- No le enseñes eso a la niña que se puede hacer daño!
Foi o que dixo o meu avô a meu irmao à vez que lhe mostrava o cinto ameaçando‑o quando aos sete anos quigem que me ensinasse umha chave de Judo.
Há que dizê-lo todo: o meu avô sabia o que falava. Sabia o que era fazer dano. Maltratou a minha avoa psicológica e economicamente desde que a conheceu, luitou no bando franquista na guerra civil e estou certa que daria umha malheira sem duvidá-lo a aquele rapaz do instituto que tentou forçar-me sexualmente num portal umha noite de festa aos dezassete anos. E enquanto todo isto aconteceu eu, com certeza, nom falei. Nom falei e mantivem a compostura coma umha boa nena, umha nena calada.
Assim medrei defendendo que “a paz é o caminho”, crendo que as mulheres éramos livres, segura de que conseguíramos a igualdade, pensando que existiam os unicórnios voadores e que o mundo seria melhor se todas comêssemos flores. Hoje sigo comendo flores, guardo um unicórnio rosa na mesinha de noite e tenho a certeza de nom ser livre, sentir-me oprimida e um monte de dúvidas de sobre qual é o meu caminho como mulher; o meu caminho coma mulher feminista.
Se calhar a violência de baixo a cima e com ausência de privilégios é autodefesa e é incomparável a qualquer outro tipo de violência?
O número de feminicidios, violaçons, agressons, vexaçons… vividas polas mulheres dia a dia demostram que o machismo segue vivo, atuando e alimentado por um sistema que o necessita para seguir existindo.
Das poucas cousas que aprendim na faculdade foi que se algo nom funciona deveríamos tentar fazer totalmente o contrário.
Liberando a mente de responsabilidades frente às maldades do mundo mas sendo consciente da necessidade de açom vou-me permitir divagar, divagar coma se fosse umha mulher feminista sem medos nem prejuízos num ambiente seguro e proactivo…
Pode ser que as mulheres da nossa história levem utilizando durante séculos formas de luita consideradas violentas?
Pode ser que na maioria dos casos figeram de um modo “subtil” e silenciado?
Pode ser que simplesmente tenhamos a oportunidade de continuar os legados das nossas mulheres?
Pode que devêramos deixar de autojulgar-nos e autocensurar-nos com os parâmetros do sistema heteropatriarcal para simplesmente atuar?
Se calhar a violência de baixo a cima e com ausência de privilégios é autodefesa e é incomparável a qualquer outro tipo de violência?
Se calhar já violentamos unicamente por nomear-nos feministas?
Se calhar houvo um dia que foi considerado violência reclamar o voto feminino?
Se calhar qualquer resposta que nom seja a submissom é considerada umha resposta violenta por quem nom se baixou dos seus privilégios?
Se calhar há formas de exercer autodefesa meditada, analisada, dirigida e coletivizada que resulte efetiva para sobreviver as violências do heteropatriarcado?
Talvez o sentimento de responsabilidade que temos com e para os feminismos nom nos deixa ver com claridade as estratégias que podemos utilizar como seres humanos completos que somos?
Talvez a violência gera mais violência e estes pensamentos som umha mostra disso?
Talvez nom temos que ser sempre as mulheres as que baixemos a cabeça e nom contestemos?
Talvez os feminismos nunca estivérom unidos e sempre fôrom diversos e em continua construçom?
Talvez os feminismos nunca gozárom de boa fama?
Talvez nom somos responsáveis de todo o mau que aconteça com os nossos atos?
E se esta reflexom é fruito de um ressentimento sentimental ou do síndrome pré-menstrual?
E se escrevo isto porque acabo de saber que a minha prima está no hospital logo de ser apaleada por quem era a sua parelha perante a sua filha de oito anos…
E se esta nom é a minha história nem esta é a minha opiniom?
Pode que só estivesse umha tarde de sábado qualquer num centro autogestionado na Corunha com outras moças falando do divino e o humano e apanhei algumhas notas…
Pero e se esta fosse a história de todas nós? E se esta fosse a opiniom de todas nós?
Todas sabemos que o pessoal é político e a nossa política, igual que a nossa história, fazemo-la e escrevemo-la nós.
Desejando ler o novo número da revista Revirada, ‘Fartas’, que foi a origem desta reflexom e que verá a luz o dia 1 de Outubro para seguir fazendo-nos outras tantas perguntas…