Com o galho da sentença judicial do passado verám tem-se falado, comentado, celebrado e discutido de avondo acerca do paço de Meirás. A tal sentença, embora nom fosse ainda firme (como vem de demonstrar umha mais recente resoluçom dos Tribunais ordenando indenizar a família alegadamente usurpadora), decerto achançava o caminho para a devoluçom do complexo residencial, até entom em mans da familia Franco, ao património público; todo um éxito, sem dúvida, para o movimento cívico-reivindicativo que, artelhado a partir de Sada e o conjunto da comarca das Marinhas, vinha reclamando há mais dumha década a reversom da propriedade ao seu legítimo dono: o povo galego. Nom é de mais lembrarmos aqui o papel basilar desempenhado a esse respeito polo paciente trabalho de pesquisa empreendido por Carlos Babío Urkidi e Manuel Pérez Lorenzo Lito, plasmado finalmente no livro de significativo título Meirás: un pazo, un caudillo, un espolio, publicado pola Fundaçom Galiza Sempre em 2017. O seu estudo, com efeito, vinha despejar qualquer dúvida que pudesse ainda restar acerca da ilegitimidade do ato de apropriaçom das torres e jardins anexos por parte da família do ditador, bem servida pola cumplicidade do círculo de prebostes comarcáns chefiado por Barrié de la Maza.
Ora, o processo serviu também para pôr a nu um aspeto de que nom se adoita falar tanto: a dimensom do ladroíço franquista, entendendo por tal um modus operandi consubstancial ao fascismo espanhol —e conotativo do mesmo— a abranger nom apenas a família do tirano de El Pardo como um amplo elenco de autoridades e persoeiros significados do falangismo e do nacional-catolicismo que, desde o mesmo dia da implantaçom da ditadura, aproveitárom a conjuntura para amassar fortunas na base da roubalheira e o descomunal esbulho dos republicanos vencidos. Nom é o momento nem o lugar para abordarmos em profundidade tam espinhento assunto, mas sim ao menos para o trazer à baila porquanto o estudo de Babío e Lito deixa demonstrado que a apropriaçom indevida nom ficou restrita, no caso de Meirás, ao prédio das torres, jardins e mais construçons anexas, como que implicou o despejo forçoso e sem consideraçom algumha de propriedades rurais vizinhas ao recinto, além da incorporaçom ao paço de elementos ornamentais, escultóricos e arquitetónicos literalmente subtraídos de outros lugares.
O estudo de Babío e Pérez Lorenzo demonstra que a apropriaçom indevida implicou o despejo de propiedades rurais vizinhas ao recinto
E, já que nessas estamos, semelha conveniente lembrar que inúmeras propriedades e recursos roubados aos perdedores da mal-chamada guerra civil continuam hoje ilegitimamente usufruídos polos sucessores e herdeiros daqueles vulgares assaltantes de 1936/39 (e posteriores), sem que os flamantes governos auto-proclamados de esquerdas do Reino de Espanha tivessem nunca a menor intençom de mover palha a este respeito. Nom digamos já a Junta neofranquista de Sam Caetano, que neste caso se manifestou a favor da devoluçom ao património público só de maneira tardia, subindo-se ao carro dum movimento que levava muito tempo em andamento, mas sem que nos constem (salvo erro ou omissom pola minha parte) iniciativas do poder galego visando compensar os afetados por outros casos de esbulho cometidos polo fascismo espanhol entre 1936 e 1975 e, muito menos, castigar quem roubou. Nesse contexto, o assunto Meirás nom é senom a ponta de um iceberg de colossais dimensons que nengumha autoridade parece decidida a tentar remover. Por quanto tempo ainda?