
Há tempos, Ourense era apenas mais uma cidade: há pouco tempo, tínhamos até um Centro Histórico que, aos poucos, tentava recuperar o ímpeto de bairro contemporáneo habitável quase livre de automóveis, ideal para a vida das famílias do bairro continuar lado a lado com a de comerciantes, artesaos e hoteleiros, e mostrar com orgulho o seu património e a sua oferta cultural e de lazer.
Há também pouco tempo, celebrávamos o centenário da Coral de Ruada e da Geraçom NÓS, os 50 anos do Cineclube Padre Feijoo, os 40 anos do grupo de teatro Sarabela, ou os 25 anos do Festival de Cinema, e ocupámo-nos de promover a vigência das memórias de Eduardo: Blanco Amor, de Jose Ángel Valente, de Prego de Oliver, de Quessada, Arturo Baltar e Faílde, e claro, também de Otero, Cuevillas e Risco.
Ser a terceira cidade da Galiza, considerada a “Atenas” galega polos nossos antepassados, nom serve de proteçom contra os tempos bárbaros do populismo e tinha que nos chegar a desgraça da política: uma estranha formaçom de ideologia difusa criada a partir do balcom dum bar já esquecido, e com um perigoso brinquedo materno em forma de canal de TV, começou umha infeçom lenta, mas progressiva, absolutamente ambivalente, protagonizada por alguns quixotes contra o caciquismo, que, repetiam, iriam acabar com a dinastia Baltar enquanto brincavam sem regras com eles, ora criticavam-nos, ora compadreavam, durante anos… quase 20, até colocar como autarca o seu proprietário e líder, curiosamente com o apoio e co-governo dos populares ourensanos. Será verdade entom que eles nunca estivérom sós?
Ficamos a saber entom que Ourense acabaria nom só com a declaraçom de emergência cultural, mas também com a ambiental, social, vicinal e até mesmo política: o apoio incondicional do PP (e do co-governo) para manter a Deputaçom levou-nos definitivamente às páginas diárias da Tragédia: ficaríamos definitivamente sem Banda Municipal, sem programaçom no Auditório, sem Festival de Cinema, sem Pórtico do Paraíso, sem Sala Valente, sem Museu Municipal, sem OMIC, ameaçando o FITO , MOTI e a MITEU, sem Arquivo Municipal, sem Universidade Popular, desmantelando os centros cívicos de conteúdo, sem programaçom de verao, sem festas, com as termas encerradas e a joia da Chavasqueira queimada há 2 anos e meio.
Foi em abril deste annus horribilis que por iniciativa do grupo municipal do BNG reuniu no Liceo a primeira assembleia da futura Emergência Cultural, a ela assistírom grupos, empresas, profissionais e voluntários, e a partir daí convergimos até hoje com outras sensibilidades agredidas como amigos das termas, os das árvores, os da Universidade Popular, etc.
Talvez sejam “maus momentos”, como cantava Coppini, mas nom temos medo da óbvia estratégia destrutiva de quem nos governa, nem do caos futuro que se seguirá nestes dous anos que restam de legislatura: o povo de Ourense tem memória e, embora coincida com o tempo da pandemia, nom vai cometer o mesmo erro duas vezes.