(Historia contemporánea da destrución da natureza en Galiza, Xurxo Pintos).
Contam os arqueólogos que há ao redor de 10.000 anos um aquecimento climático propiciou a chamada Revolução Neolítica. Em diferentes pontos do planeta e a diferentes ritmos, tribos de caçadores-coletores foram deixando o nomadismo para se irem progressivamente sedentarizando e desenvolvendo a pecuária e a agricultura. Foi assim como os nossos antepassados começaram a roubar terras aos bosques para as converterem em prados e leiras. Uma desflorestação que progrediu com a passagem do tempo conforme aumentou a pressão demográfica. Além disso, aqui, como no resto da Europa, com escassas exceções, as matas virgens acabaram praticamente por desaparecer, transformando-se em florestas antrópicas, bosques modificados pola mão humana.
Por outra parte, o uso de armas de fogo facilitou a caça abusiva daqueles animais que julgávamos concorrentes ou fonte de proteínas. Foi isto que, entre os séculos XIX e XX, levou ao extermínio no nosso país de espécies como o lince-euroasiático (Lynx lynx), a cabra-brava (Capra pyrenaica), o veado (Cervus elaphus) ou o rebeço (Rupicapra pyrenaica).
Mesmo assim, o fruto desta “domesticação” secular da paisagem galega foi um mosaico agro-florestal com alta biodiversidade e essencialmente integrado em dinâmicas de equilíbrio ecológico.
A situação mudaria de forma radical a partir dos anos 50 do século passado, com o início dum processo de modernização económica e com uma série de intervenções estatais nos setores agropecuário e florestal
A situação mudaria de forma radical a partir dos anos 50 do século passado, com o início dum processo de modernização económica e com uma série de intervenções estatais nos setores agropecuário e florestal.
Nessa década, o Património Florestal do Estado empreende um plano de reflorestação maciço com espécies de crescimento rápido, fundamentalmente pinheiros e eucaliptos, expropriando para isso mais da terceira parte dos montes comunais. As consequências foram funestas: incêndios, emigração, colapso demográfico… Depois viria a instalação das celuloses de Ponte Vedra e Návia, indústrias altamente poluentes para o meio marinho.
O eucalipto acabou por ser percebido como a única alternativa económica viável, convertido quase numa monocultura, que agora, com o Eucaliptus nitens, ameaça também com invadir as zonas frias do interior.
Com estes antecedentes, não deve estranhar que padeçamos vagas periódicas de incêndios há cinco décadas, concentradas na metade sul do território, abundante em montes comunais e com clima mais seco.
A entrada na Comunidade Económica Europeia em 86 e a aplicação da Política Agrícola Comunitária acelerou o abandono do campo. Entre 85 e 97 sofremos a perda de 200.000 empregos agrários…
O que restava do mundo rural ainda ia sofrer uma intensificação agropecuária, com geração de grandes volumes de enxurro e um uso elevado de praguicidas e fertilizantes químicos.
Em cerca de 20% da superfície galega foram feitas concentrações parcelares, em geral, pouco respeitosas com a natureza, pois têm eliminado sistematicamente refúgios da biodiversidade, como valados e sebes. Exemplo especialmente dramático foi a destruição em 94 do arvoredo autóctone que circundava a antiga lagoa de Antela. Mais um desastre ambiental que se somou à própria dessecação feita em 58 do que era, talvez, o maior lago de água doce da Península. Já agora, a esta dessecação seguiram outras na Terra Chã (Cospeito, Espinheira, Caque…).
Durante o franquismo construíram-se mais de trinta barragens para a produção de energia hidroelétrica nas bacias dos principais rios
Entretanto, seguindo o eixo marcado pola autoestrada do Noroeste, a população foi-se concentrando na fachada atlântica, arredor de cidades e vilas carentes em muitos casos dos necessários planos de ordenamento urbano e de estações de tratamento de águas residuais adequadas.
Uma sociedade industrializada precisa de enormes quantidades de energia e a Galiza foi destinada dentro do estado a ser subministradora principal desta.
Durante o franquismo construíram-se mais de trinta barragens para a produção de energia hidroelétrica nas bacias dos principais rios. Isto implicou a inundação de terrenos agrícolas e florestais, a alteração dos padrões erosivos, a desfiguração de elementos singulares da paisagem (como a cascata do Ézaro ou o canhão do Sil), para além de prejudicar gravemente as espécies de peixes migradoras, como o salmão (Salmo salar) ou o praticamente desaparecido esturjão-europeu (Acipenser sturio).
As centrais termoelétricas das Pontes e Meirama foram feitas nos anos setenta para aproveitarem jazigos de lignito, um carvão rico em enxofre e portanto origem de chuvas ácidas. Estas e outras indústrias mineiras, como as louseiras ou as pedreiras de granito, são exemplos de atividades extrativas com forte impacto ambiental.
A instalação em 64 da refinaria na Crunha, numa costa tão perigosa para a navegação como a galega, está diretamente relacionada com as marés negras que sucessivamente assolaram o litoral, resultado dos naufrágios dos petroleiros Urquiola, Andros Patria, Aegean Sea e Prestige
A instalação em 64 da refinaria na Crunha, numa costa tão perigosa para a navegação como a galega, está diretamente relacionada com as marés negras que sucessivamente assolaram o litoral, resultado dos naufrágios dos petroleiros Urquiola, Andros Patria, Aegean Sea e Prestige.
Até aqui um breve resumo do passado e do presente. Certo que na atualidade algo mudou. Teoricamente, há uma maior consciência ambiental e alguns dos erros cometidos anos atrás tentaram ser corrigidos. Porém, a lógica económica é inexorável e poucos são os que estariam dispostos a renunciar à nossa sociedade consumista, predadora de ingentes quantidades de matérias-primas.
Ora bem, cabe certo otimismo. Estamos a viver uma Terceira Revolução Industrial, a Revolução da Informação que sem dúvida vai propiciar soluções tecnológicas para muitas das ameaças que hoje em dia pesam sobre o Planeta.
Não obstante, na Galiza, no futuro é previsível continuem a piorar circunstâncias tais como o despovoamento (incêndios, eucaliptização…) ou como o efeito barreira provocado polas grandes infraestruturas de comunicação (com fragmentação das populações de diferentes espécies, perda da diversidade genética e portanto risco de extinção)… E como o problema global que mais nos preocupa e para o qual não vemos solução, o das bioinvasões. Caminhamos para uma Neopangeia, uma espécie de continente único, muito mais homogéneo e muito menos diverso.
E tudo isto junto com um aquecimento climático que parece imparável.… Uffff!