
As saarianas voltam a mostrar a sua inquebrável vontade de resistir a ocupaçom marroquina perante o silêncio e a incapacidade da comunidade internacional para facilitar a resoluçom do conflito. O cessar-fogo de 1991 rompia-se o passado mês de novembro logo de que forças militares de Marrocos atacassem civis desarmados na zona de Guerguerat e a Frente Polisário declara-se o estado de guerra. Semanas depois, Donald Trump reconhecia a soberania de Rabat sobre o Saara Ocidental numha decisom contrária à legalidade e com a qual só piorava umha situaçom já crítica
“O último que sabemos é que, de momento, todo segue igual. Segue a guerra que Marrocos começou. Estám a derrubar o muro e é umha situaçom mui delicada, tanto para saaráuis que vivem nos acampamentos como para os que estám fora, que nom podem viajar”. Segundo explica a presidenta da associaçom Solidariedade Galega com o Povo Saaráui (Sogaps), Maite Isla, as notícias que chegam do Saara Ocidental ‑a onde estes dias se deslocou a delegaçom saaráui na Galiza- som preocupantes. A crise alimentar, derivada do encerramento de fronteiras, é tremenda”, denuncia.
A guerra entre a Frente Polisário e Marrocos foi declarada o passado 13 de novembro. Esse dia, o presidente da República Árabe Saaráui Democrática (RASD) e líder do Polisário, Brahim Gahli, anunciava num comunicado a fim do cessar-fogo acordado em 1991 e o “reinício das hostilidades para defender os nossos direitos legítimos”, declarando o estado de guerra. Imediatamente, o Exército de Libertaçom Popular Saaráui (ELPS) mobilizava-se na defesa da soberania do seu povo. O anúncio chegava depois de que essa madrugada forças militares marroquinas atacaram civis saaráuis desarmados que se manifestavam pacificamente em Guerguerat.
A guerra entre a Frente Polisário e Marrocos foi declarada o passado 13 de novembro. Esse dia, o presidente da República Árabe Saaráui Democrática (RASD) e líder do Polisário, Brahim Gahli, anunciava num comunicado a fim do cessar-fogo acordado em 1991
O passo fronteiriço de Guerguerat, via de acesso terrestre à Mauritánia, é um dos pontos de mais tensom entre Marrocos e o Polisário. A estrada que atravessa a regiom é umha ligaçom chave com o resto do continente, que Rabat emprega ilegalmente. Com este protesto na fenda, o povo saaráui pretendia, mais umha vez, visibilizar a ocupaçom ilegal marroquina e reclamar o cumprimento dos acordos de 1991, nos quais se inclui a celebraçom de um referendo de autodeterminaçom e que, quase trinta anos depois, seguem sem aplicar-se.
“Umha provocaçom”, resume a presidenta de Sogaps, que crê que Marrocos “pensava que lhes ia sair melhor do que lhes saiu”. Porque, como lembra, “o povo saaráui nom está disposto a seguir vivendo outros 45 anos mais num deserto inóspito quando tem o que por justiça lhe corresponde, que é a sua terra: o Saara Ocidental”.
Trump e Marrocos
Menos de um mês depois da rutura do cessar-fogo, o 10 de dezembro, o presidente dos EUA, Donald Trump, fazia via tweet um anúncio que constituía umha nova provocaçom ao povo saaráui: o seu país reconhecia a soberania marroquina sobre o Saara Ocidental, afirmando que “a proposta de autonomia séria, credível e realista de Marrocos é a única base para umha soluçom duradoura que garanta a paz e a prosperidade”. O reconhecimento chegava em troca do estabelecimento de relaçons diplomáticas entre Marrocos e Israel.
O passo fronteiriço de Guerguerat, via de acesso terrestre à Mauritánia, é um dos pontos de mais tensom entre Marrocos e o Polisário
Com Trump a deixar a presidência em janeiro, o percurso desta decisom é uma incógnita. “Pessoalmente, nom acredito que vaia ter consequências. Essas manifestaçons e esse reconhecimento nom tenhem validez nengumha, e assim estám convencidos os saaráuis de que vai ser”, opina Isla, ainda com precauçom: “Dos EUA pode-se esperar tudo, mas pensamos que foi só umha forma de agradecimento pola questom de Israel. Nom seria normal que tivesse validez”.

Solidariedade da Galiza
O ataque marroquino despertou, mais umha vez, a solidariedade galega com a causa do povo saaráui. As concentraçons convocadas pola delegaçom galega e por Sogaps, no dia 19 de novembro em Compostela e umha semana depois nas sete cidades, reunírom centos de pessoas nas ruas, apesar das limitaçons que provoca a situaçom sanitária. Além de denunciar a violaçom do cessar-fogo, as manifestantes pedírom umha intervençom decidida da ONU para fazer cumprir a legalidade no Saara Ocidental.
A solidariedade do internacionalismo galego com o povo saaráui foi constante ao longo das mais de quatro décadas de conflito, e assim segue a ser diante dos últimos acontecimentos. “Desde a Galiza há um apoio total”, di Maite Isla, “tanto que eu penso que somos dos que mais força fazemos neste sentido. Somos solidários para achegar recursos e também no âmbito político e sindical”.
Além do apoio social, a presidenta de Sogaps celebra que à volta desta questom haja “consenso político” e destaca que o povo saaráui “tem o apoio de todos os grupos” com representaçom no Parlamento galego. Precisamente só uns dias antes da rutura do cessar-fogo em Guerguerat, o dia 10 de novembro, constituía-se na câmara galega, trás a sua renovaçom nas eleiçons do passado mês de julho, o novo intergrupo parlamentário “Paz e Solidariedade com o Povo Saaráui”, composto por umha representante de cada um dos partidos. Só três dias depois deste encontro, a necessidade de nom esquecer a longa luita saaráui pela liberdade fazia-se patente de novo.
O governo espanhol, pola sua parte, está a responder com a tibieza e inoperância de costume, refém dos interesses em jogo na sua relaçom com Marrocos. “Nom surpreende. Já sabemos o que há com este governo e com todos os distintos governos que passárom ao longo dos anos”, di a presidenta de Sogaps. Na associaçom som conscientes de que ao respeito do conflito saaráui “prevalecem outros interesses, que nom som precisamente os da justiça, senom os económicos”. Uns interesses que, acha, “som equivocados, porque ao Estado espanhol o que mais lhe convém é um Saara livre e governado polos saaráuis e nom por Marrocos”. “Entretanto, vam passando os distintos governos. Já sabemos o que passa sempre: agora está Podemos e vemos a diferença entre o que diziam quando nom governavam e o que fam quando estám governando”, lamenta.